As comunidades espanholas acusam o chefe do Governo de "abandonar os seus deveres", de "falta de lealdade" e de "baixar os braços" perante o estado de emergência regional. Terça-feira, Pedro Sánchez ofereceu o apoio do Governo às regiões que decretem o estado de emergência para combater a pandemia do novo coronavírus e a mobilização de dois mil militares para as auxiliar no rastreio de contágios.
O primeiro-ministro sublinhou também que as regiões podem decidir aplicar o estado de emergência em parte ou em todo o respetivo território, limitando nomeadamente a circulação, no que terão todo o apoio do Governo central, com todos os meios materiais, digitais e jurídicos.
“Se um presidente autonómico considera que necessita deste instrumento […], o Governo de Espanha está disposto a dar-lhe essa capacidade”, disse, ressalvando, contudo, que “falar de estado de alerta não é falar de confinamento” e evocando as diferentes fases de desconfinamento que foram aplicadas no país após o pico da pandemia.
Segundo o El Mundo, as comunidades pensavam que as suas preces seriam ouvidas, dois meses depois, e que o Governo nacional iria promover uma reforma legal que agilizaria confinamentos seletivos e outras restrições de mobilidade.
Entre as comunidades mais críticas ao anúncio de Sánchez estão a Andaluzia, Catalunha e Murcia.
O governo regional da Andaluzia afirma que “Sánchez cessa funções e, em vez de simplificar, complica o procedimento”. Já o presidente do Governo regional de Murcia fala de “uma total ausência de lealdade e de baixar os braços novamente numa situação extraordinária”.
Fonte da Generalitat da Catalunha recorda que Quim Torra “sempre pediu todos os poderes”.
O presidente de Aragão, o socialista Javier Lambán, também é contundente: “Ele (Pedro Sánchez) acredita que o estado de emergência e o confinamento é a solução fácil. A transmissão é interrompida, mas depois regressa, e enquanto isso a economia sufoca. E eu não quero isso”.
“A única coisa que pedimos ao Governo central é que nos dê cobertura legal, para não estarmos sujeitos às decisões judiciais”, acrescentou Javier Lambán.
Outras comunidades do PSOE afirmam que não necessitam de recorrer ao mecanismo anunciado pelo Palácio da Moncloa. As Ilhas Balares garantem que possuem ferramentas de controlo suficiente, Castilla-La Mancha e Valência acreditam que “existem lacunas legais” que precisam de “uma nova legislação”.
Já a Comunidade de Madrid afirma “que fará todo o que for necessário para proteger a saúde dos cidadãos”.
O presidente de Castela e Leão considera que “a solução não é oferecer às comunidades um estado de emergência para o seu território, algo que já acontece há 40 anos. Há meses que pedimos uma ferramenta que não seja o estado de emergência”.
Falta de meios apontada como causa de aumento de casos
A falta de meios humanos nas comunidades autónomas, competentes em matéria de saúde, tem sido apontada como uma das razões do forte aumento de novos casos de Covid-19.
“A evolução da curva da pandemia é preocupante e é preciso travá-la”, admitiu Sánchez, acrescentando, contudo, que Espanha continua “longe da situação de meados de março” e que “não deve criar-se um medo que paralise” o país.
O chefe do Governo espanhol apelou por outro lado aos espanhóis que descarreguem a aplicação RadarCovid, para facilitar o trabalho de rastreio.
Espanha ultrapassa os 412 mil infetados
Os novos casos diários de infeção por Covid-19 em Espanha continuam a aumentar há mais de duas semanas. Terça-feira foram confirmados mais 2.415 infetados, dos quais um terço (768) foram verificados na Comunidade de Madrid. No total, e desde o início da crise da pandemia da doença o país regista 412.553 casos de infeção. É um crescimento em linha com o registado nos dias anteriores que aumenta um pouco as taxas de incidência utilizadas para comparar a situação da pandemia nos restantes países.
Segundo o El País, um dos diagnósticos usados é o número de novos casos por cada 100 mil habitantes.
Nos últimos 14 dias, em Espanha esse número subiu para 173. Os da semana anterior eram 86. O país já ultrapassou os Estados Unidos (cuja incidência tem vindo a diminuir há quase um mês), no número diário por milhões de habitantes.
Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, Espanha é o nono país do mundo com mais casos de infeção pelo novo coronavírus.
Nos últimos sete dias, o país registou 116 vítimas mortais relacionadas com a doença Covid-19 (com testes de diagnóstico positivos), um aumento face aos 96 óbitos divulgados na segunda-feira pelo Ministério da Saúde.
Em termos globais, e segundo as estatísticas oficiais, Espanha já contabiliza 28.924 mortes desde o início da crise pandémica.
Entre segunda e terça-feira, 285 doentes foram admitidos em hospitais da zona de Madrid, capital do país. A nível nacional, um total de 903 pacientes entraram nos hospitais espanhóis.
Atualmente, 5,3 por cento das camas hospitalares em Espanha estão ocupadas por doentes com Covid-19, ou seja, 5.688 pessoas.