Dois aviões aterraram no aeroporto de Faro nas últimas duas madrugadas sem que os meios de socorro estivessem operacionais, disseram à Lusa fontes associativas, que consideraram a situação "muito grave" e ao arrepio das normas internacionais.
Os aparelhos autorizados a aterrar foram uma aeronave da companhia alemã LTU, que se fez à pista às 06:17 de sábado, e um outro avião da Air Berlin, também alemão, que aterrou hoje às 06:18.
"É uma situação que vai ao arrepio de todas as normas de segurança estabelecidas internacionalmente", disse à Lusa um membro da Associação Portuguesa de Oficiais de Operações de Segurança nos Aeroportos (APOOSA), assegurando que, mesmo em caso de um pequeno acidente, "poderia ter ocorrido uma tragédia", devido ao atraso com que seriam prestados os socorros.
Devido ao encerramento do aeroporto entre as 00:00 e as 06:00, que entrou em vigor sábado, os serviços de socorro - os bombeiros especializados do aeroporto sob a dependência dos Aeroportos de Portugal (ANA) - deixaram de operar nesse período.
O encerramento do turno da madrugada, que funcionava entre as 00:00 e as 08:00, obriga a que, desde sábado, o primeiro turno dos serviços de socorro só esteja operacional às 06:30.
"Os homens do primeiro turno picam o ponto às seis, mas demoram 7 minutos a chegar ao quartel, dois a três minutos a vestir-se e depois têm que fazer a vistoria aos equipamentos, que têm mais de 20 anos e têm que ser revistos todos os dias", enunciou, garantindo que antes das 06:30 aqueles operacionais não estão preparados.
Um elemento da Associação Portuguesa de Controladores de Tráfego Aéreo (APCTA) disse à Lusa que o voo da LTU declarou-se pouco depois das 06:00, pelo que, dada a inexistência de meios de socorro, a torre lhe pediu para adiar a aterragem.
"Passados alguns minutos, depois de ter dado algumas voltas, o comandante informou a torre de que já estava nos mínimos de combustível e tinha que aterrar imediatamente", disse a mesma fonte, confirmando que a aterragem se deu antes de os operacionais do socorro estarem a postos.
A fonte da APOOSA considerou que "houve irresponsabilidade" por parte do Serviço de Operações Aeroportuárias em ter autorizado as aterragens "antes de as operações de socorro terem dado o OK", ilibando de responsabilidades os elementos do tráfego aéreo.
Asseverou que, apesar da entrada em vigor das novas normas, não foi alterado o plano de emergência, que prevê para aqueles operacionais a primeira intervenção em caso de acidente em todas as circunstâncias, de dia ou de noite.
Considerando que o fecho da segurança durante a madrugada "é uma medida economicista", o mesmo elemento sublinhou que a poupança "não é significativa", já que os elementos do turno da noite, que deveriam sair às 24:00, estão a ser obrigados diariamente "a fazer uma ou duas horas extraordinárias" para receber aviões em atraso.
A agência Lusa tentou hoje, sem sucesso, obter um comentário do director do Aeroporto de Faro, Francisco Correia Mendes.
Em declarações à Lusa há precisamente um mês atrás sobre esta matéria, Correia Mendes recordou que desde os finais da década de 90 que aquela infra-estrutura está fechada ao tráfego aéreo comercial da meia-noite às 06:00.
Ainda assim, sublinhou que os casos em que há operações aeroportuárias de madrugada "são muito excepcionais", observando que, com o aeroporto fechado naquele período à aviação comercial, durante todo o ano de 2005 houve apenas 12 voos não comerciais em Faro.
"Nos últimos três anos houve um total de 220 aviões comerciais no mesmo período, uma média de um avião de três em três dias", disse, informando que, na maioria, estas excepções à operação de voos comerciais se devem a atrasos de voos ou, em muito menos casos, pedidos excepcionais.