Maurício Moreira (GCT) vence contrarrelógio Porto-Gaia e a 83ª Volta a portugal em Bicicleta

por RTP
RTP

O ciclista uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor) conquistou hoje a 83.ª edição da Volta a Portugal, depois de ganhar o contrarrelógio da 10.ª e última etapa, em Vila Nova de Gaia.

O 'crono' de 18,6 quilómetros, entre Porto e Vila Nova de Gaia, foi ganho por Moreira, em 25.07 minutos, menos 20 segundos do que o português António Carvalho (Glassdrive-Q8-Anicolor) e 1.04 do que o espanhol Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel).

Depois de ter sido segundo em 2021, Moreira garantiu a primeira vitória na Volta a Portugal, ao ultrapassar o companheiro de equipa Frederico Figueiredo, que terminou em segundo, a 1.09 minutos.

Na terceira posição acabou outro ciclista da Glassdrive-Q8-Anicolor, o português António Carvalho, a 2.35 minutos.

Classificação da 10ª Etapa (Porto-Gaia):

Classificação Geral:


Mauricio Moreira, o 'lutador' reservado que quase desistiu do ciclismo
O ‘lutador’ Mauricio Moreira viu hoje recompensado o seu amor pelo ciclismo, ao sagrar-se campeão da 83.ª Volta a Portugal, dois anos depois de ter pensado desistir da carreira ao ser ‘despromovido’ para uma equipa amadora.

Até à temporada passada, pouco se sabia sobre o ciclista uruguaio que ‘aterrou’ em Portugal em 2021, sem currículo de relevo e vindo dos amadores do Vigo-Rías Baixas, e ‘abanou’ o panorama velocipédico nacional, conquistando sucessivamente o Grande Prémio Douro Internacional e a Volta ao Alentejo, antes de ser o homem mais forte da Volta a Portugal, perdendo-a por apenas 10 segundos, depois de ser penalizado em 40 segundos por abastecimento irregular e de cair no contrarrelógio final.
Embora extremamente educado e delicado, é percetível que está desconfortável na pele de líder, lidando mal com a pressão – enquanto vestiu a amarela, pareceu ‘carregar o mundo nos ombros’, mostrando um semblante mais fechado, que desapareceu assim que o seu companheiro Frederico Figueiredo o ‘destronou’
Desde o primeiro dia que o nome do uruguaio soava com força, na boca de rivais e especialistas, como o grande favorito à vitória final, e Moreira não defraudou as expectativas da Glassdrive-Q8-Anicolor, que preteriu ‘Fred’, claramente o ciclista mais forte desta edição, para que a amarela fosse sua em Gaia.

Numa edição com menos montanha, terreno em que demonstrou debilidades, tanto no Observatório de Vila Nova como na Senhora da Graça, foi a sua natural aptidão para o contrarrelógio, atestada pelo título nacional de júnior em 2012 e de sub-23 quatro anos depois, que lhe permitiu superar hoje o seu colega português.

Nascido em Salto, em 18 de julho de 1985, Moreira só podia ser ciclista, ou não fosse filho do “mítico” (assim o definem os meios locais) Federico Moreira, que representou o seu país em duas edições dos Jogos Olímpicos, ganhou uma medalha de ouro na pista nos Jogos Pan-Americanos de 1987 e venceu seis edições da Volta ao Uruguai.

“O Mauricio tem a família toda dele lá. O pai foi presidente da Federação do Uruguai e foi ciclista. Ele esteve em vários países, agora não me lembro ao certo de todos. Sei que esteve no Brasil, acho que em júnior, e por isso até fala português e tem o ‘acento’ de lá em algumas palavras”, contou à Lusa Rafael Reis.

Colegas de equipa na Glassdrive-Q8-Anicolor, os dois já se conheciam da Caja Rural, onde se cruzaram em 2018, temporada em que até dividiram quarto e que foi a primeira de ‘Mauri’ como profissional.

“Nota-se que luta muito, não deve ser fácil sair da América do Sul e vir para aqui sem família. Há que dar valor a isso”, defendeu o campeão português de contrarrelógio.

Lutador é, provavelmente, o adjetivo que melhor descreve Moreira, que decidiu perseguir o sonho de ser ciclista profissional na Europa, para onde emigrou para representar a equipa de ‘esperanças’ da Caja Rural em 2016.

Mas a aventura na formação espanhola acabou mal: nem a vitória numa etapa (e o segundo lugar na geral) da prova francesa Boucles de la Mayenne convenceu os responsáveis da equipa a prolongarem o seu contrato no final de 2019.

“Em 2020, esteve no Rías Baixas e viveu seguramente um momento difícil, por passar de uma equipa profissional continental para uma equipa amadora. Ganhou muitas corridas em Espanha e veio para aqui, para continuar a demonstrar o grande valor que tem”, notou Rafael Reis.

Numa entrevista ao Jornal de Notícias, depois de conquistar o Grande Prémio Douro Internacional, assumiu que, devido a esta ‘despromoção’, pensou voltar ao seu país e abandonar o ciclismo profissional.
A namorada incentivou-o a continuar e, um dia, a Glassdrive-Q8-Anicolor (anteriormente Efapel), atraída pelos resultados de relevo que foi conseguindo no calendário amador, ofereceu-lhe um contrato.
Apesar de nunca ter pensado viver em Portugal, fixou residência em Santa Maria da Feira, encontrou na sua equipa uma família substituta, sobretudo quando partiu a clavícula no final de abril do ano passado e foi operado, e já este ano, quando teve covid-19 por duas vezes e se lesionou no joelho – nos últimos dias, ressentiu-se da lesão.

Depois de ganhar quase tudo o que havia para ganhar em 2021 – depois da Volta, ainda venceu o prólogo e uma etapa no Grande Prémio Jornal de Notícias -, ‘Mauri’ teve este ano uma época para esquecer, acumulando desistências e resultados dececionantes até aparecer com ‘estrondo’ no Grande Prémio Anicolor.

Chegou a esta edição com a confiança ‘beliscada’ e assumiu-o, com sinceridade e humildade, nos primeiros dias, recuperando-a progressivamente com os resultados consistentes que acumulou até vencer na Torre.

Reservado, o uruguaio de 27 anos não gosta da exposição – nem da sua, nem dos seus, embora abra um sorriso cada vez que o tema é a cadela Maki -, mas nesta Volta conquistou todos com o seu jeito de menino e o bom coração.
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