Ministério de Schäuble teve negócios com firma fictícia no Panamá

por RTP
Yves Herman, Reuters

A Bundesdruckerei, equivalente alemão da Casa da Moeda, utilizou uma firma fictícia sediada no Panamá para fazer negócios na Venezuela. Um whistleblower denunciou os negócios ao Ministério das Finanças. O Ministério, que tutela a Bundesdruckerei, não quis saber.

Segundo a pré-publicação de uma reportagem que vai sair na revista Der Spiegel, o informante dirigiu-se por várias vezes ao Ministério Federal das Finanças, manifestando a sua vontade de denunciar negócios duvidosos de que tinha conhecimento directo. O Ministério não quis saber e, ano após ano, recusou as informações oferecidas por aquele insider.

Antes ainda de o assunto passar pelas mãos do ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, fora submetido ao seu secretário de Estado, Werner Gatzer, que representava o Ministério no Conselho Fiscal da Bundesdruckerei. O insider queria relatar os negócios da Bundesdruckerei com uma firma fictícia de nome Billingsley Global Corporation, que a própria Bundesdruckerei tinha criado recorrendo aos serviços do escritório de advogados Mossack Fonseca.

Inicialmente, em 2012 e 2013, o insider dirigira-se a esse Conselho Fiscal integrado por Gatzer, mas este mandou responder-lhe através de um advogado que não desejava voltar a ser contactado por ele. Nesse momento ou noutro não especificado, o insider dirigiu-se pessoalmente por carta, tanto a Gatzer como a Schäuble - nos dois casos em vão.

Agora, tanto a Bundesdruckerei como a Billingsley Global Corporation aparecem nos Panama Papers. Fica-se também a saber que Gatzer tinha uma procuração como representante plenipotenciário da empresa fictícia e que era director-geral de uma outra empresa de nome Billingsley Global Investment, apesar de uma anterior declaração juramentada que fizera, a negar que alguma vez tivesse tido responsabilidades de topo na Billingsley Global Corporation.

Reagindo às mais recentes revelações, a Bundesdruckerei tem actualmente em curso uma auditoria interna sobre os negócios na Venezuela. O impacto político das revelações é ainda difícil de prever: embora a Bundesdruckerei tenha sido privatizada em 1994, a instabilidade do seu estatuto jurídico pós-privatização, com sucessivas mudanças de proprietário, levara em 2009 à sua recompra pelo Estado. Em última análise, o responsável pelo que se passa nessa casa voltou, portanto, a ser o super-ministro Wolfgang Schäuble.
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