Trinta mil lampreias subiram o Mondego em dois anos pela nova escada em Coimbra

por Lusa

Mais de 30 mil lampreias subiram o rio Mondego, em 2013 e 2014, através da nova escada de peixes de Coimbra, que permitiu ainda a passagem de pelo menos dois milhões de peixes diversos nesse período, segundo dados oficiais.

Em 2013, uma equipa da Universidade de Évora responsável pela monitorização daquele equipamento registou a passagem de 8.333 lampreias, número que aumentou para cerca de 22 mil exemplares em 2014.

Reivindicação antiga das populações ribeirinhas, autarquias e associações, incluindo a Confraria da Lampreia de Penacova, apoiada por diferentes partidos, a passagem de peixes foi construída junto ao açude-ponte, na margem esquerda do rio, tendo começado a funcionar em 2011.

Nos últimos dois anos, "o maior número de passagens de lampreia-marinha ocorreu nos meses de março, abril e maio", disse à agência Lusa o investigador Pedro Raposo de Almeida, da Universidade de Évora e do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE), organismo que reúne seis universidades e apoia o trabalho de monitorização.

Investimento de 3,5 milhões de euros, a nova escada "foi uma medida importante" para a recuperação das populações piscícolas, ao permitir o acesso a um troço do rio com cerca de 31 quilómetros, entre Coimbra e Penacova, adiantou.

Nos anos 80 do século passado, o açude-ponte de Coimbra veio reforçar a regularização dos caudais, que a montante já era feita pela barragem da Aguieira, tendo igualmente desviado do centro de Coimbra trânsito que outrora atravessava a cidade.

Mas esta obra teve também impactos nefastos no ambiente: secou milhares de árvores na Mata do Choupal, ao baixar drasticamente o nível freático a jusante, e bloqueou a passagem da lampreia e de vários peixes, todos de reconhecido valor económico na região, como o sável, a savelha, a enguia, o barbo, a boga, a tainha e a truta.

"As barragens, açudes e outros obstáculos construídos nos rios e ribeiras portugueses interrompem a continuidade longitudinal dos cursos de água, afetando principalmente as espécies que migram entre o mar e o rio (diádromas)", para reprodução (anádromas) ou para crescimento (catádromas), disse Pedro Raposo de Almeida.

A passagem de peixes de Coimbra, gerida pela Agência Portuguesa do Ambiente, tem demonstrado "elevada eficácia e eficiência para as espécies alvo".

No caso das lampreias, o seu crescente afluxo é favorecido por "anos hídricos bons", como 2013 e 2014, e por uma espécie de "comunicação química" que as larvas (que permanecem quatro a cinco anos no rio) estabelecem há milhões de anos com os indivíduos adultos.

"As larvas libertam feromonas que indicam o caminho às lampreias adultas que estão no mar", explicou o biólogo, indicando que a suspensão das capturas na chamada época da lampreia, entre janeiro e abril, tem igualmente facilitado a subida dos ciclóstomos, já que os pescadores são obrigados a remover todas as redes que colocam no rio num período, que este ano é de cinco dias e decorre de 02 a 06 de março.

A equipa de Pedro Raposo de Almeida é ainda responsável pelo projeto "Reabilitação dos habitats de peixes diádromos na bacia hidrográfica do Mondego", financiado pelo Ministério da Agricultura e do Mar e pelo Fundo Europeu das Pescas, que envolve autarquias e outras entidades e contempla a realização de intervenções nos açudes do rio, entre Formoselha, em Montemor-o-Velho, e Penacova.

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