O mundo xiita insurge-se contra a Arábia Saudita na sequência da execução de Nimr Bager al-Nimr, um dignitário religioso opositor do regime.
Na reação à execução de um poderoso líder xiita, figura central na contestação ao regime de Riade, o Irão deixa o alerta: "O governo saudita (...) utiliza a linguagem da repressão e da pena de morte contra os seus opositores internos e vai pagar um preço elevado por estas políticas", disse Hossein Ansari Jaber, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, citado pela agência de notícias IRNA.
As declarações de Ansari Jaber surgem na sequência do anúncio da execução, na Arábia Saudita, de 47 pessoas condenadas por terrorismo. Entre os primeiros executados pelo regime wahhabi em 2016, estava Nimr Baqir al-Nimr, alta figura na contestação contra o regime saudita. A Arábia Saudita executou este sábado 47 homens acusados de terrorismo. A grande maioria, 45 prisioneiros, eram de origem saudita e tinham ligações à al-Qaeda.
Em declarações à agência France-Presse, o irmão do líder xiita também já reagiu à sua morte, advertindo que esta ação poderá desencadear uma reação de "ira dos jovens xiitas na Arábia Saudita". Ainda assim, Mohammed al-Nimr apelou à calm e disse esperar que o movimento de protesto seja "pacífico".
Berlim também se juntou às vozes apreensivas perante esta ação dos líderes religiosos na Arábia Saudita. Um porta-voz do Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros referia este sábado que "a execução de Nimr al-Nimr reforça as nossas preocupações já existentes quanto às cisões aprofundadas na região".Relações com Bagdade em risco
O Hezbollah, movimento xiita com origem no Líbano, classifica esta execução como "um assassinato" e que o sheik apenas foi executado por "defender os direitos de um povo oprimido".Também do Iraque chegam críticas a esta ação decidida pelos líderes sauditas, que poderá comprometer a reaproximação entre os dois países ao longo dos últimos meses. Moqtada al-Sadr, um influente clérigo iraquiano, apela ao Governo de Badgade que volte a encerrar a embaixada iraquiana em Riade.
Precisamente esta semana, o Iraque voltou a ter representação diplomática na Arábia Saudita. A Embaixada neste país estava encerrada desde 1990, aquando da invasão do Kuwait.
Nuri al-Maliki, antigo primeiro-ministro do Iraque, considerou a execução de Nimr "um crime contra um mártir".
O dignitário religioso xiita Nimr Bager al-Nimr, um acérrimo crítico do regime saudita, foi condenado à morte em outubro de 2014 por rebelião, "desobediência ao soberano" e "porte de armas".
O dirigente religioso tinha 56 anos e esteve na liderança dos protestos da população xiita em 2011 e 2012 no leste da Arábia Saudita, onde são maioritários, num país em que predomina o islamismo sunita, praticado por 85% dos 30 milhões de habitantes.
(c/ Lusa)