Jonas Vingegaard entregou a 78.ª Volta a Espanha a Sepp Kuss, com o dinamarquês a demonstrar esta quinta-feira na estrada, em dia de nova exibição de Remco Evenepoel, querer efetivamente que o ciclista norte-americano vista a vermelha até ao fim.
Após a intensa polémica das duas jornadas anteriores, a Jumbo-Visma finalmente estabeleceu uma hierarquia na equipa, com Vingegaard, sobretudo, e Primoz Roglic a respeitarem a camisola vermelha do seu colega, que tem agora 17 segundos de vantagem sobre o dinamarquês e 1.08 minutos sobre o esloveno e está bem lançado para ganhar a sua primeira grande Volta no domingo, em Madrid.
“É bom poder retribuir e fazer algo pelo Sepp. Ele fez tanto por mim e pelo Primoz. Obviamente, gosto de poder retribuir hoje e também no sábado”, disse o vice-líder da geral, antecipando o derradeiro teste à vermelha de Kuss.
Peça basilar nas vitórias de Vingegaard e Roglic em anteriores grandes Voltas, o ‘adorado’ gregário de luxo da Jumbo-Visma, que na quarta-feira recebeu apoio de vários quadrantes do ciclismo, após ser atacado pelos seus companheiros na subida ao Angliru, limitou-se a dizer que a vitória final “está mais próxima”, depois de uma jornada em que Evenepoel somou a terceira etapa nesta edição e o 50.º triunfo profissional, cruzando a meta com o tempo de 4:47.37 horas.
O belga de Soudal Quick-Step, o italiano Damiano Caruso (Bahrain Victorious), que foi segundo, a 4.44 minutos, e o dinamarquês Andreas Kron (Lotto Dstny), terceiro na etapa, a 5.10, distanciaram-se do pelotão ainda nos primeiros 20 dos 178,9 quilómetros entre Pola de Allande e o alto de La Cruz de Linares.
Os três integraram uma fuga constituída ainda por Egan Bernal, Julien Bernard (Lidl-Trek), Lewis Askey e Lorenzo Germani (Groupama-FDJ), Nico Denz (BORA-hansgrohe), Jarrad Drizners (Lotto Dstny), Andrea Piccolo (EF Education-EasyPost), Imanol Erviti (Movistar), Max Poole (DSM-firmenich), Hugo Hofstetter (Arkéa Samsic) e Paul Ourselin (Total Energies), que teve uma vantagem que superou a dezena de minutos.
O incansável jovem belga, em fuga pelo segundo dia consecutivo, não se poupou a esforços, sendo o mais ativo na fuga, quer para assegurar já hoje virtualmente a vitória na classificação da montanha, quer para tentar somar um novo triunfo em etapas, depois de já ter conquistado as terceira e 14.ª.
O ritmo de Evenepoel foi fazendo ‘vítimas’ no Alto de Tenebredo, a terceira categoria que antecedia a segunda de três contagens de primeira da jornada de hoje, mas foi na primeira subida a La Cruz de Linares que a fuga definitivamente se desmembrou, com o ainda campeão em título a ficar na frente na companhia do experiente Caruso e de Poole.
Enquanto na dianteira a luta pela etapa estava entregue aos fugitivos, nomeadamente ao líder da montanha, que se isolou a cerca de 30 quilómetros da meta, no grupo de favoritos a Bahrain Victorious assumiu novamente as despesas da corrida, tal como no Angliru, tentando explorar as debilidades demonstradas por Juan Ayuso (UAE Emirates) na véspera, de modo a levar Mikel Landa ao quarto lugar da geral.
Aleksandr Vlasov (BORA-hansgrohe) foi o primeiro a tentar a sua sorte entre os ciclistas no top-10 da geral, para resposta imediata da Movistar, na defesa do sexto posto de Enric Mas. Como já é tradição, João Almeida (UAE Emirates) perdeu o contacto com o grupo de favoritos nessa altura e fez uma corrida de trás para a frente, acabando a 18.ª etapa na 17.ª posição, a 10.23.
Após as fortes críticas de que a Jumbo-Visma foi alvo nos últimos dias, Jonas Vingegaard colocou hoje as ‘vestes’ de fiel gregário de Sepp Kuss, demonstrando estar disposto a abdicar da sonhada ‘dobradinha’ Tour-Vuelta para ajudar o seu companheiro norte-americano.
O gesto do atual bicampeão da Volta a França, que impôs o ritmo no grupo dos primeiros da geral, condicionou qualquer iniciativa de Primoz Roglic, com o trio da equipa neerlandesa a permitir até que Landa e Ayuso lutassem entre si pelo quarto lugar, antes de alcançarem novamente os espanhóis.
Hoje, Vingegaard comprovou que falava verdade quando disse, na quarta-feira, que queria que Kuss ganhasse a Vuelta: além de trabalhar, diminuiu o ritmo de pedalada para cortar a meta nove segundos depois do seu companheiro, que concluiu a etapa a 9.29 de Evenepoel, num grupo no qual estavam Ayuso, Mas e Roglic.
O top-10 da geral não sofreu alterações, com Almeida a manter-se em nono, agora a 10.20 minutos do camisola vermelha. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) e Nelson Oliveira (Movistar) concluíram a tirada a quase 29 minutos do vencedor e ocupam, respetivamente, os 46.º (a 2:09.57 horas) e 51.º (a 02:14.12 horas) postos da classificação.
Já André Carvalho (Cofidis), 124.º na tirada a 33 minutos, e Rui Oliveira, 147.º a 35.45, estão entre os últimos da geral, com o primeiro a ser 139.º e o ciclista da UAE Emirates a ser efetivamente o lanterna-vermelha, na 146.ª posição, já a mais de quatro horas de Kuss.
Na sexta-feira, os sprinters têm nova oportunidade nos 177,5 quilómetros essencialmente planos entre La Bañeza e Íscar.