À medida que a pandemia Covid-19 parece já ter atingido o pico em alguns países, começam a ser delineados planos para o levantamento das restrições, apesar de um regresso à normalidade parecer ainda uma realidade longínqua. No caso europeu, Itália e Espanha, os países mais afetados, já anunciaram algumas das medidas a serem impostas e previsões. Em Portugal, ainda não existe uma data para o fim das medidas de contenção, mas o regresso à normalidade está a ser já avaliado.
Os testes de imunidade são agora uma das prioridades de forma a se perceber quantas pessoas ficaram imunes depois de terem estado infetadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). Desta forma, os testes permitem detetar o grupo de pessoas que podem ficar livres das restrições impostas e voltar à sua rotina e trabalho, ajudando o país a regressar à sua rotina.
No caso italiano, acredita-se que o país já tenha chegado ao “planalto” da curva de propagação do novo coronavírus e estão a ser preparadas medidas para um levantamento “gradual e controlado” das restrições impostas. Itália, que regista o maior número de mortes associadas à Covid-19 a nível mundial, tem vindo a demonstrar ultimamente uma tendência sustentada de estabilização. No sábado, o país registou pela primeira vez uma redução do número de doentes nos cuidados intensivos e de mortos.
Apesar dos primeiros sinais positivos nos últimos dias, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, sublinhou que a população “não pode baixar a guarda” e deve continuar a respeitar as medidas de confinamento. Conte explicou que estas mesmas medidas “não podem ser aliviadas de momento” e prolongou o confinamento até 13 de abril.
“A mensagem mais importante a transmitir aos nossos cidadãos é que permaneçam em casa o máximo possível. Se houver necessidade de sair, trabalhar ou fazer compras, respeitem as regras de segurança. Estamos a pedir ao nosso povo um grande sacrifício, estou ciente disso, mas este é o único caminho. Quanto mais respeitamos as regras, mais cedo sairemos da emergência”, anunciou o primeiro-ministro de Itália.
"Não haverá um dia em que possamos dizer que tudo terminou", disse Conte, acrescentando que "seria uma irresponsabilidade" prometer uma data para o regresso à normalidade.
"Temos de conviver com o vírus. Pelo menos até termos uma vacina ou uma cura", concluiu.
Uso generalizado de máscara
Em entrevista aos diários La Repubblica e Corriere della Sera, o ministro da Saúde, Roberto Speranza, anunciou quais as medidas a serem implementadas em Itália. Explicou que o Governo pretende reforçar "as redes de saúde locais" para que cada caso identificado possa ser triado para tratamento, assim como testar amostras de população para determinar "quantos italianos foram infetados, se são imunes e como, quantos e em que zonas podem regressar a uma vida normal".
O plano do governo prevê também a imposição do uso generalizado de máscara, o respeito por um "distanciamento social escrupuloso" e a afetação de determinados hospitais para tratamento exclusivo da Covid-19, que se manterão abertos para a eventualidade de uma segunda vaga de infeções, por forma a que outros hospitais possam voltar a dedicar-se a tratar os outros doentes.
Quando for possível uma retoma da atividade económica, os primeiros a retomar o funcionamento normal deverão ser as cadeias de abastecimento alimentar e farmacêutico, seguindo-se os estabelecimentos de reparações, se bem que com limites ao número de pessoas atendidas.
Bares, restaurantes, discotecas e recintos desportivos serão os últimos a reabrir e, quando o puderem fazer, terão de assegurar uma distância de segurança de pelo menos um metro entre clientes e funcionários.
As pessoas que queiram regressar a Itália - segundo números oficiais, pelo menos 200.000 italianos - deverão fazer quarentena e apresentar à entrada do avião, comboio ou autocarro, uma declaração sob compromisso de honra indicando a morada onde vão respeitar a quarentena.
Relativamente aos transportes públicos, o governo italiano explica que deverão manter uma lotação baixa, com a entrada de pessoas controlada por funcionários, a manutenção da distância entre passageiros e a ocupação máxima de um lugar em cada dois.
Espanha a ver “a luz ao fim do túnel”
No caso espanhol, o esquema parece ser semelhante ao italiano, na medida em que, no país vizinho, também se mantém a tendência da diminuição das vítimas mortais. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tem agora um discurso um pouco mais otimista: “Tudo indica que estamos, efetivamente, a começar a ver a luz ao fim do túnel, a nível do controlo e derrota da epidemia”.
Especialistas consultados por El País são unânimes na questão de que o levantamento das restrições tem de ser gradual e poderão ser diferentes para as várias camadas da população.
Aos idosos, por exemplo, ou pessoas com certas doenças, é provável que seja exigido um isolamento mais prolongado em comparação com jovens saudáveis. O epidemiologista Antoni Trilla fala na possibilidade de ser permitido um regresso à normalidade para aqueles que já estiveram infetados e tenham ganho imunidade, depois de passarem pelo teste.
Alguns epidemiologistas defendem ainda que poderá existir uma diferenciação na aplicação de medidas por comunidades, uma vez que a realidade de cada uma é diferente.
