Começou a ser noticiada a lista de portugueses envolvidos no escândalo internacional das offshores do Panamá. São mais de 240. Entre os quais ex-ministros, políticos e empresários. Manuel Vilarinho, antigo presidente do Benfica, Ilídio Pinho, detentor da Fundação homónima com sede no Porto, e Luís Portela, número um da farmacêutica Bial, são nomes revelados na última noite pelo Expresso e pela TVI, órgãos que integram o Consórcio Internacional de Jornalistas na posse dos Panama Papers.
A investigação dos Panama Papers envolve 370 jornalistas de mais de sete dezenas de países. Assenta sobre 11,5 milhões de documentos, segundo os quais haverá mais de 214 mil entidades offshore envolvidas em operações em mais de 200 países e territórios.
Aquele gestor de fortunas, cliente número 37.356 da Mossack Fonseca, a firma-chave do escândalo, terá trabalhado como representante de “pessoas politicamente expostas” de Portugal, África e América Latina.
É o que se retira dos documentos citados pela estação televisiva de Queluz de Baixo: “Alguns dos clientes do nosso contacto em Portugal são ex-ministros e ou políticos, portanto, irão aparecer como Pessoas Politicamente Expostas nos processos de devida diligência”.
A reportagem dos jornalistas Micael Pereira, do Expresso, e Rui Araújo, da TVI, preenche este sábado oito páginas do semanário. Mas os primeiros nomes sonantes foram revelados no programa da SIC Notícias Expresso da Meia Noite. Apenas três: Manuel Vilarinho, Ilídio Pinho e Luís Portela.
Há também gestores destacados do Espírito Santo, referências à Abreu Advogados, donos de empreendimentos de turismo no Algarve, um empresário do futebol e até um ourives.
Grupo Espírito Santo
“Entre os quase 90 intermediários ou assessores portugueses que já estiveram envolvidos em transações que passaram pela Mossack Fonseca estão firmas como a Abreu Advogados, mas também empresas especializadas em gestão de participações e em planeamento fiscal” sediadas na zona franca da Madeira, lê-se no texto assinado pelos dois jornalistas.
A investigação pôs a descoberto, desde logo, que a Mossack Fonseca criou mais de três centenas de offshores para o Grupo Espírito Santo e para o BES.
Mostra, por exemplo, como uma sociedade do GES terá ajudado a ocultar durante 21 anos um “saco azul”.
E consubstancia que Ricardo Salgado e José Manuel Espírito Santo terão faltado à verdade na comissão parlamentar de inquérito que se debruçou sobre o colapso daquele universo financeiro.
A empresa de contornos mais baços é mesmo a Espírito Santo Entreprises, cuja criação remonta a 1993. Neste caso, o Ministério Público suspeita de um gigantesco “saco azul”, pelo qual terão passado mais de 300 milhões de euros, e que terá servido para fazer chegar dinheiro e património a destinatários por identificar.
“Eu sei que estou lá”
Os “dados recolhidos” nesta investigação, lê-se ainda no trabalho do Expresso e da TVI, “estão longe de refletir todo o universo de sociedades offshores com portugueses envolvidos, uma vez que a informação contempla somente clientes, intermediários e representantes que trabalharam com a Mossack Fonseca”.
Haverá nesta altura pelo menos 43 offshores ainda ativas. E que tiveram portugueses como intermediários. “Estão registadas sobretudo no Panamá e nas Ilhas Virgens britânicas. Mas há dezenas de outras offshores que foram criadas e entretanto encerradas”, sublinha-se no texto.A empresária Isabel dos Santos é outra das figuras que surge na componente portuguesa da investigação. A filha do Presidente angolano José Eduardo dos Santos teria procurado abrir uma conta no Banco Internacional do Luxemburgo, recorrendo a Jorge Humberto Cunha Ferreira. Mas a instituição negou o pedido, segundo o próprio gestor de fortunas.
Ouvido pelo Expresso, Manuel Vilarinho, que aparece como beneficiário da Soyland Limited Liability Company, sediada no Estado norte-americano do Nevada, admitiu a veracidade dos factos: “Pois é claro que o meu nome aparece nos papéis do Panamá. Eu sei que estou lá, sabe o Ministério Público e sabe o país todo”.
“Isso não é crime (…) Cometi um pecado que está no DCIAP [Departamento Central de Investigação e Ação Penal] por causa de um problema grave com o Banco Espírito Santo”, acrescentou o antigo dirigente desportivo. Para concluir: “Não tenho rabos de palha e sou um cidadão cumpridor. Já paguei tudo o que devia”.
Já Ilídio Pinho, que surge nos Panama Papers como autorizado, a par de outros oito nomes, a mexer em contas da IPC Management Inc, empresa associada a uma offshore panamiana, a Stardec Investments SA, veio afiançar que nunca teve contas no Panamá.
Também Luís Portela garante que nunca passou por cima do fisco: “É público que a Bial tem uma filial no Panamá que coordena toda a atividade do grupo na América latina. Nego qualquer relação com offshores. Nem eu nem a Bial temos qualquer offshore.”
Portela, noticiou a TVI, “controlava indiretamente” a empresa Grandison International Group Corp, entretanto encerrada. Estaria habilitado a movimentar a conta bancária que lhe estava associada.
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