A cooperativa de solidariedade social Focus quer criar em Vale de Cambra um polo pedagógico e residencial para 60 portadores de autismo e está já a angariar verbas para o projeto, dado que o apoio do Estado é "inexistente".
A análise é do presidente da instituição, que, em declarações à Lusa, afirmou hoje: "Já começámos a angariar fundos com vista à concretização do ambicioso projeto Different Thinking [Pensar Diferente], atendendo a que o apoio que o Estado disponibiliza para este tipo de empreendimentos e serviços é exíguo, até mesmo inexistente".
Referindo que a sociedade portuguesa "ainda não está devidamente sensibilizada" para a problemática autista, Fernando Barbosa defende que o país precisa de mais infraestruturas para acompanhamento da comunidade que, embora afetada pela doença, se pode revelar "uma mão-de-obra extremamente especializada".
A potenciação dessas capacidades é, aliás, um dos objetivos do polo previsto para Vale de Cambra, que será assim o primeiro centro integrado do distrito de Aveiro especializado em Autismo.
A obra tem um custo estimado de 1,5 milhões de euros e inclui a reabilitação de um edifício implantado num terreno de 3.500 metros quadrados, cedido para o efeito pela Fundação Luíz Bernardo de Almeida.
É aí que a Focus pretende implementar as duas principais valências do Different Thinking, cuja vertente pedagógica consistirá num centro de atividades ocupacionais com capacidade para 30 utentes.
"Queremos desenvolver de uma forma personalizada as competências únicas que as crianças autistas têm, como é o caso do seu elevado nível de concentração, a perseverança na realização de tarefas repetitivas, um apurado reconhecimento de padrões, uma extrema atenção aos detalhes e um grande interesse por geografia, números, informação", explica Fernando Barbosa.
"Estas características variam de criança para criança, mas é comum que elas revelem ainda uma impressionante capacidade para lidar mentalmente com um elevado número de dados ao mesmo tempo, pelo que poderão tornar-se excelentes profissionais, desde que tenham asseguradas as condições necessárias para o seu desenvolvimento", acrescenta.
Nos casos em que a profundidade do autismo não permita ao portador a sua autonomia socioprofissional e a retaguarda familiar possa não ser suficiente, as alternativas residenciais especializadas revelam-se então "imprescindíveis", mas, segundo o presidente da Focus, "são extremamente raras em Portugal".
O centro Different Thinking também terá capacidade, por isso, para acolher 30 autistas em estadia permanente ou temporária. "O polo residencial está pensado de forma a garantir um ambiente familiar ao utente, sem esquecer o respeito pela sua privacidade", anuncia.
"Estará apetrechado com um vasto leque de equipamentos modernos e apresentará uma decoração flexível para permitir a personalização dos quartos, da cozinha e das salas, de forma a garantir aos inquilinos um bem-estar adequado às suas necessidades específicas e às da sua família", revela o presidente da cooperativa.
As Perturbações do Espetro do Autismo - também designadas "Perturbações da Relação e da Comunicação" - expressam-se sobretudo no comprometimento do funcionamento social, num padrão restritivo e repetitivo de interesses, e num conjunto de alterações de desenvolvimento que conduzem a limitações de linguagem, do sistema motor e ao nível sensorial.
A desordem é atribuída a aspetos de ordem ambiental e genética, mas a causa concreta do problema ainda não está apurada e esse mantém-se sem cura.
