Missão TESS. Olhar mais longe em busca de planetas com potencial de vida

por Nuno Patrício - RTP
A missão TESS conta encontrar exoplanetas que possam comportar vida NASA

A comunidade científica está mais determinada a olhar para fora das fronteiras do planeta azul. Uma busca por novos sistemas planetários, novos mundos e de preferência com potencial para albergar vida. Esta é a base da nova missão TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA em parceria com o MIT. O telescópio já está em órbita.

Sabemos hoje que há mais sistemas planetários governados por estrelas. Mas esta teoria só pôde ser comprovada a partir do momento em que o Homem foi capaz de desenvolver telescópios espaciais.

Hubble (1990), Compton (1991), Chamdra (1999), Spitzer (2003) e Kepler (2009) foram os precursores na busca mais profundada por recantos desconhecidos do universo. A NASA espera catalogar, no mínimo, mais 1500 exoplanetas, apesar de o potencial da sonda ser bastante superior.

Mais de dois mil planetas depois - e uma ínfima parte do universo revelado -, a comunidade científica quer mais. Criou para tal mais equipamentos dotados de maiores capacidades.

O TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite, ou Satélite de Observação de Exoplanetas) surge nesta sequência, oferecendo novas possibilidades através de instrumentos de maior precisão e rigor.

Tiago Campante, investigador português do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, explica à RTP que uma das principais missões da TESS é encontrar exoplanetas em redor de “estrelas frias”, com órbitas dentro de zonas habitáveis.

O TESS é composto por quatro câmaras de espectro largo, cobrindo 85 por cento de todo o espaço visível pela sonda. Dentro desta vasta perspetiva visual, o “céu” vai ser dividido em 26 setores, que o TESS observará um a um.

O sistema de busca dos novos exoplanetas será feito com o mesmo método utilizado pelo Kepler, através do fenómeno conhecido como trânsito planetário, em que um planeta passa diante da estrela, causando um mergulho periódico e regular no brilho.

O TESS passará pelo menos os próximos dois anos a focar-se em estrelas a menos de 300 anos-luz e 30 a 100 vezes mais brilhantes do que os alvos de Kepler.Cuidados adicionais no lançamento
Enviar para o espaço um objeto é já por sim um risco. Mas colocar em órbita um novo telescópio espacial, de valor comercial elevado e principalmente com um valor científico inquantificável, é algo que não se pode deitar a perder.

Tiago Campante diz que há muito a levar em conta nesta missão, como por exemplo bolsas de doutoramento ou fundos europeus para análise dos dados que vão ser recolhidos pelo TESS.

A agência SpaceX, que é agora a empresa fornecedora dos veículos de transporte espaciais para a NASA, teve de adiar a missão que estava programada para segunda-feira, devido à deteção de problemas técnicos com o foguete Falcon 9.

Ultrapassados esses problemas, o foguetão de 68 metros de altura descolou na noite de quarta-feira, pelas 22h51, da base aérea de Cabo Canaveral, na Florida.



 
O que torna o TESS diferente
Mesmo que o antecessor (Kepler) do TESS tenha descoberto cerca de 2400 planetas, a NASA espera agora catalogar, no mínimo, mais 1500 exoplanetas, apesar de o potencial da sonda ser bastante superior, afirmam os cientistas.

Destes, os investigadores antecipam que 300 serão exoplanetas do tamanho da Terra ou super-terras. Sérios candidatos a suportar vida fora do sistema solar.O TESS pesquisará uma área 400 vezes maior do que a observada pelo telescópio Kepler. O que inclui 200 mil das mais brilhantes estrelas próximas. Ao longo de dois anos, as quatro câmaras a bordo da sonda vão apontar para diferentes sectores do espaço.

"Uma das maiores questões na exploração de exoplanetas é: se um astrónomo encontra um planeta na zona habitável de uma estrela, será interessante do ponto de vista de um biólogo?", pergunta George Ricker, investigador da missão TESS no Instituto Kavli de Astrofísica e Investigação Espacial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

"Esperemos que a TESS descubra uma série de planetas cujas composições atmosféricas possam comportar pistas potenciais para a presença de vida e possam ser medidas com precisão por futuros observadores", acrescenta.

A missão da TESS será como um primeiro olhar sobre o horizonte espacial, isto porque mais tarde e através de um outro telescópio espacial – James Webb Space Telescope - estes exoplanetas vão ser estudados de forma ainda mais detalhada. Uma análise que será capaz de caracterizar, por exemplo, as atmosferas dos exoplanetas.

Com a missão Kepler, a NASA aprendeu que há mais planetas do que estrelas no céu. Agora, com esta nova missão, a comunidade científica acredita poder aproveitar o ímpeto anterior e abrir o estudo de exoplanetas com um alcance sem precedentes.

"O TESS vai abrir uma porta para todo um novo tipo de estudo", diz Stephen Rinehart, cientista deste projeto no Goddard Space Flight Center da NASA.

"Nós vamos ser capazes de estudar planetas individuais e começar a falar sobre as diferenças entre os planetas. Os alvos que o TESS encontrará serão assuntos fantásticos para investigação nas próximas décadas. É o começo de uma nova era de investigação de exoplanetas."

"Para mim, a parte mais interessante de qualquer missão é o resultado inesperado, que ninguém antecipou".

O TESS vai varrer uma área 400 vezes maior do que aquela que foi observada pelo Kepler. Isso inclui 200 mil das estrelas brilhantes mais próximas. Ao longo de dois anos, as quatro câmaras a bordo da sonda vão apontar para diferentes sectores do espaço.



 

As câmaras do TESS estão preparadas para detetar luz numa ampla gama de comprimentos de onda que vai até ao espectro do infravermelho. O telescópio poderá desta forma observar estrelas anãs vermelhas pequenas e frias próximas e verificar se há exoplanetas em seu redor.

Descobriu-se que estrelas anãs vermelhas governam exoplanetas dentro da zona habitável e muitos astrónomos acreditam que poderiam ser as melhores candidatas a hospedar exoplanetas do tamanho da Terra com condições adequadas à vida.
Descoberta ao alcance de todos
"O TESS é como um batedor", diz Natália Guerrero, vice-gerente do TESS Objects of Interest. "Estamos nessa excursão cénica de todo o céu e, de certa forma, não temos ideia do que veremos. É como se estivéssemos a fazer um mapa do tesouro".

Os dados da TESS vão também estar disponíveis ao público, para que qualquer pessoa possa descarregá-los e fazer a sua própria busca. A sonda recolherá cerca de 27 gigabytes por dia – aproximadamente 6.500 arquivos de música - e enviará dados para a Terra a cada duas semanas.

No centro de controlo e receção, na NASA, vai estar a ouvir o TESS o Plêiades, um supercomputador capaz de acompanhar e processar milhares de milhões de pixéis em três a cinco dias.

Quanto mais pessoas olharem para os dados, melhor, acreditam os próprios cientistas.

"Não há ciência que nos diga que a vida está lá fora agora, exceto que pequenos planetas rochosos parecem ser incrivelmente comuns", disse Seager. "Eles parecem estar em todos os lugares que observamos. Então tem que estar lá em algum lugar".
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