As primeiras saídas à rua não parecem estar para breve, principalmente depois de Pedro Sánchez ter anunciado o prolongamento do estado de emergência por mais duas semanas, até 26 de abril, e de ter reconhecido que provavelmente será necessária uma outra renovação. Depois dos EUA, Espanha é o país com maior número de infetados a nível mundial (130.759). Há a registar 12.418 mortos e os recuperados são mais de 38 mil.
“Eu acho, por exemplo, que será possível, muito em breve, permitir a prática de desporto como ir correr sozinho e de maneira controlada e separada e permitir que os pais possam passear com os filhos, mesmo que seja perto de casa e em distâncias curtas, desde que garantam que o distanciamento social é cumprido”, afirmou Pere Godoy, presidente da Sociedade Espanhola de Epidemiologia.
Em relação ao trabalho, a data de regresso não poderá ser igual para todos. “Acho que é necessário facilitar o regresso ao trabalho o mais rapidamente possível por parte dos mais jovens e daqueles que estão imunes. Entre outras razões, para tentar suportar a economia que nos sustenta a todos nós”, afirmou José María Martin Moreno, professor de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Valência.
Os especialistas concordam que o teletrabalho deverá ser prolongado até ao final do estado de emergência, nos casos em que tal seja praticável.
Regresso da vida social é ponto mais complexo
O regresso da vida social parece ser, por isso, o ponto mais complexo. Tal como explicaram ao jornal espanhol El País, é muito difícil prever datas em que poderão ser realizados espetáculos ou concertos.
“Com as aglomerações sociais, seria extremamente cauteloso e não as permitiria ao longo do mês de maio porque existe o risco de amplificação da doença e é precisamente isso que queremos evitar”, explicou Daniel López Acuña, ex-diretor de um gabinete de crise sanitária da Organização Mundial de Saúde (OMS).
E em relação ao Verão? “Será um Verão muito familiar”, responde Trilla a El País. Sobre as idas à praia, a maioria acredita que será possível. “É razoável pensar que se poderá desfrutar de muitos ambientes de lazer ao ar livre, como a praia, desde que não esteja sobrelotada”, explicou Rodríguez Artalejo, professor de medicina na Universidade Autónoma de Madrid.
Martin Moreno sublinha que será, no entanto, um Verão diferente: “A densidade a aglomeração diminuirá, principalmente em locais fechados. Mas espero que possamos ir à praia e estou convencido de que teremos muitas oportunidades de viver a vida com intensidade e de desfrutar de um dos benefícios deste período de isolamento: a melhor qualidade do ar e da água com a diminuição da poluição”.
E em Portugal?
No caso português, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou durante a conferência de imprensa de sábado que não existe “ainda uma luz concreta, exata, ao fundo do túnel”.
Marta Temido considera que existe apenas “uma expectativa” e explicou que o regresso à normalidade é uma questão “muito complexa” e que “não há uma data simples” para o fim das medidas de restrição.
“Tem de ser analisado dia a dia, dado a dado, medida a medida. Não há resposta de ‘sim’ ou ‘não’ em relação a nenhuma data”, sublinhou Temido, ao mesmo tempo que salientou a importância de serem mantidas as medidas de contenção.
“Não é uma corrida de 100 metros, é uma longa maratona. Temos de dosear as nossas forças, as nossas expetativas e o nosso esforço. Precisamos de continuar, precisamos mesmo de continuar a aplicar as medidas de contenção e de mitigação”, alertou Marta Temido.
No entanto, nessa mesma conferência de imprensa, foi anunciado que o regresso à normalidade está a ser avaliado:
“Neste momento, hoje mesmo, um grupo de académicos e cientistas está a fazer estudos para poder responder melhor às dúvidas, em que datas podemos retirar algumas medidas de contenção, para voltarmos à vida normal sem risco”, comunicou a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas.
No caso português, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou durante a conferência de imprensa de sábado que não existe “ainda uma luz concreta, exata, ao fundo do túnel”.
Marta Temido considera que existe apenas “uma expectativa” e explicou que o regresso à normalidade é uma questão “muito complexa” e que “não há uma data simples” para o fim das medidas de restrição.
“Tem de ser analisado dia a dia, dado a dado, medida a medida. Não há resposta de ‘sim’ ou ‘não’ em relação a nenhuma data”, sublinhou Temido, ao mesmo tempo que salientou a importância de serem mantidas as medidas de contenção.
“Não é uma corrida de 100 metros, é uma longa maratona. Temos de dosear as nossas forças, as nossas expetativas e o nosso esforço. Precisamos de continuar, precisamos mesmo de continuar a aplicar as medidas de contenção e de mitigação”, alertou Marta Temido.
No entanto, nessa mesma conferência de imprensa, foi anunciado que o regresso à normalidade está a ser avaliado:
“Neste momento, hoje mesmo, um grupo de académicos e cientistas está a fazer estudos para poder responder melhor às dúvidas, em que datas podemos retirar algumas medidas de contenção, para voltarmos à vida normal sem risco”, comunicou a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas.
c/agências