Uma operação policial relacionada com os atentados terroristas de Paris, em novembro do ano passado, desencadeou um tiroteio e uma perseguição a suspeitos em fuga. Quatro polícias ficaram feridos, confirmaram ao fim da tarde as autoridades federais belgas. Pouco depois das 17h00 em Lisboa, a polícia tomou um apartamento, tendo morrido pelo menos um terrorista. Cerca das 19h30 portuguesas, os habitantes da zona começavam a poder regressar a casa depois de identificados, apesar de, aparentemente, dois suspeitos terem conseguido fugir.
Segundo um porta-voz da procuradoria belga, os agentes da polícia começaram por ser visados por disparos durante uma operação na comuna de Forest.
O tiroteio aconteceu na rua de Dries, perto da Gare de Midi, uma zona muito movimentada nos arredores de Bruxelas. A zona foi encerrada ao trânsito e o exército chamado.
As televisões respeitaram o pedido das forças policiais e limitaram-se a repetir imagens das ruas adjacentes sem transmitirem quaisquer imagens das operações de segurança.
Os incidentes começaram quando já passavam das 14h00 em Lisboa. As autoridades belgas avançaram que três polícias ficaram feridos, um dos quais com gravidade, em duas rajadas de tiros de armas pesadas, vindas do apartamento.
Pelo menos três suspeitos puseram-se então em fuga, pelos telhados.
Testemunhas no local afirmaram ter oouvido a polícia a intimar alguém a render-se, pelas 15h00 em Lisboa. Quarenta cinco minutos depois, soaram novos disparos e deu-se novo tiroteio às 17h15 portuguesas.
Terá sido nessa altura que as forças policiais lançaram o assalto ao apartamento, onde se tinha barricado um dos terroristas.
Ao fim da tarde, o porta-voz da procuradoria federal, Eric Van der Sypt, confirmou que um quarto polícia foi atingido durante as operações.Suspeito morto
A RTBF afirma que o terrorista terá morrido de arma na mão.
"De acordo com os nossos jornalistas no local, o assalto foi dado pouco depois das 18h00 (17h00 em Portugal), durante o qual um suspeito, que se tinha trancado num apartamento, foi morto," refere.
O local foi tomado pela polícia, que descobriu o corpo do presumível terrorista, morto durante a intervenção policial, e cuja identidade ainda se desconhece. A procuradoria diz que não se trata de Salah Abdeslam, suspeito de ser o mentor dos atentados de Paris e ainda a monte.
Terá sido no assalto que foi atingido um quarto agente. Dois suspeitos mantêm-se em fuga, apesar da operação estar praticamente terminada. Os habitantes de Forest começaram a ser autorizados a penetrar o perímetro de segurança, sendo identificados um a um.
Um autarca de Forest felicitou a atuação das forças de segurança.
A RTBF diz que esta era uma operação para a qual não tinham sido mobilizados grandes meios.
O apartamento alvo de buscas teria sido arrendado com um falso nome e as autoridades acreditavam que estaria vazio. A investigação procurava sobretudo indícios.
À chegada, os agentes da polícia federal foram surpreendidos e viram-se sob ataque, começando de imediato a disparar a partir da porta.Creches e escolas evacuadas
No apartamento foram encontradas muitas espingardas mas as autoridades recearam que os terroristas tivessem levado com eles armas e munições, provavelmente pelo menos uma Kalashnikov, de acordo com o correspondente da RTP, António Esteves Martins.
Sob essa possibilidade houve a hipótese de se desencadear uma tomada de reféns, possivelmente envolvendo crianças, já que a zona onde decorreram as operações é residencial.
Os homens foram vistos a fugir perto de uma das duas creches próximas do apartamento. Ambas, assim como as duas escolas da zona, fecharam as portas enquanto as autoridades estudavam a sua evacuação.
Na rua Saint-Dennis, perto da rua de Dries, as autoridades estabeleceram um centro de acolhimento de pais dos alunos.
A polícia confirmou depois que as 36 crianças de uma das creches, "Les petits matelots," foram todas retiradas pelas traseiras do edifício, cerca das 16h45 (hora de Lisboa). As crianças puderam ser levadas pelos pais. Os outros estabelecimentos terão sido também esvaziados, afirma a RTBF.
A força policial for entretanto reforçada pelo exército durante a tarde.Ligação aos ataques de Paris
O ministro francês do Interior confirmou que a polícia gaulesa também estava a participar nesta operação policial. As buscas estão relacionadas com os atentados de Paris que, em novembro de 2015, mataram 130 pessoas.
Na altura, a investigação permitiu concluir que os ataques tinham sido preparados na Bélgica, país no qual várias pessoas acabaram por ser detidas. Segundo Le Monde, oito pessoas permanecem em detenção provisória.
Salah Abdeslam, de 26 anos, um dos principais suspeitos dos atentados de novembro, permanece em lugar desconhecido e, confirmaram fontes policiais francesas, não era alvo desta operação.
"A operação não visava Salah Abdeslam mas pessoas relacionadas com um ou mais dos onze suspeitos belgas," afirmou esta fonte. A informação foi confirmada à AFP por uma outra fonte próxima do dossier.