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Guardião dos Ventos orienta-se e vê com tecnologia portuguesa

por Nuno Patrício - RTP
O Éolo vai conhecer melhor os ventos e a meteorologia a longo prazo ESA/ ATG medialab

A exploração espacial segue de "vento em popa". Depois do lançamento com sucesso da sonda Parker, da NASA, que vai estudar os ventos solares, cabe à Agência Espacial Europeia lançar uma sonda para estudar os ventos terrestres.

De nome Éolo, este satélite eólico europeu será o primeiro a medir diretamente a velocidade do vento na Terra a partir do espaço. Dados cruciais que deverão melhorar a previsão do tempo em todo o mundo. Trata-se de uma sonda espacial que transporta tecnologia portuguesa a bordo. Uma das funções do Éolo é enviar um laser de luz ultravioleta em direção à Terra. Luz que será refletida pelas moléculas no ar e pequenas partículas, como poeira, gelo e gotículas de água na atmosfera.

Batizado com o nome de um deus grego, este "Guardião dos Ventos" é uma sonda que tem como missão estudar a dinâmica dos ventos do planeta Terra. 

O programa fornecerá observações globais dos vários perfis do vento, a partir do espaço, no sentido de melhorar a qualidade das previsões meteorológicas, mas também para avançar na compreensão da dinâmica atmosférica e dos processos climáticos.

Embora existam já várias formas de medir o vento a partir de um satélite, este programa em concreto utilizará o método Doppler Wind Lidars (DWL), que consiste em utilizar um sistema de medição laser (Aladin) com potencial de recolha de dados globais, a partir de observações diretas do vento.

Além disso, o DWL fornecerá dados sobre a altura das nuvens, distribuição vertical, propriedades do aerossol e a variabilidade do vento.

É um modelo de análise do clima e da atmosfera da Terra mais consistente, que tem como finalidade a melhoria e progresso na previsão numérica do tempo, especialmente no que se refere a estimativas a longo prazo. Atualmente a previsão do tempo a longo prazo ainda comporta uma margem de erro elevada.

Sistema Aladin - Créditos: ESA/ATG medialab
Satélite europeu com tecnologia portuguesa
Um dos principais instrumentos do Éolo é o telescópio Aladin. Projetado em França pela Airbus Defense and Space, este sistema incorpora dois poderosos lasers, um grande telescópio e recetores muito sensíveis.

A ideia da ESA é o Aladin enviar um laser de luz ultravioleta em direção à Terra. Luz que será refletida pelas moléculas do ar e pequenas partículas, como poeira, gelo e gotículas de água na atmosfera. É precisamente através do albedo que o telescópio Aladin vai recolher informação, quantificada e postriormente enviada para o planeta.
A sonda europeia Éolo leva a bordo dois sistemas construídos em Portugal: um sistema assegura a limpeza ótica do telescópio Aladin, produzida pela empresa Omnidea; dois magnetómetros da Lusospace contribuem para o posicionamento do satélite.
O professor Erland Källén, diretor de Pesquisa do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo, refere que "a missão espacial Éolo fornecerá observações de vento únicas em relação às atuais capacidades do sistema global de observação meteorológica”.

Observações que vão preencher uma lacuna no sistema de global. "Apesar dos muitos anos de atraso, ainda há uma necessidade para a existência desta missão. E esperamos que ela tenha um grande impacto na previsão do tempo", explica Källén.

"Por exemplo, nos trópicos, a informação sobre o vento domina as análises atmosféricas e isso influencia a qualidade das previsões meteorológicas para a Europa para a próxima semana", diz o responsável.

A sonda europeia irá varrer faixas do planeta para estudar os ventos na atmosfera terrestre. Créditos: ESA/ATG medialab

Contudo, para que esta observação tenha sucesso, há um sistema de válvulas - cinco no total - que assegura a limpeza da componente ótica do Aladin, de origem portuguesa. Válvulas que foram produzidas e testadas pela empresa Omnidea, como explica o engenheiro mecânico Nuno Fernandes, a partir da sucursal portuguesa na Alemanha.

"É um componente único. É uma válvula de purga do sistema que limpa o Lidar que é o principal componente do satélite AEOLUS (Éolo em português). É esse Lidar que vai fazer as medições de vento (...) que tem requisitos muito especificos em termos de limpeza ótica. E é para assegurar essa limpeza que está criado este sistema, que tem semelhanças com os sistemas de propulsão", refere Nuno Fernandes à RTP.


Esta tecnologia não é a única com bandeira portuguesa a integrar o Éolo. A empresa LusoSpace também contribui com a presença de dois magnetómetros, instrumentos que permitem dizer ao “cérebro” do satélite para que lado tem de estar virado, como explica Ivo Vieira, diretor da Lusospace, à Antena 1.

"O magnetómetro vai permitir muito rapidamente e muito fiável de qual é a orientação do satélite de forma a que ‘ele’ possa saber para que direção é que tem de estabilizar".

O satélite Éolo vai ser colocado no espaço através do foguetão europeu Vega. Um lançamento que esteve previsto para esta terça-feira, na Guiana Francesa, às 22h00 (hora de Lisboa). Curiosamente, por causa dos fortes ventos que caberá ao "Guardião" estudar, foi cancelado.

Para lançar um foguetão são necessários meses de engenharia e treino intensivo. Depois, já em órbita terrestre, reacende-se a tensão, pois há um período critico durante o qual os engenheiros de voo não assumem o controlo do satélite, após a separação da cápsula transportada pelo foguetão Vega.

"Colocar uma nave em órbita, em segurança, é um processo difícil e tenso. Mas estimulante para as equipas responsáveis pela missão em terra", explica Pier-Paolo Emanuelli, diretor de voo da Éolo.

"As simulações fornecem uma ferramenta inestimável para muitos engenheiros, operadores e controladores que trabalham com o satélite, dando-lhes a oportunidade de ensaiar todos os cenários possíveis antes do grande dia".

O lançamento registou-se eram 22h20 (Lisboa), desta quarta-feira, quando o foguetão Vega se elevou como uma "flecha" em direção ao espaço. O satélite europeu ficará numa órbita a cerca de 360 quilómetros acima da superfície terrestre.

  Reveja aqui o lançamento do Foguetão Vega

Minutos após a sonda sair da cápsula que a transportou até à órbita, o Éolo abrirá os painéis solares e começará a transmitir para uma vasta rede global de estações terrestres, marcando o primeiro link de dados com o controlo da missão.

O primeiro sinal do Éolo deverá ser captado através do prato de 4,5 metros de diâmetro da ESA em New Norcia, Austrália.

Posteriormente, as estações localizadas em Troll, Antártica, Inuvik, Canadá, Svalbard, Noruega e Kiruna, na Suécia, receberão sinais do satélite e transmitirão os comandos dos engenheiros que construiram esta missão europeia.

Depois de estabelecer contato, as equipas darão início a três dias de intensa atividade, trabalhando 24 sobre 24 horas para acompanhar o satélite durante o período "LEOP" - a "fase de lançamento e início da órbita" - um dos períodos mais críticos da vida de qualquer satélite.

“Esse período é arriscado”, explica Rolf Densing, diretor de operações. “O satélite ainda não está totalmente ligado, mas precisa ser protegido contra os cenários potencialmente perigosos que podem surgir em qualquer operação espacial complexa”.

A missão é “delicada”, visto que a colocação em órbita considerada “baixa” vai sujeitar o Éolo a uma constante pressão atrativa pelas forças gravitacionais da Terra. Uma posição frágil que vai estar assegurada pelos portugueses através dos magnetómetros instalados no coração da sonda europeia.
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