Na China, mais de 72 mil das 81 mil pessoas contagiadas pelo novo coronavírus já recuperaram da infeção. Com o país na iminência de ultrapassar o surto que se espalhou pelo mundo, resta saber em que estado vai ficar a economia chinesa. As previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2020 apontam para um retrocesso histórico. O resultado poderá mesmo ser, pela primeira vez em quase meio século, negativo.
Nessa altura, em que a economia chinesa contraiu 1,6 por cento, a China era a oitava maior economia do mundo. Hoje em dia está perto do primeiro lugar, sendo apenas ultrapassada pelos Estados Unidos.
O gigante asiático tem conseguido superar os valores a cada ano, sendo que por 14 ocasiões essas escaladas foram superiores a dez por cento em relação aos períodos homólogos. A economia permaneceu sólida mesmo em anos marcados por episódios difíceis, como em 1989, com o massacre de Tiananmen, em 2008, com a crise financeira global, ou em 2018, com o início da guerra comercial com os Estados Unidos.
Nos últimos dois anos, precisamente devido às tensões com os EUA, a economia chinesa tem regredido, mas muito lentamente. Em 2018 tinha aumentado 6,7 por cento e em 2019 desacelerou para 6,1 por cento, sendo que no último trimestre desse ano se fixou nos seis por cento. Agora, porém, o novo coronavírus ameaça transformar esse abrandamento lento numa recessão fulminante.
As previsões dos analistas para os primeiros três meses de 2020 apontam para entre -4,2 a -9 por cento e, para a economista Alicia García-Herrero, citada pelo El Pais, se esse número negativo se concretizar o Governo chinês estará “a transmitir a mensagem de que se esforçou e de que está a vencer a batalha” contra a Covid-19.
As prioridades do Governo chinês
A produção industrial na China, fundamental para manter o elevado nível de exportações, caiu em 13,5 por cento devido à pandemia. As vendas a retalho, que revelam o consumo interno, caíram 20,5 por cento. O investimento em ativos perdeu 24,5 por cento. Estes foram os piores números já registados no país asiático.
Este impacto faz-se sentir em várias outras dimensões, entre as quais a do consumo da eletricidade, que caiu em 7,8 por cento. Já a taxa de desemprego na China passou de 5,2 para 6,2 por cento, o que se traduz em cerca de cinco milhões de pessoas a perder o emprego nos últimos dois meses.
Estes números fizeram o Governo chinês alterar a sua lista de prioridades. Antes do surto, a China tinha-se proposto a acabar com aquela que considerava ser a pobreza extrema no país e a duplicar a dimensão da sua economia em relação a 2010.
Na semana passada, porém, o jornal chinês China Daily, controlado pelo Partido Comunista, publicou um artigo no qual é renovado o compromisso de erradicar a pobreza extremas, mas que adiava para 2021 o objetivo de duplicar a economia em relação a 2010. Este adiamento poderá levar a que a China não corra riscos excessivos ao tentar reequilibrar a economia nacional.
“Não é de grande importância que o crescimento económico seja um pouco mais alto ou um pouco mais baixo desde que o mercado de trabalho permaneça estável”, sublinhou o primeiro-ministro Li Keqiang, levando a crer que a redução do desemprego é outra das grandes prioridades, uma vez que está inevitavelmente ligada ao Produto Interno Bruto.
Esta segunda-feira, a China disse mais uma vez não ter registado novos casos locais de infeção pelo novo coronavírus, apesar de ter detetado 39 casos importados. A crise pandémica nesse país parece, assim, estar finalmente a dar tréguas, passando Pequim a poder focar-se na recuperação daquele que foi um surto histórico que abala agora a Europa.