A provedora do Ambiente da Câmara Municipal de Coimbra anunciou hoje discordar da construção de uma incineradora para lixos urbanos na região centro, considerando-a uma opção cara e desrespeitadora dos compromissos comunitários ambientais.
"É típico dos países menos desenvolvidos a tendência para se optar pelas soluções mais fáceis", afirmou Helena Freitas, ao comentar os resultados de um estudo da Universidade Nova de Lisboa, que conclui ser a incineração mais cara do que o tratamento mecânico e biológico (reciclagem e compostagem).
A ERSUC - Empresa de Resíduos Sólidos Urbanos do Centro, responsável pelo tratamento do lixo de 36 municípios do litoral centro, quer construir uma incineradora, decisão que a associação ambientalista Quercus criticou, reclamando o seu abandono, face aos resultados do estudo agora divulgado.
Para Helena Freitas, os resultados do estudo da Universidade Nova, encomendado pelo Ministério do Ambiente, vieram confirmar o entendimento que já tinha e que expressou no parecer que forneceu à autarquia de Coimbra, quando a decisão de construir a incineradora foi tomada em assembleia de accionistas da ERSUC.
O estudo da Universidade Nova foi realizado pela equipa de técnicos "mais capazes que existem em Portugal", afirmou aquela responsável à Agência Lusa, ao mesmo tempo que se congratulou com o facto de fazer uma chamada de atenção à escala nacional para a política do ambiente.
"Vem numa boa altura. O Ministério do Ambiente vai ter de se pronunciar sobre essas questões", afirmou, frisando que as metas estabelecidas na legislação comunitária sobre valorização de resíduos (que incluem um aumento da percentagem do lixo reciclado) são para cumprir e 2010, prazo definido, "não está distante".
O estudo da Universidade Nova, hoje citado num comunicado da Quercus, conclui que a incineração custa por tonelada 26,5 euros, enquanto o tratamento mecânico e biológico (reciclagem e compostagem) se fica pelos 16 euros.
Para a Provedora do Ambiente da Câmara Municipal de Coimbra, bióloga e professora da Universidade de Coimbra, "a médio e longo prazo será ainda mais onerosa" a incineração, porque a legislação será cada vez mais exigente.
Helena Freitas sustenta que também se corre o risco, com o aumento do número de incineradoras, "de no futuro haver uma oferta maior do que a procura".
"Temos pouca visão de planeamento. Optar pela reciclagem e compostagem não é um trabalho fácil, mas será por aí que temos de ir", sustentou.
Alberto Santos, administrador-delegado da ERSUC, escusou-se a comentar as críticas à opção por uma incineradora como solução para tratamento dos resíduos sólidos urbanos dos 36 municípios do litoral centro.
Este responsável disse à Agência Lusa estar a ponderar se assumirá posição pública sobre isso e se for essa a opção apresentará dados numéricos que sustentam a construção da incineradora.
"Seria pouco razoável que não tivéssemos estudado bastante o assunto" e o que veio a constituir a opção dos accionistas da empresa, acrescentou.
No comunicado hoje divulgado, a Quercus sustenta que o estudo da Universidade Nova vem confirmar que "instalar um incinerador da ERSUC seria um grave erro, não só ambiental mas também económico".
Afirma que os custos estimados de 26,5 euros por tonelada de resíduos incinerados serão ainda mais elevados para a ERSUC, por abranger uma vasta área territorial, com cerca de 7.000 quilómetros quadrados.
Hoje, também o Partido Ecologista "Os Verdes" apresentou um requerimento na Assembleia da República a solicitar esclarecimentos ao Governo sobre as consequências do estudo da Universidade Nova de Lisboa.
A construção da incineradora na região centro é, no entender dos ecologistas, uma "opção errada" de gestão de resíduos sólidos urbanos.
A propósito, os Verdes questionaram o Governo sobre a viabilização da construção de uma nova unidade de incineração na região centro, para servir os municípios agregados na ERSUC.