Laboratório de ideias e ideais como o Estado laico, a educação obrigatória e gratuita, a redução do horário de trabalho e o descanso obrigatório ao Domingo, a República teve contra ela os sectores mais conservadores do país, mas também uma parte do operariado, dominado pelos anarco-sindicalistas, para quem governo e Estado eram realidades a abater.
Teve também contra ela, do ponto de vista histórico, a imagem criada pelo salazarismo: um tempo de disputas políticas sem tréguas nem princípios, de irresponsabilidade política e caos social.
É o verdadeiro retrato da Primeira República que aqui se procura, através dos depoimentos - inéditos - de António Barros Machado, neto de Bernardino Machado, e Maria Alzira Lemos, neta de Afonso Costa, de anarco-sindicalistas e sobreviventes da Primeira Guerra Mundial. Igualmente inéditas são muitas das imagens, extraídas dos arquivos do Exército, do Imperial War Museum (Grã-Bretanha), Gaumont (França) e Cinemateca Portuguesa . Um outro filme, também inédito, veio do espólio anarquista da Biblioteca Nacional, e foi recuperado no laboratório dos Arquivos da RTP.
Estes depoimentos e imagens ajudam a compreender melhor o que foi, de facto, a Primeira República, que nunca teve, afinal, tempo de consolidar-se e, sempre atacada internamente pelos monárquicos, que nunca desarmaram, acabou por não resistir às consequências da Primeira Guerra Mundial.
Jornalista: Maria Augusta Seixas
Conselheiro científico: Professor-Doutor Fernando Rosas.