Japão regista mais mortes por suicídio num mês do que por Covid-19 em todo o ano
No Japão, as estatísticas demonstram que no mês de outubro morreram mais pessoas por suicídio do que por Covid-19 em todo o ano. Segundo os dados oficiais, em outubro registaram-se 2.153 mortes por suicídio, mais 78 do que o total de óbitos por Covid-19 contabilizados no Japão desde o início da pandemia.
Há muito tempo que o Japão tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo. Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Japão registou, em 2016, uma taxa de mortalidade por suicídio de 18,5 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média global anual (10,6 por 100 mil habitantes). A taxa do Japão foi a segunda mais elevada desse ano na região do Pacífico Ocidental, sendo apenas ultrapassada pela Coreia do Sul, que registou uma taxa de 26,9 suicídios por 100 mil habitantes. Em Portugal, a taxa foi de 14 suicídios por 100 mil habitantes em 2016.
No entanto, nos dez anos anteriores a 2019, o número de suicídios diminuiu no Japão. No ano passado, o país contabilizou cerca de 20 mil suicídios, o menor número desde que as autoridades de saúde começaram a contabilizar, em 1978.
A pandemia veio inverter esta tendência. O desemprego, o isolamento social e a ansiedade estão a afetar a saúde mental das pessoas em todo o mundo e no Japão, a Covid-19 apenas veio acentuar um problema crónico. O Japão é também o único país do G7 onde o suicídio é a principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 39 anos. Os suicídios entre menores de 20 anos têm vindo a aumentar mesmo antes da pandemia, segundo o Ministério japonês da Saúde.
Segundo as estatísticas do Governo japonês, só no mês de outubro morreram mais pessoas por suicídio do que por Covid-19 em todo o ano. O número mensal de suicídios agravou-se em 2.153 nesse mês – o maior aumento deste ano – e o número total de óbitos por Covid-19 é de 2.075, segundo a Universidade Johns Hopkins.
O Japão é uma das poucas potências económicas a divulgar os dados relativos ao suicídio. Os números mais recentes dos EUA neste âmbito, por exemplo, remetem a 2018. Por este motivo, os especialistas alertam que os números do Japão demonstram uma tendência sobre o impacto das medidas de restrição na saúde mental que pode ser idêntica ou ainda mais grave noutros países.
“Nós nem tivemos um confinamento a nível nacional e o impacto da Covid-19 é mínimo em comparação com outros países, mas ainda assim vemos este grande aumento no número de suicídios”, disse Michiko Ueda, professora e especialista em suicídios. “Isto sugere que outros países podem registar um aumento semelhante ou um número ainda maior de suicídios no futuro”, explicou a professora universitária à CNN.
Aumento desproporcional entre as mulheres
Os dados disponibilizados pelo Governo japonês demonstram ainda uma tendência crescente de suicídios entre o sexo feminino. Embora representem uma proporção menor do total – dos 17.219 suicídios registados até outubro, 67 por cento são referentes a homens – o aumento de suicídios afetou desproporcionalmente as mulheres. Os suicídios entre o sexo feminino passaram de 495 em janeiro para 851 em outubro, um número cerca de 83 por cento superior ao mesmo mês do ano passado. Por sua vez, os suicídios masculinos aumentaram cerca de 22 por cento no mesmo período.
Tal como explica a CNN, as mulheres representam uma percentagem maior do total de trabalhadores part-time em estabelecimentos comerciais, de hotelaria e alimentação – setores que têm sido especialmente atingidos pela pandemia.
“O Japão tem ignorado as mulheres”, disse Eriko Kobayashi, de 43 anos. “Esta é uma sociedade onde as pessoas mais fracas são as primeiras a ser eliminadas quando alguma coisa má acontece”, acrescentou Kobayashi, que já tentou suicidar-se por quatro vezes.
Koki Ozora, um estudante universitário japonês, criou uma linha direta para apoio à saúde mental em março e explica que recebe, em média, mais de 200 chamadas por dia, a maioria de mulheres.
“Elas perderam o emprego e precisam de criar os filhos, mas não têm dinheiro nenhum. Então tentaram o suicídio”, disse Ozora à CNN.
O estudante de 21 anos explica que em abril, as chamadas mais comuns eram de mães desesperadas, preocupadas em criar os seus filhos, com algumas a confessar mesmo a intenção de matar os próprios filhos. Atualmente, Ozora explica que recebem maioritariamente mensagens de mulheres que perderam os empregos e estão com dificuldades financeiras, mas também de vítimas de violência doméstica.
“As mulheres enviam este tipo de mensagens quase todos os dias e estão a aumentar”, afirma Ozora, que explica que o aumento destas denúncias se deve à pandemia.
Especialistas alertam para aumento de suicídios
Em comparação com outros países, as restrições no Japão têm sido relativamente relaxadas. O país declarou estado de emergência no início da pandemia, mas nunca impôs um confinamento rigoroso.
