Mais de 100 jornalistas despedidos em Portugal desde início da pandemia revela sindicato
Mais de 100 jornalistas foram despedidos em Portugal desde o início da pandemia de covid-19, que agravou problemas num setor já com dificuldades de sustentabilidade, alertou hoje a presidente do Sindicato dos Jornalistas.
"No caso português as previsões não são boas. É um setor que já tinha muitos problemas de sustentabilidade, que foram agravados com a pandemia, e que agora enfrenta despedimentos coletivos, `lay-off`, empresas com dificuldades", deu conta a presidente do sindicato, Sofia Branco.
A responsável falava, na cidade da Praia, no âmbito de uma conferência/debate sobre o jornalismo em tempos de pandemia, organizado pela Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), para assinalar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se assinala.
"Sinceramente, não prevejo boas notícias para o setor neste e no próximo ano", sobretudo quando estes apoios extraordinários deixarem de existir", comentou a também jornalista da agência Lusa, que foi uma das oradoras da conferência.
"Vamos ter um setor mais reduzido, menos diverso, muitos jornalistas independentes não terão aguentado", previu a jornalista da agência Lusa, que foi uma das oradoras na conferência.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas antecipa também uma diminuição no número de jornalistas em Portugal, dando conta que até agora mais de 100 profissionais já foram despedidos, prevendo-se para breve o terceiro despedimento coletivo em grupos diferentes.
No ano passado, o Governo português aprovou o `lay-off` simplificado para fazer face à crise provocada pela pandemia da covid-19, com a presidente do sindicato a reconhecer que é "muito útil" no imediato, mas salientou que protege muito pouco os trabalhadores.
"Depois do `lay-off` ou uns meses depois, as empresas já podem fazer um despedimento coletivo, ora, a medida devia pressupor muito maior segurança", afirmou Sofia Branco.
O `lay-off` simplificado consiste num apoio às empresas de manutenção dos contratos de trabalho.
Os trabalhadores têm direito a receber dois terços da remuneração, assegurando a Segurança Social o pagamento de 70% desse valor, sendo o remanescente suportado pela entidade empregadora.
Mesmo com todas essas dificuldades agravadas com a pandemia da covid-19, a presidente disse que os jornalistas e órgãos de comunicação social têm prestado um "bom serviço", embora reconheça que é preciso melhorar e fazer uma reflexão.
"No geral o jornalismo cumpriu a sua missão de informar a população numa altura muito complexa, em que a informação é ainda fundamental. Isso o jornalismo em Portugal fez", avaliou a dirigente sindical.
Se numa primeira fase disse que a comunicação social "reagiu muito bem", nesta que considera ser uma segunda fase propõe que os jornalistas estejam mais centrados em contar histórias, estarem menos dependentes das fontes oficiais e ter outras perspetivas e outros ângulos.
Relativamente ao jornalismo em Cabo Verde, Sofia Branco mostrou-se agradada por saber que os profissionais da classe estão a refletir sobre estes assuntos. "É muito interessante que tenham consciência de que é preciso pensar no que estão a fazer".
E também sublinhou o facto de o impacto laboral e empresarial ainda não ser tão significativo tal como acontece em Portugal. "Isso é muito bom e vamos esperar que assim se mantenha".
No seu discurso na abertura da conferência, o presidente cessante da AJOC, Carlos Santos, disse que volvidos mais de 14 meses desde o início da pandemia em Cabo Verde a organização ainda não recebeu qualquer notificação de despedimento de nenhum jornalista e os meios de comunicação social públicos e privados não recorreram ao `lay-off`.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.203.937 mortos no mundo, resultantes de mais de 152,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.977 pessoas dos 837.457 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.