Debate sobre libertação de Ingrid Betancourt deixa PCP isolado

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Lisboa, 04 Jul (Lusa) -- O PCP ficou hoje isolado durante um debate parlamentar sobre a libertação da ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt que estava refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), escusando-se a condenar essa organização e contestando que seja terrorista.

O debate foi suscitado por dois votos de congratulação pela libertação de Ingrid Betancourt, um voto conjunto do PS, PSD e CDS-PP entregue quinta-feira e um voto do PCP entregue hoje.

A bancada comunista foi a única que votou contra o documento do PS, PSD e CDS-PP, aprovado com os votos favoráveis de todas as outras bancadas, incluindo a dos Verdes - que expressa satisfação pela libertação de Betancourt e de outros catorze reféns, classifica as FARC de grupo terrorista e repudia a sua actividade.

BE e Verdes votaram também a favor do texto do PCP -- que expressa satisfação pela libertação de Betancourt sem referir o nome das FARC e apela à negociação entre a guerrilha e o governo colombiano para que sejam libertados todos os prisioneiros.

O voto de congratulação do PCP foi chumbado com os votos contra do PS, PSD e CDS-PP.

Na sua intervenção, o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, defendeu que "o que se passa na Colômbia não pode ser reconfigurado às catalogações de organizações como terroristas feitas pela administração norte-americana".

Bernardino Soares condenou os "assassinatos de sindicalistas" pelo governo da Colômbia -- que o voto do PS, PSD e CDS-PP não menciona -- e acusou os três partidos de "glorificarem" o regime de Álvaro Uribe.

No final do debate, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, considerou "inadmissível que se procure saudar essa libertação [de Ingrid Betancourt] sem condenar o sequestro", assinalando que o voto do PCP "em nenhum momento condena o acto das FARC".

Augustos Santos Silva acusou os comunistas de tentarem "desculpar" as FARC e os seus métodos denunciando "uma visão distorcida da democracia", o que levou o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, a pedir a defesa da honra.

"Tirou conclusões do nosso voto que não correspondem à verdade, nunca subscrevemos tais métodos", declarou Bernardino Soares.

O líder parlamentar do PCP insistiu que "o PS e a direita" é que "quiseram hipocritamente congratular-se com a libertação para depois glorificarem o regime colombiano que assassina e promove grupos paramilitares torcionários".

Na resposta, o ministro questionou como pode o PCP "congratular-se pela libertação de alguém sem ao mesmo tempo condenar o sequestro".

"Há aqui uma coisa que falta: condenar o sequestro de Ingrid Betancourt e o recurso sistemático a esse método terrorista que é o sequestro de pessoas, tomar reféns", reiterou Augusto Santos Silva.

"É essa omissão do PCP que diz tudo sobre a sua concepção da democracia", sustentou, enquanto alguns deputados comunistas protestavam perguntando pelos assassinatos do governo colombiano.

Num meio-termo, o líder parlamentar do BE, Luís Fazenda, salientou que o seu partido repudia "o rapto e sequestro como meios", mas considerou o texto do PS, PSD e CDS-PP "lamentável a vários títulos", afirmando que o presidente da Colômbia desrespeita a democracia, os direitos humanos, "é suspeito de narcotráfico" e "indesejável em qualquer parte do mundo".

Recordando que Ingrid Betancourt "é uma activista ambientalista", a deputada dos Verdes Heloísa Apolónia sustentou que "o que divide a Assembleia da República é a interpretação das responsabilidades pela situação na Colômbia".

Criticando que se queira responsabilizar "apenas uma das partes", a deputada subscreveu o voto do PCP e disse votar a favor do outro voto para demonstrar a "saudação e satisfação absoluta pela libertação de Ingrid Betancourt".

Ingrid Betancourt, três norte-americanos e 11 militares sequestrados pelas FARC foram libertados quarta-feira pelo exército colombiano. A franco-colombiana estava há seis anos refém das FARC.

IEL.

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