Secas e ondas de calor reduzem produtividade agrícola

por Lusa

Paris, 07 jan (Lusa) -- Secas e ondas de calor reduziram as colheitas em 10% desde 1964 até 2007, com perdas mais acentuadas nas últimas décadas e nas economias mais ricas, segundo um estudo divulgado hoje.

A primeira apreciação global sobre a forma como os eventos extremos climáticos afetam a produção de grão é divulgada quando os cientistas do clima preveem um aquecimento mais severo e frequente nos próximos 50 anos.

Ao mesmo tempo, outras investigações mostram que a produção alimentar deve precisar de duplicar até 2050 para sustentar uma população de mais de nove mil milhões de pessoas.

O estudo "ilustra os importantes efeitos históricos dos eventos climáticos extremos na agricultura", apontam os autores no estudo publicado pela revista Nature.

No documento também "se enfatiza a urgência com que o sistema da produção cerealífera mundial tem de adaptar aos extremos num clima em mudança".

Três investigadores, liderados por Corey Lesk, da Universidade de McGill, em Montreal, Canadá, estudaram informação relativa a cerca de três mil ondas de calor, secas e inundações, verificadas em 177 países.

Com produções médias como referência, os cientistas analisaram a forma como os eventos climáticos extremos afetaram a produção de 16 cereais, incluindo trigo, milho e arroz.

"Até agora, desconhecíamos exatamente quanta produção tinha sido perdida", afirmou o co-autor Navin Ramankutty, também de McGill.

Durante o período de 43 anos considerado, a estimativa de perdas de grão por ondas de calor foi quantificada em 1,2 mil milhões de toneladas, e por secas em 1,8 mil milhões de toneladas -- quantidades equivalentes à produção de trigo e milho em 2013.

Como esperado, o impacto das ondas de calor foi mais curto do que o das secas, que por vezes se estendeu por mais do que uma época de colheitas.

As perdas ao longo do período 1985 -- 2007 foram superiores, com uma média de 14%, levantando a questão da maior influência das alterações climáticas.

Os autores apontaram também para a possibilidade do aumento de um grau Celsius na temperatura pode reduzir as colheitas entre seis a sete por cento em algumas regiões.

Mas as perdas adicionais de colheitas no final do século XX também se podem dever de outras causas, como a monocultura.

As ondas de calor e as secas reduziram as produções agrícolas mais fortemente (20%) nos EUA, Canadá e Europa do que no designado mundo em desenvolvimento.

Os cientistas atribuíram esta disparidade à monocultura realizada à escala industrial -- promover uma única cultura em vastas áreas de terreno.

"Se uma seca ocorrer de forma a afetar essa colheita, ela vai ser toda afetada", Lesk afirmou, em comunicado.

"Pelo contrário, em muito do mundo em desenvolvimento, o sistema de cultura é uma mistura de pequenos campos com várias sementeiras. Se a seca se manifesta, algumas das cultura podem ser afetadas, mas outras sobrevivem", comparou.

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