Inquérito aos incidentes com helicópteros «EH 101 Merlin» sem conclusões por falta de dados fiáveis

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 24 Jan (Lusa) - O inquérito a incidentes com helicópteros da Força Aérea Portuguesa (FAP) nos Açores e Montijo continua sem conclusões porque as aeronaves não dispõem de caixas negras para registar parâmetros de voo, confirmou à Lusa fonte aeronáutica.

Assim, existe apenas a versão dos pilotos sobre o que efectivamente correu tecnicamente mal nos dois incidentes já que o fabricante diz «não ter detectado» qualquer anomalia técnica.

No incidente em São Jorge, Açores, com um EH101 Merlin, cinco pessoas de uma equipa médica ficaram feridas com alguma gravidade, nomeadamente dois bombeiros, duas enfermeiras e uma médica que habitualmente acompanham o transporte de feridos inter-ilhas.

Os aparelhos da FAP não foram equipados com caixas negras, alegadamente devido ao seu elevado custo. Apenas nas zonas de combate as caixas negras não são utilizadas, por razões óbvias de não deixar cair informação classificada nas mãos do inimigo.

«Mas teriam toda a lógica em operações de busca e salvamento, como as efectuadas no arquipélago dos Açores ou no continente», disse à Lusa um especialista aeronáutico.

O porta-voz da AgustaWestland, fabricante daqueles helicópteros, Geoff Russell, confirmou que a sua empresa abriu um inquérito aos incidentes e que os aparelhos da FAP não possuem as caixas negras.

"Os helicópteros da FAP não têm caixas negras, mas um Sistema de Monitorização de Segurança e Uso [HUMS na sigla inglesa], como todos os EH101, que controla e regista informação de todos os voos que depois é analisada", disse.

A diferença é que "esta informação não está armazenada numa caixa negra", ou seja, numa caixa à prova de fogo e de choque.

Assim, no caso de um acidente grave, como o ocorrido nos Açores, esta informação pode ser perdida. "Depende da gravidade do acidente, pois não está numa caixa à prova de choque e incêndio", confirmou a fonte.

O HUMS "monitoriza constantemente temperaturas, pressões, níveis de vibração, a potência dos motores e diverso tipo de informação de voo", esclareceu.

O HUMS e a caixa negra "são dois sistemas diferentes", explicou, acrescentando que a informação registada pelo HUMS é recolhida no final de cada voo e é um procedimento de manutenção. O computador analisa a informação e monitoriza quaisquer alterações e, através dessa análise, é possível identificar problemas possíveis, por exemplo, na transmissão ou no rotor, muito antes de eles se tornarem numa ameaça para a segurança".

"Há sistemas de caixa negra disponíveis para helicópteros, mas a sua instalação não é muito comum", disse.

O porta-voz da AgustaWestland confirmou à Agência Lusa que "está a decorrer uma investigação em relação a dois incidentes" com os EH101 da FAP.

"Estamos a assistir a FAP nesta investigação e a levar a cabo uma série de inspecções e testes a alguns dos componentes do aparelho que esteve envolvido", afirmou, sublinhando que "até esta altura não foi encontrado nenhum problema".

"A FAP irá concluir o seu [inquérito] e nós transmitiremos à FAP o resultado dos nossos testes e a FAP irá concluir o seu relatório final sobre os incidentes", sublinhou o porta-voz doa fabricante.

Geoff Russell disse que a AugustaWestland está a "colaborar com a FAP para investigar estes incidentes" e que a companhia quer "ter a certeza de que se existir um problema de desenho ele será identificado para assegurar que não só os aparelhos da FAP são seguros, mas também os de outros clientes".

"Vamos fornecer o resultado final dos nossos testes à FAP e eles irão terminar o seu relatório", afirmou, confirmando que a empresa não dispõe de nenhuma data e que será a FAP a decidir se divulga ou não as conclusões do inquérito.

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