Em direto
Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Três histórias da emigração portuguesa em França premiadas pelo Governo

por Lusa

Três emigrantes portugueses, residentes em França desde finais dos anos 60, foram galardoados esta quinta-feira, em Paris, por serem símbolos de uma "história de sacrifício, luta e militância" da emigração portuguesa, declarou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.

O Consulado-Geral de Portugal em Paris encheu-se de personalidades da comunidade portuguesa em França para assistir à entrega das medalhas da Ordem do Mérito a Abílio Morgadinho Laceiras e a António Pereira Marques e da medalha de mérito das comunidades portuguesas a Mário Cantarinha.

"Esta comunidade tem uma história de sacrifício, luta e militância. Estes homens traduzem esta história, são atores e testemunhas vivas desta história", justificou José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, na cerimónia de entrega das insígnias.

Tanto Abílio Morgadinho Laceiras como António Pereira Marques ficaram surpreendidos com a atribuição da Ordem do Mérito, uma distinção do Presidente da República que já tinha sido entregue a várias outras personalidades a 10 de junho, no Dia de Portugal.

Abílio Morgadinho Laceiras, 72 anos, chegou "a salto" à "mítica gare de Hendaia", em França, no final de 1968, "com a mulher grávida de cinco meses" e "sem saber que rumo a tomar", tendo encontrado pessoas conhecidas na estação que o levaram para o leste de França.

"Entregaram-me a um amigo e parente lá da minha terra [Fundão] que me ajudou, mas que me obrigou a pagar o aluguer dos talheres e achei isso imoral. Muitos portugueses iam chegando ao leste de França e eram vítimas de pessoas - porque há que reconhecer que as fortunas feitas aqui não foram só a trabalhar! Fiz uma jura que havia de fazer tudo e mais alguma coisa para impedir essa exploração", contou Abílio Laceiras à Lusa.

Foi então que Abílio Laceiras começou a vida associativa "até hoje", continuando a denunciar "o drama da emigração", talvez ainda pior [no presente] que no passado".

Abílio diz ter sido obrigado "a dar à sola" do Portugal salazarista por ter sido apanhado, sem o saber, com jornais do Avante, tendo acabado por ficar por França onde foi operário, funcionário bancário, mecânico, sindicalista, dirigente associativo, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas e correspondente do Jornal do Fundão.

António Pereira Marques, 73 anos, chegou a França em 1967, quando se apercebeu que "não havia na paisagem francesa" nada de português: nem jornais, nem artistas, nem mercados portugueses, nem produtos, relembrou, em declarações à agência Lusa.

Daí nasceu a ideia de formar uma associação de cultura portuguesa na cidade de Aulnay-sous-Bois, nos arredores de Paris, que inicialmente tinha como sede a sua própria casa, onde se davam aulas de língua portuguesa e muita assistência aos emigrantes que não sabiam falar nem escrever francês.

"Penso que hoje, os alunos da escola portuguesa - cujo ensino a minha mulher ministrava - devem ser milhares porque eram às centenas por ano", contou o homem que viria a ser funcionário no Consulado-Geral de Paris de 1970 até 2012.

Mário Cantarinha, de 59 anos, chegou a França em 1969, com 12 anos, e construiu uma carreira fotográfica baseada nas paisagens, monumentos e rostos portugueses, uma "paixão" que nasceu quando ele ainda vivia com a avó no Folgosinho, distrito da Guarda, enquanto os pais já estavam em França.

"Para irmos tirar as fotografias para mandar aos meus pais, passávamos pela serra. Havia aquelas paisagens lindíssimas e eu dizia: "Olha, avó, um dia que eu tenha uma máquina para tirar fotografias, hei de meter estas paisagens belíssimas em papel e hei de fazer exposições", descreveu o fotógrafo à Lusa.

A atribuição da medalha de mérito das comunidades portuguesas pela parte do secretário de Estado das Comunidades surpreendeu Mário Cantarinha porque "sempre trabalhou sem o apoio de ninguém", algo que acha que não vai mudar a partir daqui.

Tópicos
PUB