Quando pensamos num livro juvenil, é difícil aceitarmos que estamos perante um clássico da literatura portuguesa do século XX... e, muito menos, perante o maior exemplo do neo-realismo, literatura de combate, nascida da oposição ao Estado Novo. Soeiro Pereira Gomes conseguiu que o aceitássemos e que o continuemos a aceitar com os seus "Esteiros". Arrancando das entranhas do Ribatejo a crueldade e a dureza das vidas de um grupo de crianças operárias, Soeiro deu-nos um retrato único da ternura, da simples (e barata) alegria de ter uma infância, porque, mesmo quando o mundo os tenta matar, os sonhos ainda existem. Maquineta, Gaitinhas, Sagui e Gineto são apenas alguns destes meninos que têm na recolha do barro e na sua prensagem em telhas o ganha-pão e o ganha-trocos para a visão que é um carrossel. Por entre aventuras pueris e as cheias do Tejo, que tudo levam à frente e que desgarram as vidas de quem a ele está ligado, surge a crítica social e o tom paternalista que quer conduzir o povo à liberdade através do comunismo.
Alhandra está marcada pela passagem do Tejo. Nós ficamos marcados pelas histórias destes meninos que Soeiro trouxe dos Telhais.