Terão sido afinal dois aviões de guerra russos Sukhoi SU-24 a bombardear os camiões que transportavam ajuda humanitária da ONU para a cidade de Urm al-Kubra, na província síria de Alepo - é esta a convicção de fontes da Administração Obama citadas esta quarta-feira pela agência Reuters e pela BBC. A Rússia continua a negar qualquer envolvimento no ataque.
As mesmas fontes acrescentaram que o ataque foi demasiado sofisticado para ter sido executado pelo Exército sírio.
O bombardeamento provocou pelo menos 20 mortos e destruiu 18 dos 31 camiões que transportavam alimentos, roupa e medicamentos para a população da província do leste da Síria, indicou o assessor norte-americano de Segurança Nacional Ben Rhodes.
"Só pode haver dois responsáveis"
O porta-voz da Casa Branca havia já referido que só poderia "haver dois responsáveis: o regime sírio ou o Governo russo”. E acrescentou: "Em qualquer caso, consideramos que o Governo russo é o responsável pelos ataques aéreos nesta zona (…) representa claramente uma enorme tragédia humanitária que deve ser condenada”.
Mas a Rússia nega qualquer envolvimento no ataque, quer por parte da sua aviação, quer de caças do regime sírio. Moscovo alega que o incidente da passada segunda-feira, em Urm al-Kubra, foi causado por um incêndio no terreno e não por bombardeamentos aéreos.
“Não existem crateras e o exterior dos veículos não tem qualquer tipo de dano consistente com explosões causadas por bombas largadas a partir do ar”, referiu o Ministério russo da Defesa em comunicado citado pela Reuters.
"Nada a ver com esta situação"
O mesmo Ministério acrescentou que a Administração norte-americana não tem provas para sustentar as acusações. “Não temos nada a ver com esta situação”, concluiu.
De referir que este foi o pior ataque contra equipas de ajuda humanitária desde o início da guerra na Síria, que perdura há cinco anos e meio.
A ONU anunciou na terça-feira a suspensão do transporte de ajuda humanitária na Síria, até que sejam reavaliadas as condições de segurança. A organização garante que o comboio humanitário tinha recebido todas as autorizações necessárias e que a Rússia e os Estados Unidos tinham sido informados.
O ataque aconteceu no mesmo dia em que os líderes mundiais se reuniram em Nova Iorque para a Assembleia Geral da ONU.
Washington e Moscovo planeavam coordenar ataques contra o Estado Islâmico na Síria, caso a recente trégua resistisse sete dias, mas tal objetivo está bloqueado diante do fracasso do cessar-fogo.
Negociações não estão "mortas"
No entanto, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já veio dizer que a cessação de hostilidades negociada em Genebra “não está morta”. Um assunto que vai estar em destaque entre os membros do Conselho de Segurança da ONU.
“Muitos grupos mataram muitos inocentes, mas nenhum mais do que o Governo da Síria que continua a largar bombas-barril em bairros e a torturar sistematicamente milhares de detidos”, declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no discurso perante a Assembleia Geral em Nova Iorque.
Ban Ki-moon adotou um discurso mais crítico para acusar o Governo de Bashar al-Assad de ser responsável pelo maior número de mortes de civis desde o início da guerra, em março de 2011. E acrescentou que os outros países que “continuam a alimentar a máquina de guerra também têm sangue nas suas mãos”.
Ataque "doentio e selvagem"
Ban Ki-moon classificou ainda o ataque de segunda-feira de “doentio, selvagem e aparentemente deliberado”, pedindo a responsabilização de quem o realizou.
Entretanto a Síria reagiu e acusou o líder da ONU de violar a Carta das Nações Unidas.
“As palavras de Ban Ki-moon sobre a Síria estão muito distantes das provisões da carta da ONU, que tem de ser respeitada por quem ocupa o papel de secretário-geral”, referiu em comunicado o Ministério sírio dos Negócios Estrangeiros, salientando que a ONU está a falhar na sua função de encontrar soluções para conflitos internacionais.
Também o comandante das operações humanitárias da ONU pediu já uma investigação. Stephen O’Brien sublinhou que, se “se descobrir que este ataque cruel tinha como alvo deliberado a equipa humanitária, isso representaria um crime de guerra".
c/ agências internacionais