Rui Rio analisa Orçamento e alerta para risco de Portugal "bater contra a parede"

por Christopher Marques - RTP
Lusa

Rui Rio foi o convidado desta quarta-feira da Grande Entrevista. O ex-autarca vê "uma forma diferente" de elaborar o Orçamento na proposta de Centeno, mas considera errada uma tão rápida devolução de rendimentos. Rio teceu críticas ao caso Banif e ao governador do Banco de Portugal e, quando questionado sobre o diferendo entre a TAP e a autarquia do Porto, alertou para os perigos da centralização.

O ritmo da devolução de rendimentos é demasiado rápido para Rui Rio. Na Grande Entrevista da RTP, o autarca defendeu que a austeridade não “acaba completamente” mas que há “uma forma diferente” de elaborar o orçamento.

“Não quer dizer que eu esteja de acordo com esta forma diferente de elaborar o Orçamento, embora a entenda”, explicou.
“O problema é se estamos a dar para amanhã estarmos a tirar porque estamos a correr riscos demasiado grandes”.

“Há condições para devolver às pessoas parte daquilo que se está a denominar austeridade, parte daquilo que se cortou”, tendo mesmo defendido que isso é “positivo”.

No entanto, Rio tem dúvidas quanto à dose que considera “elevada”. O ex-autarca admite mesmo que votaria contra o Orçamento se fosse deputado.

“O problema é se estamos a dar para amanhã estarmos a tirar porque estamos a correr riscos demasiado grandes”, explicou.

Rio tem receio que Portugal acabe por “bater contra a parede”. “Disparar o endividamento público e o endividamento externo” e “voltar a ter outro resgate”, esclareceu.

Veja a Grande Entrevista a Rui Rio na íntegra no RTP Play

“O próprio programa do Partido Socialista era bem mais contido e aproximava-se disto que eu entendo que deveria ser feito. Isto é o preço do acordo parlamentar com a extrema-esquerda”, afirmou.

Rio considera que o PS está a correr um risco para as próximas eleições, mas também os partidos mais à esquerda correm perigo.

“Ou eles se conseguem integrar no arco da governação e deixam de exigir ao PS tudo aquilo que é quase impossível e que pode atirar a economia para um buraco” ou “permanecem a exigir tudo e mais alguma coisa e vão ser arrumados em definitivo para a marginalidade política”.
Estado "não o volta a dar"
O autarca concorda com alguns dos aumentos de impostos previstos na proposta de Orçamento do Estado. Rui Rio aprova o aumento do imposto de selo no crédito ao consumo, uma vez que “consegue receita” e trava o endividamento das famílias.

O ex-autarca também refere que estaria de acordo com o aumento do Imposto sobre Produtos Petrolíferos mas se esse fosse inferior e durante um período limitado – enquanto o preço do gasóleo estiver mais baixo. Mas Rio vê um grande problema.

“Sabemos que o Estado quando vai buscar mais dinheiro de impostos, depois de o ter não o volta a dar”, lamentou. “Sabemos que o Estado quando vai buscar mais dinheiro de impostos, depois de o ter não o volta a dar”.

O ex-autarca lamenta toda a polémica que houve sobre o Orçamento e considera que o país perde com "o barulho" e toda "a polémica". O economista acredita que esta não teria sido necessária com um draft mais equilibrado.

Sobre o ministro Mário Centeno, Rio considera que este “cai na política assim de repente” e que é necessário “dar um desconto e fazer uma avaliação, não agora, mas com tempo”.

“É muito mais fácil falar de fora”, aclarou.
"Não cabe na cabeça de ninguém"
Forte nas críticas ao desenrolar do caso Banif, Rui Rio disse não entender o que aconteceu com o Banco Internacional do Funchal.

“Foi desmantelado, foi vendido às peças e custou-nos a todos nós, nesse fim-de-semana, 2,2 ou 2,3 mil milhões de euros”, critica, perante o “negócio fantástico” que o banco Santander fez.

“Já viu se eu, quando era Presidente da Câmara Municipal do Porto, num fim-de-semana, lhe vendia a si um terreno da câmara por dez tostões”, exemplificou, antes de acrescentar: “Isto não cabe na cabeça de ninguém”.


“Isto não pode ser e tem de haver responsáveis por isso”, classificando o resultado de “catastrófico”. “Porque é que foi assim? Não me aventuro a dizer aquilo que acho porque só o acho”, deixou no ar.

O economista criticou também a decisão do Banco de Portugal em relação aos obrigacionistas de dívida sénior do Banco Espírito Santo e avisou que poderá haver custos para o Estado quando forem apresentadas queixas em tribunal.

“E quando nos caírem os dois milhões em cima mais os juros? É uma coisa tipo SCUT, tipo PPP. Um passivo oculto. Deixo para amanhã a coisa e depois há de se ver que já não é comigo”.
Costa é "negociador nato"
Sobre o atual executivo, Rui Rio considerou que António Costa é “um negociador nato”, mas sublinhou que não sabe se o primeiro-ministro conseguirá manter esta negociação com os partidos mais à esquerda. “Se queria falar, tinha-me candidatado. Se não me candidatei, perdi um bocado a liberdade de falar”.

Em relação ao papel do PSD na oposição, Rio acredita que o partido deve analisar as matérias caso a caso e “não deitar abaixo só por deitar abaixo”.

O autarca prefere não comentar a recandidatura de Passos Coelho à liderança social-democrata.

Afirma que não sabe se marcará presença no congresso mas que este assunto é um “não caso” e que a presença ou ausência não pretende mostrar qualquer posição.

O economista admite que gostaria de ver o PSD a virar mais ao centro ou à esquerda. Sobre Marcelo Rebelo de Sousa, Rio, que chegou a admitir a candidatura a Belém mas não avançou, diz que se deve manter calado até dia 9 de março.

“Se queria falar, tinha-me candidatado. Se não me candidatei, perdi um bocado a liberdade de falar”.
Porto e a TAP

Sobre o diferendo entre a Câmara Municipal do Porto e a TAP, Rui Rio defendeu que a companhia aérea não pode “continuar a ser um sorvedouro de dinheiros públicos” e “acumular prejuízos e greves”.


O ex-presidente da Junta Metropolitana do Porto considera que a estratégia da TAP “em termos de serviço público não pode ser nunca abandonar ou tornar pequenino o aeroporto de Sá Carneiro” e alertou para os riscos da centralização.

“Nunca teremos um país equilibrado se cada vez centrarmos mais em torno da capital”, sublinhou.

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