Porém, nas últimas semanas, o Japão tem vindo a registar recordes diários de novos casos de Covid-19. A 19 de novembro, o primeiro-ministro japonês anunciou que o país está em “alerta máximo” depois de ter registado um novo máximo de infeções diárias.
No entanto, nos dez anos anteriores a 2019, o número de suicídios diminuiu no Japão. No ano passado, o país contabilizou cerca de 20 mil suicídios, o menor número desde que as autoridades de saúde começaram a contabilizar, em 1978.
A pandemia veio inverter esta tendência. O desemprego, o isolamento social e a ansiedade estão a afetar a saúde mental das pessoas em todo o mundo e no Japão, a Covid-19 apenas veio acentuar um problema crónico. O Japão é também o único país do G7 onde o suicídio é a principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 39 anos. Os suicídios entre menores de 20 anos têm vindo a aumentar mesmo antes da pandemia, segundo o Ministério japonês da Saúde.
Segundo as estatísticas do Governo japonês, só no mês de outubro morreram mais pessoas por suicídio do que por Covid-19 em todo o ano. O número mensal de suicídios agravou-se em 2.153 nesse mês – o maior aumento deste ano – e o número total de óbitos por Covid-19 é de 2.075, segundo a Universidade Johns Hopkins.
O Japão é uma das poucas potências económicas a divulgar os dados relativos ao suicídio. Os números mais recentes dos EUA neste âmbito, por exemplo, remetem a 2018. Por este motivo, os especialistas alertam que os números do Japão demonstram uma tendência sobre o impacto das medidas de restrição na saúde mental que pode ser idêntica ou ainda mais grave noutros países.
“Nós nem tivemos um confinamento a nível nacional e o impacto da Covid-19 é mínimo em comparação com outros países, mas ainda assim vemos este grande aumento no número de suicídios”, disse Michiko Ueda, professora e especialista em suicídios. “Isto sugere que outros países podem registar um aumento semelhante ou um número ainda maior de suicídios no futuro”, explicou a professora universitária à CNN.
Aumento desproporcional entre as mulheres
Os dados disponibilizados pelo Governo japonês demonstram ainda uma tendência crescente de suicídios entre o sexo feminino. Embora representem uma proporção menor do total – dos 17.219 suicídios registados até outubro, 67 por cento são referentes a homens – o aumento de suicídios afetou desproporcionalmente as mulheres. Os suicídios entre o sexo feminino passaram de 495 em janeiro para 851 em outubro, um número cerca de 83 por cento superior ao mesmo mês do ano passado. Por sua vez, os suicídios masculinos aumentaram cerca de 22 por cento no mesmo período.
Tal como explica a CNN, as mulheres representam uma percentagem maior do total de trabalhadores part-time em estabelecimentos comerciais, de hotelaria e alimentação – setores que têm sido especialmente atingidos pela pandemia.
“O Japão tem ignorado as mulheres”, disse Eriko Kobayashi, de 43 anos. “Esta é uma sociedade onde as pessoas mais fracas são as primeiras a ser eliminadas quando alguma coisa má acontece”, acrescentou Kobayashi, que já tentou suicidar-se por quatro vezes.
Koki Ozora, um estudante universitário japonês, criou uma linha direta para apoio à saúde mental em março e explica que recebe, em média, mais de 200 chamadas por dia, a maioria de mulheres.
“Elas perderam o emprego e precisam de criar os filhos, mas não têm dinheiro nenhum. Então tentaram o suicídio”, disse Ozora à CNN.
O estudante de 21 anos explica que em abril, as chamadas mais comuns eram de mães desesperadas, preocupadas em criar os seus filhos, com algumas a confessar mesmo a intenção de matar os próprios filhos. Atualmente, Ozora explica que recebem maioritariamente mensagens de mulheres que perderam os empregos e estão com dificuldades financeiras, mas também de vítimas de violência doméstica.
“As mulheres enviam este tipo de mensagens quase todos os dias e estão a aumentar”, afirma Ozora, que explica que o aumento destas denúncias se deve à pandemia.
Especialistas alertam para aumento de suicídios
Em comparação com outros países, as restrições no Japão têm sido relativamente relaxadas. O país declarou estado de emergência no início da pandemia, mas nunca impôs um confinamento rigoroso.
Porém, nas últimas semanas, o Japão tem vindo a registar recordes diários de novos casos de Covid-19. A 19 de novembro, o primeiro-ministro japonês anunciou que o país está em “alerta máximo” depois de ter registado um novo máximo de infeções diárias.
À medida que os casos aumentam, são esperadas restrições mais exigentes. Os profissionais de saúde têm alertado para uma possível vaga que se pode intensificar nos meses de inverno. Caso isso aconteça, o impacto na saúde mental “pode ser enorme”.
Desde o início da pandemia, o Japão contabilizou 148.945 casos de infeção e 2.075 óbitos.