Análise ao tsunami de 1755 para evitar o pior num futuro possível

por Nuno Patrício - RTP

1 de Novembro de 1755. Em Portugal, um sismo de grande intensidade abalou o território. Um tremor de terra que deu origem a um tsunami que acabou por invadir as zonas costeiras nacionais. Mais de 260 depois, geocientistas estudam os efeitos das ondas gigantes no território.

Hoje e passados praticamente 262 anos deste fenómeno natural, os geocientistas estudam os efeitos provocados pelas ondas gigantes.

E é com base em estudos nacionais que O Instituto Dom Luiz (IDL) e o Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (DG Ciências ULisboa) decidiram organizar o '5th International Tsunami Field Symposium (ITFS)'.

O primeiro deste género em Portugal, que vai decorrer entre os dias 3 e 7 de setembro de 2017, em Lisboa.

Pedro J. M. Costa, professor do DG Ciências ULisboa, investigador do IDL e um dos membros da comissão organizadora do simpósio, refere que “alguns dos depósitos de tsunami existentes em Portugal são casos de estudo importantíssimos no contexto europeu. A oportunidade de reunir a elite mundial no estudo de depósitos de tsunami é um momento único para a comunidade científica portuguesa e, certamente, uma experiência muitíssimo enriquecedora”.

Foto: DG Ciências ULisboa/IDL/MCF - Os níveis dos calhaus e areias ilustramos depósitos do tsunami de 1755. Imagens captadas em Vila do Bispo, Algarve.
Tsunami português encontra-se gravado no subsolo
O sismo de 1755 (com magnitude estimada em 8,75) terá tido o epicentro no Banco do Gorringe, a sudoeste de Sagres. Contudo, estudos recentes sobre a formação do tsunami indicam que pode também ter tido origem num movimento múltiplo nas falhas tectónicas: Goringe e placa do vale do Tejo.

Os documentos datados do século XVIII referem a passagem do fenómeno sísmico e da onda gigante por Lisboa. Documentos, pinturas, desenhos que mostram o impacto da natureza sobre a capital em 1755.

Mas o tsunami não assolou apenas Lisboa. O Algarve é rico em amostras da passagem desta(s) onda(s), como explicou à RTP o professor do DG Ciências ULisboa, Pedro Costa.

"Principalmente no Algarve, por várias razões que têm a ver com as condicionantes geomorfológicas e ambientais que permitem preservar melhor esses depósitos, mas também as podemos encontrar noutros locais ao longo da costa ocidental.”

Desde os simples grãos de areia a blocos de tamanho de carros, esta evidências, como refere o investigador Pedro Costa, são matéria preciosa para compreendermos como tudo aconteceu e como funcionam estes fenómenos.

"Mesmo olhando para os desastres naturais mais recentes, com toda a informação disponível de equipamentos, até mesmo no caso do tsunami japonês, que havia helicópteros a filmar a chegada das ondas ainda, há um conjunto de factos científicos que se desconhecem."

Portugal pode voltar a sofrer um tsunami
Portugal não apresenta um risco sísmico elevado. Mas ao longo da história existem relatos e registos de alguns, sendo o de 1755 o mais conhecido e devastador.

O terramoto foi sentido às primeiras horas da manhã de dia 1 de novembro de 1755, seguido pouco depois de um tsunami.

Segundo a comunidade científica, que estuda estes fenómenos,  a região do Banco do Gorringe, a sudoeste do cabo de São Vicente, está identificada como o local de onde são originários os sismos de grande magnitude (60-63aC, 1033, 1356 e 1755).

Uma zona que não está adormecida e que regista frequentemente atividade sísmica (IPMA).


Foto: IPMA

Um fator que leva o professor do DG Ciências ULisboa a não excluir a formação de ondas gigantes que venham a atingir o nosso território.

"É provável que ocorram tsunamis em Portugal. Eu não diria num horizonte temporal curto, porque há um conjunto de fenómenos que têm de estar ligados para a geração do tsunami."

Em caso de tsunami, Portugal está preparado?
A resposta de Pedro Costa é afirmativa, mas até certo ponto: “cada vez mais está preparado, mas se for uma catástrofe tão grande, não é preciso estar preparado para estas situações”. Ou seja, neste caso, os efeitos podem ser devastadores.

Para estes investigador, algumas autarquias têm trabalhado no sentido da prevenção deste tipo de fenómenos, com sinalética de fuga, como é o caso de Cascais, Lagos e Setúbal.

Uma sensibilização que pode não ser suficiente, uma vez que parte da construção em território nacional está montada em cima da linha de costa.

Como mais vale prevenir do que remediar, e como este tipo de fenómeno ainda não é possível prever, o professor do departamento de Geologia e Ciência da Universidade de Lisboa, Pedro Costa, aconselha a quem esteja junto à costa, e se houver indícios ou alerta de tsunami, que vá para o local mais alto que conseguir, se possível acima da cota dos 10 metros do nível médio do mar.
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