Aumentar a capacidade de testes para a Covid-19 pode prevenir novos casos de infeção, evitar mais hospitalizações, melhorar a gestão de recursos e poupar milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde. São as conclusões de investigadores portugueses divulgadas esta terça-feira.
De acordo com os investigadores da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, é "urgente" triplicar o número de testes realizados como medida no combate à infeção pelo novo coronavírus em Portugal.
"Elevar a atual taxa de 1000 testes para uma taxa de 3000 testes por milhão de habitantes permitirá poupar mais de quatro milhões de euros, só em hospitalizações evitáveis (correspondendo a mais de 900 hospitalizações nos próximos 10 dias), o que se traduzirá em menor pressão para o SNS, mais vidas salvas e menos oportunidades de contágio", esclarece o estudo divulgado esta terça-feira.
Com o objetivo de "criar novos conhecimentos que apoiem a tomada de decisão em saúde", o grupo de trabalho designado COVIDcids concluiu, assim, que o aumento da capacidade de testes para a Covid-19 é uma "estratégia custo-efetiva, capaz de gerar poupanças diretas na ordem dos milhões de euros em hospitalizações", explica em comunicado João Fonseca, diretor do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da FMUP.
Considerando as recomendações da Organização Mundial da Saúde para que "os governos ampliem os testes" e o "sucesso da Coreia do Sul em lidar com a infeção", este estudo de avaliação económica visa demonstrar que "a deteção precoce de casos em consequência de testes em larga escala, pode prevenir novas infeções" e mais hospitalizações.
Mais testes, mais benefícios
Para estes investigadores os "benefícios reais subjacentes à massificação de testes por Covid-19 poderão ser ainda maiores do que os estimados, uma vez que, neste estudo, não foram tidas em conta questões ligadas à produtividade e aos custos de oportunidade".
"O facto de ter mais hospitalizações em doentes com infeção Covid-19 leva a que exista competição por recursos de saúde, que, nesta altura, são escassos, deixando de estar disponíveis para doentes com outras patologias. Acrescem previsíveis decréscimos nos custos dos testes com a entrada de novos concorrentes no mercado e com a ação dos reguladores", explica, também em comunicado, Francisco Rocha Gonçalves, especialista em Economia da Saúde da FMUP.
No entanto, há que ter em conta que "os custos não devem ser a única ou sequer a principal variável a pesar nas decisões políticas", embora "os resultados para os doentes subjacentes à simulação económica também denotam benefícios de saúde claros".
Para estes investigadores portugueses, estes resultados podem ser "mais um estímulo a um alargamento da quantidade de testes realizados", em linha com as recomendações da OMS, com "as intenções manifestadas nos últimos dias pelo governo, e com os exemplos de sucesso de países como a Coreia do Sul ou a Noruega".
É urgente e necessário "um esforço imenso e imediato no sentido de alargar a capacidade de realização de testes" em todo o país e recorrer a todo o sistema de saúde, alertam os investigadores.
Além disso, "a sociedade civil pode e deve mobilizar-se e colaborar em iniciativas de identificação de casos, reduzindo assim o número de contactos e, consequentemente, de novos infetados", apela Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP.
O estudo - realizado por Bernardo Sousa Pinto, João Almeida Fonseca, Altamiro Costa Pereira e Francisco Nuno Rocha Gonçalves - destaca, assim, os possíveis efeitos líquidos da redução de custos da ampliação dos testes em Portugal, "apoiando a importância de aumentar a capacidade de teste no sistema de saúde o mais rápido possível", para que possam ser evitadas mais hospitalizações, resultando numa "menor pressão sobre sistema de saúde e em melhores resultados para os pacientes".