J. Rentes de Carvalho - Tempo Contado
Ep. 4 27 Nov 2018
J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia, mas a sua ascendência transmontana traçou o seu carácter e marcou a sua vida e a sua obra, sendo o seu romance "Ernestina" considerado a obra máxima da literatura portuguesa protagonizada pelas gentes de Trás-os-Montes. Tornou-se um cidadão do mundo, porque muito cedo afirmou as suas ideias e se revoltou contra o regime "salazarento", opressivo, mesquinho e ditatorial que então governava Portugal. Viveu sucessivamente no Rio de Janeiro, S. Paulo, Nova Iorque e Paris, até se fixar em Amesterdão, em 1956, onde se licenciou com uma tese intitulada "O Povo na Obra de Raul Brandão". Na Universidade de Amesterdão foi professor de Literatura Portuguesa entre os anos de 1964 e 1988. Vivendo na Holanda, mas sempre com um pé em Portugal, J. Rentes de Carvalho é um observador de duas realidades e dois povos, que vê como diferentes em quase tudo e com mordacidade se habituou a criticar e desmistificar. Foi assim que surgiu o convite para escrever um livro precisamente sobre os holandeses, "Com os Holandeses", uma obra "de escárnio e maldizer" sobre "um povo demasiado arrumado, bruto, obediente e desapaixonado", que curiosamente teve uma aceitação aparentemente improvável por parte dos holandeses e se tornou um best-seller logo que foi publicado, em 1972, e já vai na 13ª edição. O livro só foi publicado em Portugal em 2009 e isso é resultado de uma espécie de recusa que os jornais e revistas da especialidade tiveram até então em divulgar a obra de J. Rentes de Carvalho ou sequer em lê-la. Mas mesmo agora, J. Rentes de Carvalho não deixou, nem se deixa iludir com o ambiente cultural português, que caracteriza com a sua mordacidade habitual: "A julgar pelo que conheço e pelo que leio nos jornais e semanários portugueses, o país brilha em todos os campos. O cinema, a literatura, as artes plásticas, a música, pelos jeitos tudo isso ferve, e quase não se passa semana sem o anúncio da aparição de um génio. O mundo, infelizmente, parece não se aperceber de tanta genialidade".