G20 a derrapar na resposta ao aquecimento da Terra

por Carlos Santos Neves - RTP
Os dados sobre as emissões das maiores economias mundiais estão num relatório da aliança internacional Climate Transparency David Gray - Reuters

A perdurar o atual patamar de emissões poluentes entre as 20 maiores economias mundiais, as temperaturas planetárias deverão sofrer, nos próximos anos, um aumento médio de 3,2 graus Celsius. Ou seja, mais do dobro da fasquia de 1,5 graus estabelecida pelo Acordo de Paris de 2015. O aviso surge num relatório da Climate Transparency.

No grupo das 20 maiores economias, só um país, a Índia, permanece sobre os carris em matéria de política energética, concluem os autores do trabalho a apresentar esta quarta-feira pela aliança internacional Climate Transparency.O limite de 1,5 graus Celsius para o aquecimento global, definido em Paris, é defendido como a última oportunidade para preservar, por exemplo, os recifes de coral ou o ecossistema ártico.


Outra conclusão deste relatório, noticiado pela edição online do jornal britânico The Guardian, pende sobre as lideranças políticas do G20: a indústria dos combustíveis fósseis continua a concentrar o grosso das atenções dos governos, em detrimento do aconselhamento científico.

Em 2017, 15 dos países que formam o G20 reportaram aumentos nas emissões de gases com efeito de estufa. Em rota de colisão, portanto, com as metas fixadas há três anos no Acordo de Paris, celebrado ao abrigo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

Os números mostram, designadamente, que 82 por cento da energia consumida nos países apontados pelo relatório resulta de carvão, petróleo ou gás. E isto com políticas de incentivos financeiros a combustíveis fósseis que, na última década, contrariaram, na prática, o recurso a fontes energéticas renováveis: as energias eólica e solar, desde logo.

“O fosso ainda é muito grande. O G20 não está a avançar suficientemente depressa”, alerta o perito alemão Jan Burck, um dos autores do relatório da Climate Transparency, igualmente citado pelo Guardian.
“A velha economia”

Arábia Saudita, Rússia e Turquia são, ainda de acordo com o relatório, os países com as políticas que mais prejudicam os esforços de resposta ao aquecimento planetário – caso se generalizassem, tais índices de emissões, calculam os autores, empurrariam os termómetros para uma subida média de quatro graus Celsius.

Quanto à China, no topo da tabela de emissões, há registo, no mesmo trabalho, de dois anos de relativa estabilização, graças a uma redução da dependência do carvão. Todavia, esta tendência começou a inverter-se em 2017.

A mais veloz das transições energéticas foi protagonizada pelo Reino Unido, que apresenta um recuo de 7,7 por cento no recurso a combustíveis fósseis de 2012 a 2015. Mas também neste caso é significativo o risco de estagnação, tendo em conta a política de cortes nos apoios à eficiência energética entretanto assumida por Londres.

“Há uma grande luta por parte da indústria dos combustíveis fósseis contra as renováveis baratas. A velha economia está bem organizada e eles têm aplicado uma enorme pressão de lobbying sobre os governos para que gastem dinheiro dos impostos a subsidiar o velho mundo”, acusa Jan Burck.

Se a comunidade internacional quiser evitar um aquecimento planetário acima dos 1,5 graus, adverte-se no relatório, o G20 terá de conseguir uma redução sustentada das emissões poluentes nos próximos dois anos e meio.

A próxima conferência das Nações Unidas sobre o clima, a COP24, terá lugar em dezembro na Polónia. Tratar-se-á de estabelecer um calendário de dois anos para que os compromissos dos diferentes países se traduzam em resultados concretos. Haverá pelo menos um par de vozes previsivelmente resistentes às metas: a da América de Donald Trump e a de um Brasil em transição para a Presidência de Jair Bolsonaro.
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