Uma equipa de reportagem da RTP viajou desde a nascente do rio Tejo na Serra de Albarracin, em Espanha, até à sua foz em Lisboa para lhe mostrar o estado em que se encontra o maior rio da Península Ibérica.
O Tejo com 1007 quilómetros de extensão é o maior rio da Península Ibérica.
A velha aldeia de Albarracin cravada na encosta da montanha com o seu castelo parece que parou no tempo.
Poucos quilómetros depois da nascente, as águas do Tejo arrefecem o reator da central nuclear de Trillo. Foi a última das oito centrais nucleares em Espanha a entrar em funcionamento em 1988.
O polémico transvase
É na barragem de Entrepenas, a menos de cem quilómetros da nascente do Tejo que é feito o polémico transvase de Segura. Oitenta por cento das águas do rio Tejo são aqui desviadas para o regadio dos campos agrícolas da Andaluzia.
O transvase Tejo-Segura construído ainda no tempo do General Franco serve também para o abastecimento de água potável às regiões turísticas do Sul de Espanha.
Uma das maiores pressões que o Tejo suporta em Espanha é a sua passagem pela região de Madrid que tem cerca de seis milhões de habitantes. O rio Jarama junta-se ao Tejo em Aranjuez, e transporta toda a poluição da capital espanhola.
Na sua passagem em Aranjuez na Comunidade Autonómica de Madrid, o rio Tejo bordeja o Palácio Real.
Tejo em Toledo
Em Toledo, o caudal do rio Tejo praticamente não sofre alterações durante todo o ano.
Alejandro Cano, da Plataforma Espanhola de Defesa do Tejo, explica que há apenas algumas décadas atrás, as pessoas vinham banhar-se às praias fluviais de Toledo.
Nos dias de hoje é proibido tomar banho devido há má qualidade da água. O Tejo deixou de ter a dinâmica de um rio.
Depois de Toledo, o rio Tejo é travado na barragem de Castrejón, uma das barragens mais poluídas de Espanha, onde se acumula toda a poluição proveniente da região de Madrid. Aqui, a água também é desviada para campos agrícolas e também para a Central Hidroelétrica de El Carpio de Tago.
Antes de chegar a Talavera de la Reina, o rio parece praticamente morto. Vêem-se surgir à superfície o rebentamento de bolsas de metano, sinónimo de matéria orgânica em putrefação.
Ambientalistas criticam postura do Governo português
Em 2009 foi criada a Plataforma Espanhola de Defesa do Tejo com uma grande manifestação em Talavera de la Reina. Os ambientalistas espanhóis não entendem a postura demasiado branda e permissiva do governo português em relação ao rio Tejo.
A apenas 100 quilómetros da fronteira com Portugal, a central nuclear de Almaraz é também refrigerada pelas águas do Tejo. O tempo de vida da central terminou em 2010 mas o governo espanhol prolongou a sua atividade por mais dez anos, até 2020.
Recentemente, a central nuclear chumbou num teste de resistência pedido pela Greenpeace por não ter o mesmo tipo de válvulas que permitiram o acidente nuclear na central de Fukushima no Japão.
A barragem de Cedillo é a última das 58 barragens e reservatórios do Tejo em Espanha, antes do rio entrar em Portugal.
É por aqui que deve passar o caudal mínimo ecológico estabelecido no Convénio de Albufeira entre os dois países. Os governos de Espanha e Portugal consideram que os valores estão dentro do acordo que segue as orientações da União Europeia. Já o Movimento pelo Tejo tem uma opinião contrária. Segundo o PROTEJO os números do caudal ecológico estão mal calculados.
A associação ambiental QUERCUS também considera que os valores do caudal mínimo ecológico do rio Tejo devem ser revistos.
O problema fulcral do Tejo não se resume ao cumprimento do caudal mínimo ecológico que deve existir tanto em Espanha como em Portugal. Em estreita relação com este problema está a qualidade da água que não apresenta valores satisfatórios. A começar pela água que chega de Espanha.
Descargas ilegais
A beleza natural das portas de Vila Velha de Rodão, a cerca de 20 quilómetros da entrada do Tejo em Portugal, contrasta com os focos de poluição que mancham o rio nesta zona.
Um dos pontos negros há vários anos é a Ribeira do Açafal, um afluente do Tejo onde as descargas poluentes são constantes. Esta imagem, recolhida no final de agosto de 2015, é bem elucidativa.
O mais impressionante é que as indústrias responsáveis pelas descargas ilegais estão identificadas, mas nada acontece.
Francisco Silva nasceu praticamente nas águas do rio Tejo. Toda a vida foi pescador e é um dos últimos da pequena comunidade piscatória de Ortiga, que já chegou a contar com mais de 30 homens da faina no século passado.
Hoje, as redes trazem apenas alguns Barbos e Fataças. A safra é cada vez menor, principalmente desde que construíram um açude em Abrantes.
O açude de Abrantes foi construído em 2004 para criar um espelho de água em frente à cidade. A obra custou dez milhões e meio de euros. A escada passa peixes tem-se revelado uma armadinha ambiental. Pescadores e ambientalistas afirmam que o peixe não consegue subir o rio.
A presidente da Câmara de Abrantes, que é também a presidente Intermunicipal do Médio Tejo, considera o contrário.
O Tejo, o maior rio da Península Ibérica que vem desaguar a Lisboa para o Oceano Atlântico, está fortemente ameaçado.
Resta que Portugal e Espanha parem para pensar. Não é preciso mudar mais o curso do rio, basta apenas deixá-lo correr sem poluição.
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(c/ Sónia Lourenço – Grafismo; Rita Rodrigues – Pesquisa; Cristina Godinho – Produção; Mafalda Gameiro – Coordenação)