Operação da Polícia Judiciária Militar e PJ em várias messes da Força Aérea do país por suspeitas de corrupção
A Polícia Judiciária investiga um alegado esquema fraudulento entre oficiais e sargentos das gerências das messes e vários fornecedores. A Procuradoria-Geral da República refere que já foram emitidos mandatos de detenção e em causa estão factos que são suscetíveis de integrarem a prática de "crimes de corrupção passiva, de corrupção ativa e de falsificação de documento".
Os suspeitos são oficiais e sargentos das gerências das messes e muitos fornecedores. A operação desta quinta-feira envolve cerca de 400 pessoas entre magistrados e investigadores de ambas as Policias Judiciárias nas várias bases aéreas do país.
Todo o efetivo da Polícia Judiciária Militar foi mobilizado à exceção dos investigadores que estão com a investigação ao Curso de Comandos.
A investigação partiu de uma denúncia anónima à Polícia Judiciária Militar. Segundo essa denúncia, os responsáveis por cada messe da Força Aérea, ou seja, um oficial e um sargento em cada uma das quatro bases, inflacionavam os preços dos alimentos e bebidas que constituiam o stock dessas messes, dividindo depois os lucros remanescentes entre eles e os fornecedores, apropriando-se dessas verbas ilicitamente.
Desde o primeiro momento que a investigação teve o conhecimento e apoio total das mais altas instância da Força Aérea, nomeadamente o atual e anterior Chefe de Estado-Maior da Força Aérea.
Estas buscas estão a acontecer em várias bases aéreas do país, bem como a algumas habitações e empresas de fornecedores de alimentação. Ao que a RTP apurou, pelo menos nove bases espalhadas pelo país estão a ser alvo de buscas, incluíndo Montereal, Montijo, OTA, Sintra, Alfragide, Monsanto, Figo Maduro, Beja e Alcochete.
PGR confirma a operação
Segundo a nota emitida já esta quinta-feira pela Procuradoria-Geral da República (PGR), a Operação Zeus, como é designada, implica neste momento mais de oitenta buscas domiciliárias e 25 buscas não domiciliárias, incluindo também vários equipamentos militares espalhados pelo país.
O esquema inflacionava o valor dos alimentos até um valor cerca de três vezes superior aos bens que eram entregues na realidade. Na operação participam 27 magistrados do Ministério Público, cerca de 300 elementos da Polícia Judiciária (PJ) e cerca de 40 elementos da Polícia Judiciária Militar, ainda com o apoio de 30 peritos das áreas financeira e tecnológica da PJ.
“No inquérito, investigam-se suspeitas de, pelo menos, desde o ano de 2015, algumas messes da Força Aérea serem abastecidas com géneros alimentícios, cujo valor a pagar, posteriormente, pelo Estado Maior da Força Aérea, seria objeto de sobrefaturação", explica a nota.
Neste esquema, haveria um acordo entre militares responsáveis pelas messes, vários fornecedores de géneros alimentícios e ainda um elemento do departamento do Estado Maior da Força Aérea, que teria funções de fiscalização.
Em conformidade, estes elementos inflacionavam o valor dos alimentos até um valor cerca de três vezes superior aos bens que eram entregues na realidade.
Segundo a nota da PGR, estes factos são suscetíveis de integrarem a prática de "crimes de corrupção passiva, de corrupção ativa e de falsificação de documento".
Rui Roque, porta-voz da Força Aérea, afirmou que a cadeia de comando do ramo teve conhecimento da operação e está agora a prestar "toda a colaboração" nas dez unidades de investigação, tal como já tinha feito "nas investigações preliminares".
Em declarações à Agência Lusa, o porta-voz da Força Aérea Portuguesa refere que "a cadeia de comando da Força Aérea tem conhecimento desta investigação e está a assegurar toda a transparência e colaboração nas ações em curso".