Uma análise ao sangue pode ajudar a despistar a doença de Parkinson face a patologias neurológicas semelhantes, conclui um estudo hoje publicado na edição digital da revista Neurology, da American Academy of Neurology.
Segundo o estudo, o teste sanguíneo poderá ser tão preciso quanto uma análise ao fluido cerebrospinal (do cérebro e da medula espinal) para tentar determinar, na fase inicial da patologia, se os sintomas são causados pela doença de Parkinson ou por distúrbios parkinsonianos atípicos, como degeneração corticobasal, atrofia de múltiplos sistemas e paralisia supranuclear progressiva (doenças raras relacionadas com o movimento tal como a de Parkinson e com sintomas parecidos).
Identificar o quanto antes estas doenças torna-se importante para os médicos, uma vez que as expectativas em relação à progressão das patologias e aos possíveis benefícios do tratamento diferem entre a doença de Parkinson e os distúrbios parkinsonianos atípicos.
"Descobrimos que concentrações de uma proteína do sistema nervoso no sangue podem distinguir estas doenças com a mesma exatidão que as concentrações da mesma proteína no fluido cerebrospinal", afirmou um dos autores do estudo, Oskar Hansson, da Universidade de Lund, na Suécia.
A proteína chama-se neurofilamento de cadeia leve e faz parte das células cerebrais (neurónios), podendo ser detetada tanto na corrente sanguínea como no fluido cerebrospinal quando estas células morrem.
Na investigação, os cientistas examinaram 504 pessoas de três grupos de estudo, incluindo 244 com a doença de Parkinson e 79 saudáveis.
Dois grupos, um no Reino Unido e outro na Suécia, tinham pessoas saudáveis e doentes com Parkinson ou com distúrbios parkinsonianos atípicos há quatro a seis anos. Um terceiro grupo englobava pessoas com estas doenças há três anos ou menos.
Os investigadores observaram que o teste sanguíneo era tão preciso quando a análise ao fluido cerebrospinal para diagnosticar se uma pessoa tinha Parkinson ou distúrbios parkinsonianos atípicos, quer na fase inicial da doença, quer quando vivia com a patologia há mais tempo.
Os níveis da proteína eram maiores nas pessoas com distúrbios parkinsonianos atípicos e menores nos doentes com Parkinson e nas pessoas saudáveis.
De acordo com o neurologista Oskar Hansson, as "baixas concentrações da proteína do sistema nervoso [neurofilamento de cadeia leve] no sangue dos doentes de Parkinson pode dever-se a uma menor lesão das fibras nervosas, quando comparada com a de pessoas com distúrbios parkinsonianos atípicos".
Uma limitação dos testes para a proteína em causa é que não permitem despistar os diferentes distúrbios parkinsonianos atípicos.
Descrita pela primeira vez pelo médico britânico James Parkinson, em 1817, a doença de Parkinson, que é crónica, afeta os movimentos corporais, levando a tremores, rigidez, lentidão, instabilidade na postura e a alterações da marcha.
A doença aparece quando os neurónios de uma determinada região cerebral, a substância negra, morrem, sendo que, quando surgem os primeiros sintomas, já há perda de 70 a 80 por cento destas células, descreve a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, na sua página na internet.