A pandemia de Covid-19 está a fazer explodir por todo o mundo a produção de artigos fabricados com plástico, entre os quais máscaras cirúrgicas, luvas e sacos para as vítimas mortais. A elevada procura de equipamentos de proteção pelos governos e pelas populações poderá, assim, causar um expectável aumento da poluição dos oceanos.
Existem, porém, ações que podem ser tomadas de modo a ajudar à redução da poluição por plásticos. Uma delas é o uso de máscara comunitária de algodão por parte dos habitantes, em vez de máscaras cirúrgicas que possuem plástico entre os componentes, até porque estas devem ser reservadas aos profissionais de saúde e a quem lida com pessoas contagiadas. Estudos indicam que oito milhões de toneladas de plástico vão parar todos os anos aos oceanos, número que tende a aumentar com o tempo.
Outra importante ação para ajudar o ambiente consiste em depositar corretamente os equipamentos de proteção pessoal no lixo. Em vários países têm circulado pelas redes sociais imagens de máscaras e luvas usadas espalhadas pelas ruas e, se estas não forem rapidamente apanhadas e depositadas no lixo, facilmente vão parar à rede de esgotos – especialmente se a chuva as arrastar até às sarjetas – e acabam nos oceanos.
A poluição dos oceanos provocada por equipamentos de proteção pessoal apresenta problemas muito específicos para a vida marinha, de acordo com John Hocevar, um dos diretores da organização Greenpeace nos Estados Unidos. “Tal como acontece com os sacos de plástico, as tartarugas podem confundir as luvas com alforrecas ou outros alimentos. E as alças das máscaras podem fazer com que animais fiquem lá presos”, explicou à CNN.
Setores da indústria contornam proibições do uso de plásticos
Alguns ambientalistas acreditam também que setores da indústria têm aproveitado a crise pandémica para contornar as regulações relativas ao uso de plástico.
“Sabemos que a poluição por plásticos é um problema global que já existia antes da pandemia”, declarou à CNN Nick Mallos, membro da organização não-governamental Ocean Conservancy. “Mas temos visto muitos esforços da indústria para reverter alguns dos grandes progressos que já tinham sido alcançados” no sentido de reduzir a poluição, defendeu.
Em alguns países, as restrições quanto ao uso de plásticos foram mesmo suspensas devido à pandemia. No Reino Unido, por exemplo, as taxas aplicadas aos sacos de plástico não estão a ser aplicadas. Nos Estados Unidos, cadeias de restauração como a Starbucks baniram o uso de produtos reutilizáveis como medida de segurança para impedir o contágio pelo novo coronavírus. Os ambientalistas acreditam que a produção de luvas e máscaras para enfrentar uma crise de saúde pública pode fazer com que estejamos a contribuir lentamente para uma outra crise.
“Nesta altura a prioridade é a segurança e a saúde pública”, defendeu Mallos. “Mas temos de perceber também que a questão mais ampla sobre a poluição que está a ser aumentada por esta pandemia é realmente importante”.
“Sabemos que muitos lugares do mundo não possuem a capacidade de gerir esse lixo”, admitiu, acrescentando que nesta altura não há muito que possa ser feito para reduzir o uso de plásticos em materiais de proteção individual.
O ambientalista espera, porém, que no futuro essa questão possa ser melhorada. “A longo prazo queremos que sejam desenvolvidos equipamentos reutilizáveis e desinfetáveis”, assegurou.
A produção global de plástico quadruplicou nas últimas quatro décadas, de acordo com um estudo de 2019 cujos autores alertaram que, se essa tendência continuar, o fabrico desse material vai representar 15 por cento das emissões de gases de efeito de estufa até 2050.
Com o passar do tempo, os produtos de plástico que não são corretamente depositados vão-se degradando e contribuindo para as vastas coleções de microplásticos que já se encontram nos oceanos, no ar e em alguma da comida que ingerimos.