Centaurus. Nova variante da covid-19 preocupa especialistas

por Carla Quirino - RTP
Ilustração Dado Ruvic - Reuters

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a identificação de uma nova sub-variante da Ómicron, a BA.2.75, apelidada por Centaurus. A sub-variante foi detetada na Índia e disseminou-se rapidamente no Reino Unido, EUA, Austrália, Alemanha e Canadá. As autoridades sanitárias voltam a alertar para a necessidade de a população ter o plano de vacinação completo.

Depois da Delta e da Ómicron, as ramificações das variantes ganharam a atenção das autoridades de saúde mundiais. A última conhecida é a BA.2.75, batizada também como Centaurus, e é considerada uma "variante que acarreta preocupação", passando a ser encarada pela OMS como Linhagem Sob Monitorização.

Os primeiros casos foram detetados no início de maio na Índia. A Centaurus rapidamente substituiu as anteriores sub-variantes da Ómicron, BA-4 e a BA.5, que à época eram consideradas as mais transmissíveis.

Durante uma conferência de imprensa na semana passada, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, realçou que, "na covid-19, os casos relatados globalmente aumentaram quase 30 por cento nas últimas duas semanas. Quatro das seis sub-regiões da OMS viram os casos aumentarem na última semana".

O diretor-geral da OMS também especificou que, "na Europa e na América, a BA.4 e a BA.5 são ondas motrizes" e pertencem ao grupo de linhagens distorcidas das múltiplas misturas de vírus.

Anunciou também o BA.2.75: "Em países como a Índia, uma nova linhagem do vírus SARS-CoV-2, a BA.2.75, foi detetada e estamos a rastrear a evolução".

A mutação BA.2.75 já foi detetada numa dezena de outros países, incluindo Reino Unido, EUA, Austrália , Alemanha e Canadá.
Variante da variante
Ainda não há muitas informações sobre a nova mutação.

Soumya Swaminathan, especialista da comunidade científica da OMS, diz ser "ainda cedo para saber se esta variante tem um nível de agressividade mais forte, capaz de evadir o sistema imunológico ou causar uma doença ainda mais grave".

No entanto, as autoridades de saúde que estão a monitorizar a evolução do surgimento de novas infeções alertaram que a velocidade de transmissão da Centaurus é cinco vezes superior à da Ómicron.

O aparente crescimento rápido e a ampla disseminação geográfica poderão ser indicadores do grande número de mutações extras que a BA.2.75 contém, em relação à BA.2, da qual terá evoluído. "Isto pode significar que teve a capacidade de fazer evoluir uma característica vantajosa de uma linhagem de vírus já bem-sucedida", disse Stephen Griffin, especialista em virologia da Universidade de Leeds, citado na publicação The Guardian.

Tom Peacock, virologista do Imperial College de Londres, o primeiro especialista a identificar a variante Ómicron como uma preocupação potencial em novembro de 2021, explica que, para o caso da Centauros "não são tanto as mutações exatas, mas sim a quantidade e possibilidade de combinações" que inquieta.

Para o especialista, a Centaurus "é definitivamente um candidato em potência para o que vem depois da BA.5. Se isso falhar, provavelmente é o tipo de coisa que teremos a seguir, ou seja, uma variante de uma variante".

Griffin sublinha "a impressionante capacidade do vírus em tolerar mudanças na proteína spike – a parte que ele usa para infectar células e na qual a maioria das vacinas covid se baseia".

"Por esta altura no ano passado, muitos estavam convencidos de que a Delta representava um pináculo evolutivo para o vírus, mas o surgimento da Ómicron e o grande aumento na variabilidade e evasão de anticorpos é um sinal de que não podemos, como população, seguir um plano semelhante ao da gripe para manter ritmo com a evolução viral", acrescentou Griffin.

Perante estes novos desafios, intensificar estratégias para concretizar o plano de vacinação contra a covid-19 volta a ser tema em cima da mesa das autoridades de saúde, especialmente dos países onde a taxa de população inoculada é baixa. É recomendado manter as medidas de sanitárias em vigor, com especial atenção para a consciencialização e a proteção individual.

Além das vacinas, os planos de longo prazo devem incluir medidas agnósticas de variantes para prevenir infeções e reinfeções. "Isto inclui a criação de ambientes resistentes a infeções por meio de ventilação, filtragem ou esterilização aprimoradas do ar interno, reprovisionamento sensato de testes de fluxo lateral e períodos de isolamento apropriados e suportados que realmente reduzirão a transmissão contínua", rematou o especialista.
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