Covid-19. Reino Unido tem mais vacinas do que necessita

por Inês Moreira Santos - RTP
Leszek Szymanski - EPA

As doses de vacinas contra a Covid-19 que o Reino Unido já tem são mais do que suficientes para garantir a vacinação até ao final de 2021. Fontes da indústria farmacêutica garantem que o governo britânico pode doar algumas doses a outros países que também necessitam.

Os países da União Europeia andam a tentar gerir os atrasos das entregas das vacinas da Pfizer e da Moderna e, ao mesmo tempo, negociar as doses das primeiras remessas com a AstraZeneca. Paralelamente, o Reino Unido já tem mais vacinas do que necessita, avança o Times esta quinta-feira.

Segundo fontes da indústria farmacêutica citadas pelo jornal britânico, o governo de Boris Johnson garantiu as doses necessárias para cumprir os seus objetivos e espera, mesmo assim, que os acordos com as empresas farmacêuticas continuem a ser cumpridos.

O primeiro-ministro britânico assegurou, na quarta-feira, estar confiante de que as ameaças da União Europeia de interromper o abastecimento de vacinas não iriam ter sucesso, uma vez que acredita que as empresas farmacêuticas vão cumprir os acordos firmados com o Reino Unido.

Segundo o Times, o país vai receber o equivalente a cinco doses de vacina por cada habitante, gerando, assim, um excedente que pode vir a ser doado a países que precisam do medicamento e têm mais dificuldade a ter acessoContudo, a capacidade de vacinação da União Europeia está muito aquém da britânica e, esta semana, Bruxelas acusou a Astrazeneca, uma das principais fornecedoras do Reino Unido, de não cumprir os acordos, acusando a empresa de desviar algumas das doses das fábricas britânicas da empresa destinadas à Europa para o Reino Unido.

Johnson garantiu, entretanto, que a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em colaboração com a Universidade de Oxford, "continua a ser fabricada em quantidades crescentes no Reino Unido", e os tempos de produção garantidos "continuarão a melhorar".

No entanto, quando questionado sobre os atrasos nas entregas da farmacêutica para os países da União Europeia, disse confiar nos contratos que o Reino Unido e que não tinha nada com essas questões.

"Essa é uma questão entre os nossos amigos da União Europeia e da AstraZeneca", frisou.
Reino Unido exige todas as doses que encomendou

Embora o primeiro-ministro expresse estar confiante de que as empresas farmacêuticas não vão falhar os acordos firmados com o Reino Unido, as tensões entre os líderes europeus e os britânicos para assegurar o fornecimento das vacinas aumentaram nos últimos dias.

Depois de a União Europeia acusar a AstraZeneca de fornecer menos doses de vacinas do que ao Reino Unido e de ter sugerido que algumas das doses encomendadas pelos britânicos fossem entregues ao bloco comunitário, o governo de Boris Johnson exigiu receber todas as vacinas pelas quais pagou.

"Acho que precisamos de ter certeza de que as doses de vacina que foram compradas e pagas, adquiridas para os residentes no Reino Unido, sejam entregues", disse o ministro do Gabinete Michael Gove à Rádio LBC, esta quinta-feira.

Questionado se o governo britânico ia impedir a AstraZeneca de desviar doses de vacinas do Reino Unido para a UE, Gove respondeu que o imprtante é que a Grã-Bretanha receba as suas encomendas conforme acordado e no prazo.

O contrato assinado entre a Comissão Europeia e a farmacêutica AstraZeneca para a entrega da vacina contra a covid-19 foi orçado em 336 milhões de euros, e Bruxelas exigiu, na quarta-feira, o cumprimento do acordo, ameaçando com um processo legal.

"Ao todo, foram alocados 336 milhões de euros ao contrato com a AstraZeneca. Ainda nem tudo foi pago porque há tranches relacionadas com o avanço do processo", informou num encontro com jornalistas um alto funcionário da Comissão Europeia ligado ao caso.

O responsável explicou que este valor refere-se a "uma série de despesas relacionadas com a produção" das vacinas contra a covid-19.

"O que fazemos é apoiar a empresa e pagar parte dessas despesas e depois esse valor é deduzido no preço cobrado aos Estados-membros" pelas vacinas encomendadas por cada um, referiu a mesma fonte.

E vincou: "A vacina da AstraZeneca deveria ser a mais expressiva na União Europeia [UE] e é inaceitável que as doses acordadas para este trimestre tenham sido reduzidas, na ordem dos três dígitos para um quarto do que estava previsto".

Também a comissária europeia da Saúde voltou a exigir empenho às farmacêuticas na entrega de doses de vacinas e no cumprimento dos prazos acordados com a União Europeia.

"Encontramo-nos numa pandemia. Perdemos pessoas todos os dias. Estes não são números, não são estatísticas, são pessoas, com famílias, com amigos e colegas que também são todos afetados. As empresas farmacêuticas, os produtores de vacinas, têm responsabilidades morais, societais e contratuais, que precisam de manter", sublinhou Stella Kyriakides, numa conferência de imprensa.

A comissária europeia criticou, também, a postura da farmacêutica: "Rejeitamos a lógica do ‘primeiro a chegar, primeiro a ser servido’. Isso pode funcionar nos talhos do bairro, mas não nos contratos e não nos nossos acordos de compra antecipada, que não preveem qualquer cláusula de prioridade".

Entretanto, esta quinta-feira, a Alemanha anunciou que a falta de vacinas deve durar pelo menos até abril.

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, garantiu que a falta de doses no bloco comunitário durará cerca de dois meses.

"Vamos passar pelo menos dez semanas muito duras por causa da falta de vacinas", escreveu o ministro no Twitter.



Ao mesmo tempo, o atraso na entrega das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca obrigou vários países, como Espanha e a Alemanha, a adiar os planos de vacinação.

O bloco comunitário já anunciou, entretanto, a criação de um mecanismo de transparência para monitorizar as exportações para países terceiros das vacinas que integram o portefólio da Comissão Europeia para evitar este tipo de problemas na entrega.
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