Uma delegação de deputados portugueses está esta segunda-feira em Espanha com a missão de avaliar o impacto da instalação de uma mina de urânio a céu aberto perto da fronteira de Almeida. Trata-se da mina de Retortillo, em Salamanca.
“Queremos que haja partilha de informação, que haja uma articulação entre as autoridades portuguesas e espanholas no sentido de perceber os reais impactos ambientais da implantação da mina de urânio”, enfatizou o deputado Pedro Filipe Soares.
A delegação de parlamentares portugueses tem previstas reuniões com autarcas e representantes de diferentes entidades do país vizinho.
Pedro Soares, do Bloco de Esquerda, considera mesmo que esta situação tem semelhanças com o caso da central de Almaraz, onde as autoridades espanholas decidiram construir um armazém de resíduos nucleares sem consultar Lisboa.
Ouvido na manhã informativa da RTP3, o deputado bloquista afirmou que “a principal preocupação é que é reconhecido já pelas autoridades portuguesas que a eventual implantação de uma mina de urânio em Retortillo tem impactos diretos no território português e, como tal, as autoridades espanholas estão obrigadas a um processo de avaliação do impacto ambiental transfronteiriço”.
“Até agora isso não foi feito e isto, de facto, faz lembrar o que se passou com Alamaraz, que obrigou a que o Governo português tivesse de fazer uma queixa à Comissão Europeia para obrigar a que as autoridades espanholas prestassem informação, partilhassem informação sobre o caso do armazém de resíduos nucleares”, lembrou.
O deputado frisou que a mina de Retortillo “ficaria a poucos quilómetros da fronteira portuguesa, em Almeida”.
Marcelo Sobral, Jorge Esteves, Virgílio Matos - RTP
“Portanto, a contaminação radioativa através do ar tem uma enorme probabilidade e, para além disso, a mina fica em cima de um afluente do Rio Douro, que quer dizer que toda a drenagem de águas, todas as escorrências da mina vão acabar por ir parar ao Rio Douro”, vincou.
Autarcas ouvidos
Pedro Soares adiantou que a delegação de deputados esteve reunida na noite de domingo com dezenas de autarcas no município de Almeida.
“Houve um autarca que disse bem, aqui de Almeida levaram-nos a Caixa Geral de Depósitos, os Correios, etc. Por favor não deixem que nos levem a saúde. E isto é bem a demonstração da enorme preocupação que está a haver relativamente a este problema. É necessária uma intervenção urgente do Governo português, exigindo que exista de facto essa avaliação de impacto ambiental transfronteiriço e que as autoridades espanholas partilhem informação sobre essa matéria”, insistiu.
Os deputados portugueses, indicou ainda Pedro Soares, estão já com membros “do Congresso dos Deputados de Espanha, de autoridades locais e regionais de Espanha”.
“Esta é uma exigência que está também a ser feita do lado espanhol, não é apenas do lado português. Os alcaides de Villa Vieja de Yeltes, de Boada, de Retortillo estão a exigir mais informação sobre esta matéria e de facto há aqui uma nuvem obscura à volta de todo este processo”, apontou.
Em contraste, sublinhou o mesmo deputado, não houve ainda qualquer partilha de informação por parte do Governo espanhol.