Com o ritmo de novos casos diários a aumentar e com os hospitais à beira do colapso, a Palestina deposita na vacina contra a Covid-19 a esperança de conseguir travar a pandemia. No entanto, e mesmo depois de o vizinho Israel ter já iniciado uma enorme campanha de vacinação, os palestinianos continuam à espera: apenas em março deverão chegar os primeiros lotes da AstraZeneca à Cisjordânia e à Faixa de Gaza.
Apesar de esta campanha de vacinação incluir os colonatos judaicos na Cisjordânia, os quase cinco milhões de palestinianos que vivem nesse território e na Faixa de Gaza não irão receber a vacina que poderia mantê-los a salvo da Covid-19.
Os palestinianos estão, assim, dependentes da Autoridade Palestiniana – que gere partes da Cisjordânia sob acordos de paz assinados nos anos 1990 – para que esta lhes forneça vacinas contra o SARS-CoV-2.
A ministra palestiniana da Saúde já disse esperar que os primeiros lotes de vacinas da AstraZeneca cheguem à Cisjordânia e à Faixa de Gaza no início de março deste ano – três meses depois de Israel ter dado início à campanha de vacinação.
“Assinámos um acordo com a AstraZeneca para obtermos dois milhões de doses”, assegurou à Al Jazeera a ministra May al-Kaila. Cada dose custará à Autoridade Palestiniana cerca de quatro euros, pelo que serão investidos 8,2 milhões de euros no total.
Tendo em conta que cada pessoa precisa de receber duas doses da vacina de modo a conseguir ficar imunizada contra o vírus, os dois milhões de doses apenas serão suficientes para vacinar um milhão de palestinianos. Segundo as autoridades da Palestina, a vacinação vai ser gratuita e voluntária.
Até ao momento, mais de 148 mil palestinianos testaram positivo à Covid-19 e mais de 1600 morreram devido à doença na Cisjordânia e na Faixa de Gaza desde o início da pandemia. O número de infeções tem estado a aumentar consideravelmente, pelo que o mês de março pode ser demasiado tarde para começar a administrar vacinas.
De acordo com dados das autoridades de saúde dessas regiões, o número de infeções diárias tem ultrapassado quase sempre as mil ao longo do último mês – três vezes mais do que os números registados em julho do ano passado.
Cinco farmacêuticas não deram resposta à Palestina
A Autoridade Palestiniana espera que, para além dos dois milhões de doses já previstas, cheguem também em março mais lotes de vacinas no âmbito do COVAX, uma colaboração da Organização Mundial de Saúde, da Comissão Europeia e de França que prometeu fornecer vacinas a 92 países de “baixo e médio rendimentos” para dar resposta à crise pandémica.
“O COVAX vai fornecer-nos 20 por cento das vacinas de que precisamos”, avançou à Al Jazeera Yaser Bouzieh, funcionário do Ministério palestiniano da Saúde.
Ainda assim, as autoridades de saúde sabem que as doses não serão suficientes para toda a população. Por essa razão, o Ministério contactou os seis fabricantes das vacinas que provaram ser eficazes contra a Covid-19: a da Pfizer, Moderna, AstraZeneca, a russa Sputnik V, a da Johnson & Johnson e, por fim, a chinesa Sinovac.
Apenas a AstraZeneca deu resposta aos pedidos palestinianos. “Somos um país pobre, mas estamos a tentar proteger as pessoas a todo o custo”, lamentou a ministra da Saúde, May al-Kaila.
Os responsáveis pela Saúde esperam que sejam conseguidos mais lotes de vacinas nos próximos meses e acreditam que, até maio, dois dos cinco milhões de palestinianos estarão vacinados. A prioridade serão profissionais de saúde e idosos.
No entanto, mesmo que outras farmacêuticas deem resposta ao problema palestiniano, impõe-se outro desafio: em toda a Cisjordânia existem apenas dois locais de armazenamento capazes de assegurar a conservação das vacinas que têm de estar a temperaturas negativas extremas, como é o caso da vacina da Pfizer.
A esperança geral na Palestina é a de que a vacinação contra o SARS-CoV-2 possa evitar mais confinamentos, o colapso do sistema de saúde e uma quebra ainda maior da já fragilizada economia.
Nos últimos quatro meses de 2020, o desemprego subiu quase 30 por cento. A ocupação nos hospitais está prestes a atingir o seu máximo, mesmo depois de cinco hospitais terem sido abertos para pacientes Covid-19 na Cisjordânia desde o início da pandemia.
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