O principal partido da oposição na Guiné Equatorial acusou hoje o Governo de estar a dar prioridade à elite política na vacinação contra a covid-19, deixando de fora os trabalhadores da saúde e os grupos de risco.
A Guiné Equatorial recebeu, na semana passada, as primeiras 100 mil doses de vacinas contra a covid-19 da farmacêutica chinesa Sinopharm, destinadas, segundo as autoridades de Malabo, a imunizar 4% da população (45 mil pessoas), com prioridade para os trabalhadores do setor da saúde, os maiores de 60 anos, doentes crónicos e funcionários de atendimento ao público, como professores, seguranças, empregados bancários ou vendedores de mercados.
Entre os primeiros vacinados estão o vice-presidente e filho do chefe de Estado, Teodoro Nguema Obiang Mangue, - o primeiro a ser vacinado - e o Presidente da República, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, de 78 anos, e a sua mulher.
O partido Convergência para a Democracia Social (CPDS) denunciou hoje, em comunicado, o que classificou como o "zénite da discriminação", adiantando que além dos dois governantes foram também vacinados, o secretário de Estado da Defesa, a presidente do Parlamento, o secretário-geral do partido do Governo (PDGE) entre outros "homens de mão do regime".
"Graças ao falecimento de um dos cozinheiros de Obiang depois de ter recebido a vacina, ficou a saber-se que todo o pessoal ao serviço do Presidente tinha sido vacinado", aponta o CPDS.
O principal partido da oposição questiona os critérios para estas prioridades, considerando que os governantes "querem proteger-se antes do resto da população".
"Está claro que as 100 mil doses trazidas para 50 mil pessoas serão para os governantes, incluindo chefias militares, as suas famílias e pessoal de serviço. Depois, se sobrar alguma coisa, será para os trabalhadores da saúde e algum outro sortudo", adiantou o CPDS.
"Os cidadãos terão de esperar pela próxima doação para poder vacinar-se", acrescentou.
Para o CPDS, a distribuição das vacinas vem apenas confirmar o critério que vem sendo usado pelas autoridades desde o início da pandemia, nomeadamente com os testes PCR, necessários para os cidadãos circularem, ou com o remédio Covid Organics trazido de Madagáscar.
"A prioridade do governo não é a população mais vulnerável, mas a classe governante. O regime de Obiang discrimina os equato-guineenses mesmo nos momentos de maior adversidade", sublinhou o partido.
A Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), anunciou esta semana que dentro de três semanas receberá dois milhões de doses de vacinas da farmacêutica chinesa Sinopharm, que permitirão imunizar 80% dos seus cerca de 1,3 milhões de habitantes.
Segundo os dados mais recentes da pandemia na Guiné Equatorial, atualizados em 16 de fevereiro, o país registou 116 novos casos positivos do novo coronavírus nos sete dias anteriores e um morto, elevando o número acumulado de casos para 5.747 e de óbitos para 88 desde 14 de março de 2020.