Presentes desde o berço da humanidade, as árvores continuam a ser o símbolo da natureza e da riqueza patrimonial natural.
Aparentemente não se mexem, como na natureza animal, razão pela qual muitas pessoas se esquecem que "elas" estão vivas.
As árvores respiram, crescem, multiplicam-se e muitas das suas espécies são vitais na alimentação orgânica de animais, insetos e humanos.
Estão vivas. Ajudam no equilíbrio e manutenção do ecossistema planetário.
O que é uma árvore
Cada árvore é um exemplar único. Apesar de existirem milhares de espécies em todo o planeta, cada uma delas apresenta uma textura, cor, cheiro, folhas, flores e frutos diferentes das demais.
As árvores, em comparação com os seres animais, não têm frente e nem costas e crescem geralmente na vertical e para todos os lados como que mostrando que querem abraçar e acolher todos os que chegam à sua volta.
• Seres autossustentáveis que produzem o seu próprio alimento e o conduzem por todo seu corpo, como no nosso sistema sanguíneo.
• Quando estão prontas para reproduzir a espécie, produzem flores, dão frutos e sementes, tudo num tempo de maturação único de cada espécie.
• À noite, quando o sol se põe, as folhas de algumas espécies fecham-se para adormecer.
• Crescem e desenvolvem-se a partir das referências sensíveis ao ambiente em que vivem.
• Para o ser humano, servem atualmente como fonte de oxigénio, alimentação, matéria-prima vegetal (madeira, resinas, cortiça), ornamentação paisagística e mobiliária.
• Foram no passado fonte essencial de proteção contra animais, e matéria-prima para construção de infraestruturas e embarcações.
Na história da terra e do homem, as árvores sempre estiveram presentes como um símbolo maior, muitas delas marcantes e com registo histórico.
Anos, décadas e séculos de vida ainda hoje fazem destes seres vivos verdadeiros monumentos vivos.
Árvores Monumentais ou de interesse público
Em Portugal o registo florestal ocupa pouco mais de um terço do território nacional (35,4%), correspondendo aproximadamente a 3,2 milhões de hectares, seguido de 32 por cento com ocupação agrícola e 24 por cento com áreas de incultos. (fonte: PEFC Portugal)
Mas os valores florestais estão em contínuo decréscimo devido ao decréscimo à desarborização natural e artificial (superfícies ardidas, cortadas e em regeneração).
Dentro destes números verdes destaca-se o eucalipto como espécie predominante, com mais de um quarto da ocupação total, seguido pelo sobreiro e pelo pinheiro bravo.
Segundo dados fornecidos pelo PEFC Portugal (Sistema Português de Certificação da Gestão Florestal Sustentável) a propriedade florestal é maioritariamente privada, numa área que abrange os 2,8 milhões de hectares, (84,2 por cento da área total detida por pequenos proprietários de cariz familiar dos quais 6,5 por cento são pertencentes a empresas industriais).
Dentro desta mancha verde encontram-se as árvores classificadas como monumentais e de interesse público.
O que são Árvores de Interesse Público?
"São árvores que pelo seu porte, desenho, idade e raridade se distinguem dos outros exemplares. Também os motivos históricos ou culturais são fatores a ter em conta. Classificar é proteger!"
(Instituto de Conservação da Natureza e Florestas – ICNF)
De acordo como o ICNF estas árvores classificadas estão protegidas pela Lei n.º 53/2012. D.R. n.º 172, de 5 de setembro e pela Portaria n.º 124/2014, de 24 de junho, que atribui ao arvoredo um estatuto similar ao do património construído classificado.
Com esta classificação, nenhuma Árvore de Interesse Público poderá ser cortada ou desramada sem autorização prévia do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, sendo todos os trabalhos efetuados sob sua orientação técnica.
Desta forma, as árvores e os maciços arbóreos classificados de interesse público constituem um património de elevadíssimo valor ecológico, paisagístico, cultural e histórico, em grande medida desconhecido da população portuguesa.
Projeto árvores monumentais – património vivo a inventariar
Raquel Lopes, geóloga, bióloga e mestra na área da conservação da natureza, viu no arvoredo português uma oportunidade de estudo e quando foi para o terreno nem imaginou o que iria encontrar.
Árvores centenárias, algumas mesmo milenares em que a história local e da sua população se enraizavam em conjunto.
Em 2013 após alguns estudos sobre o arvoredo existente em Portugal e com base em outros estudos feitos em outros países, colocou-se literalmente em campo e desbrava agora por caminhos e trilhos com o intuito de catalogar e inventariar milhares de árvores com interesse histórico, cultural e patrimonial.
A par do ICNF que já registava centenas de árvores, a bióloga Raquel Lopes, quer também criar um roteiro natural português apresentando este património cultural como um bom ponto de partida turístico e com valor nacional.
De acordo com a bióloga Raquel Lopes em Portugal a flora arbórea existente é composta por muita variedade.
"Em Portugal temos várias espécies, não só pela riqueza da nossa flora autóctone, mas também que advieram da altura dos descobrimentos tendo sido Portugal um veículo de entrada de espécies para toda a Europa. E dai a riqueza, não só de espécies autóctones mas também de espécies exóticas que atualmente se encontram classificadas de interesse público em Portugal".
A investigadora, em conversa com a RTP Notícias, refere que em relação às espécies autóctones continua a predominar em Portugal o carvalho, sobreiros, oliveiras, azinheiras e castanheiros, classificando-os como uma riqueza florística de enorme importância.
Neste momento o trabalho de campo que a bióloga Raquel Lopes está a desenvolver conta com a ajuda de Daniel Pinheiro, fotógrafo profissional, na construção de um roteiro nacional que vai mostrar quais e quantas árvores monumentais existem no nosso território.
O projeto piloto está nesta altura a ser efetuado no município de Alcobaça, contando com a participação da própria autarquia, bem como de algumas escolas do conselho e população local, na ajuda, sensibilização e identificação da flora arbórea da região.
Ao preservar o património natural estamos a preservar a história da terra e do território enquanto identidade e cultura.
"Solitárias, as árvores,António Gedeão - Poeta
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua."