Cotopaxi. O vulcão que vibrou como um sino depois de entrar em erupção

por Nuno Patrício - RTP
O vulcão Cotopaxi é um dos mais altos vulcões no mundo. Encontra-se a 75 kms a sul de Quito e desde 1738 já teve mais de 50 erupções. Foto: Reuters

Toda a comunidade científica sabe que uma erupção vulcânica pode surgir quando menos se espera. As estatísticas e os dados até podem apontar para uma iminência num determinado local, mas depois o que acontece na realidade é sempre imprevisível.

Por esta razão, os fenómenos sísmicos naturais são estudados minuciosamente, como o caso do vulcão Cotopaxi, no Equador.
O vulcão Cotopaxi localiza-se no Equador, e é um dos mais altos vulcões no mundo, com 5 897 metros. O Cotopaxi encontra-se a cerca de 75 quilómetros a sul de Quito e desde 1738 já ocorreram mais de 50 erupções.
E no caso do vulcão Cotopaxi em particular os cientistas estudam algo que, embora não seja comum no universo sismo-vulcânico, pode fornecer dados valiosos para o avanço desta ciência.

Entre o final de 2015 e o início de 2016, depois da erupção registada em agosto de 2015, o Cotopaxi repetiu um padrão incomum de sons de baixa frequência que os pesquisadores dizem agora estar ligados à geometria única do interior de sua cratera.

Sons impercetiveis ao ouvido humano que podem ajudar a compreender melhor o que se passa nas válvulas gigantes desta panela de pressão que é o planeta Terra.

Vulcão Cotopaxi emitiu uma voz interior, profunda e distinta

Descobrir e identificar os barulhos provenientes do interior da terra, junto às zonas vulcânicas e suas chaminés é já uma prática comum em estudos geológicos levados a cabo por muitas organizações que estudam estes fenómenos naturais. E com esta descoberta no Equador poderá mesmo ajudar os cientistas a prever e a compreender melhor as mudanças dentro das crateras.

No caso do Cotopaxi, duas semanas após a erupção do vulcão em agosto de 2015, os cientistas equatorianos instalaram uma rede de microfones especiais, nos flancos do vulcão, que podiam gravar sons de baixa frequência ou infrassons. O sistema em rede registou um padrão sonoro incomum - uma oscilação forte e clara que diminui com o tempo. A curva de som registada lembra um parafuso, relataram os cientistas na Geophysical Research Letters on-line do dia 13 de junho.


Um padrão que o vulcão Cotopaxi repetiu 37 vezes entre setembro de 2015 e abril de 2016, ressoando como um instrumento musical, antes de desaparecer. Segundo declarações do geofísico que liderou e estudou o fenómeno, Jeffrey Johnson, da Boise State University, em Idaho, “[Cotopaxi] tocou como um sino por mais de um minuto”.

Ondas sonoras que nunca teriam sido possíveis captar se não fossem utilizados microfones especiais e hipersensíveis que captam frequências entre 0,01 hertz e 20 Hz. Frequências sonoras tão baixas que nenhum ser humano as conseguiria captar (20 a 20.000 Hz –limites da Audição Humana).


Desde a assinatura do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares em 1996, a comunidade científica aproveita instrumentos que foram utilizados nestas experiencias bélicas para monitorizar e escutar os vulcões através de redes de infrassons.

Desde a dinâmica da erupção do vulcão até o movimento de lama induzida por vulcões lahars (avalanche), tudo é estudado para melhor compreender o que se encontra por baixo dos nossos pés.
“Se você não tivesse estes sensores infra sónicos, nunca daria com nada disso. Você seria como um surdo a este mundo de sons únicos e belos ”, refere o geofísico Jeffrey Johnson.
Uma “voz” vulcânica única, mas que pode ensinar muito
O som que surge do interior do Cotopaxi é incomum e profundo entre os vulcões já registados. Quase como um barítono entre os tenores, dizem os cientistas, ressoando numa frequência de 0,2 Hz - cinco vezes menor que a de muitos outros vulcões. Johnson e os geofísicos que estão a trabalhar nesta matéria atribuem essa estranha “pegada sonora” ao ar que entra e sai da cratera cilíndrica profunda do vulcão.

De acordo com os peritos, o que desencadeou a oscilação do som após a erupção inicial de 2015 ainda é difícil de determinar. Mas baseado num registo de vídeo de uma webcam nas proximidades, Johnson acredita que esta diferença sonora poderá ter tido origem na libertação intermitente de gases do lago de magma dentro da cratera.


Com este estudo, o geofísico da Boise State University, em Idaho, sugere que outros vulcões possam ter “vozes semelhantemente únicas” - mesmo que sem falar em melodias em forma de parafuso.
Organizações de monitorização poderiam desta forma identificar as “impressões de voz” dos vulcões mais preocupantes e registar as mudanças repentinas que poderiam fornecer um sinal de alerta precoce de agitação vulcânica.

Por exemplo, a “voz” de um vulcão pode mudar devido à subida ou descida de um lago de magma dentro da cratera, refere Johnson. "O Infrasson pode dizer-nos o que está a acontecer na superfície [de um vulcão ativo] quando já não se pode caminhar até à cratera e olhar para dentro deste."

Este trabalho que não se limita ao vulcão Cotopaxi, estando já Johnson e os seus colegas a registar outros sons, em vulcões em forma de sino como por exemplo o vulcão do Monte Nyiragongo, no Congo. "Detectamos um tom infrassonográfico de baixa frequência", refere Johnson, mas os sons não oscilaram por muito tempo para criar um tornado. Isso provavelmente deve-se à largura da cratera de Nyiragongo: com três quilómetros de diâmetro, é mais em forma de tigela do que em forma de tubo, dificultando a excitação em ressonância de longa duração.

Tudo isto leva a uma conclusão clara. O que se encontrou no Cotopaxi existe devido a uma geometria interna muito específica, que cria esse tipo de som. Algo que provavelmente não será encontrado em muitos outros vulcões, remata o geofísico.
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