É uma das grandes entrevistas do ano, dois dias antes de um encontro do G20 na China, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, à Bloomberg. Durante duas horas, em Vladivostok, durante o Fórum da Economia do Leste, Putin revelou o que pensa sobre um eventual acordo entre os países produtores de petróleo para sustentar o preço do barril, até aos planos de privatizações russas e as relações com a China e o Japão.
A crise do sector petrolífero, devido à queda do preço do crude a quase metade do registado há apenas dois anos, foi um dos grandes temas da entrevista.
O impacto da queda do preço do petróleo tem sido severo nas economias dos países produtores de petróleo, nomeadamente a russa - cuja economia depende em 40 por cento do crude - e as dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), responsáveis ambos por metade da produção petrolífera mundial.
Putin tem defendido um acordo para congelar a produção mundial, o qual esteve prestes a ser firmado em Doha, em abril, entre os países produtores. O acordo fracassou à ultima hora, quando a Arábia Saudita mudou de ideias e afirmou que este deveria incluir o Irão, contrariando Moscovo, que pretende manter o país isento do congelamento.O Irão saiu em janeiro deste ano do isolamento internacional a que tinha sido sujeito devido ao seu programa nuclear e pretende duplicar a sua produção. Dentro do acordo proposto por Putin, que deverá ser de novo abordado na reunião dos países produtores de petróleo na Argélia em setembro, o Irão seria o único país isento do congelamento produtivo.
"Gostaria muito de esperar que cada participante neste mercado, que esteja interessado em manter os preços globalmente justos e estáveis, tome no final a decisão necessária", afirmou Putin, que admite abordar a questão com o vice-príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, durante o G20.
Mohammed Bin Salman foi quem mudou de ideias em abril mas Putin considera-o um "parceiro confiável, com quem se pode chegar a acordos e ficar certo que estes acordos serão honrados".
A possibilidade de um acordo entre a OPEP e os outros países não membros para congelar a produção fez mesmo os preços do barril subirem 10 por cento em agosto.
O ministro russo da Energia, Alexander Novak, que liderou secretamente as negociações para o acordo em abril, disse esta quinta-feira 1 de setembro que, dada a recente subida do crude o acordo talvez não seja necessário.
"Do ponto de vista do bom senso e da lógica económicos, o mais correto seria estabelecer um compromisso", afirmou no entanto Putin. "Estou confiante que todos percebem isso. Acredito que esta é a decisão certa para a energia mundial".
O caso Bashneft
Sobre a Economia russa , o Presidente russo afirmou ter reservas suficientes para preservar e estabilidade e afastou a necessidade de empréstimos externos.
"Não precisamos disso agora", afirmou. "É simplesmente insensato, dado o custo dos empréstimos". Putin também não pretende alterar o regime de câmbio flutuante aplicado ao rublo desde 2014. Mas o Presidente admite vender este ano a produtora petrolífera estatal Bashneft, para equilibrar as contas públicas.
A Rosneft, outra gigante petrolífera detida pelo Estado russo, já demonstrou interesse em adquirir a Bashneft. A possibilidade de uma companhia estatal adquirir outra companhia estatal não parece a Putin melhor opção, mas o Presidente sublinhou que a chave da questão é quem traz mais dinheiro ao Orçamento do Estado.
"Rosneft, em termos restritos, não é uma companhia estatal. Não podemos esquecer-nos que é em parte detida pela BP, uma empresa britânica", lembrou.
Pirataria informática e campanha presidencial
As eleições norte-americanas e as acusações de interferência russa no resultado foram outro tema da entrevista à Bloomberg. Putin refutou todas as acusações e mostrou-se mesmo desinteressado na política "doméstica" dos Estados Unidos.
Sobre o ataque informático aos servidores do Partido Democrata norte-americano, Putin garantiu não saber de nada, afirmando que os responsáveis não agiram sob ordens do seu Governo. O que interessa é que a informação tenha sido revelada considerou Putin.
"Importa sequer quem pirateou estes dados?" perguntou. "O importante é que o conteúdo tenha sido tornado público", referiu o Presidente. "Não há necessidade de distrair a atenção do público da essência do problema ao levantar questões menores ligadas à investigação sobre quem o fez", acrescentou.
"Mas quero repetir, não sei nada sobre isso e a Rússia não é responsável a nível estatal", garantiu o Presidente russo.O grupo de ativistas Wikileaks divulgou em julho uma série de e-mails que indiciavam manobras internas no Partido Democrata a favor de Hillary Clinton em relação ao candidato Bernie Sanders. O escândalo levou à demissão da presidente do Partido.
A rede informática da campanha de Clinton e o comité de angariação de donativos do Partido Democrata para a Câmara de Representantes também foram pirateados.
A candidata democrata apontou o dedo à Rússia, que acusa de apoiar o seu rival, Donald Trump. E Barack Obama, o Presidente norte-americano, já prometeu abordar a questão com Putin durante o G20, sem contudo admitir que o incidente possa por em causa as relações entre os dois países.
Esta semana, o FBI afirmou que "leva muito sério" a possibilidade de algum poder externo estar a tentar influenciar a votação nas presidenciais norte-americanas, sem apontar o dedo a nenhum suspeito. Outros ataques ligados aparentemente à mafia russa estão também sob investigação.
Clinton afirmou mesmo que foram os serviços secretos russos os responsáveis pelo ataque informático ao seu partido e alguns responsáveis democratas insinuaram que Moscovo está a tentar influenciar as eleições norte-americanas.
Críticas à campanha americana
Putin desdenhou as alegações. "Para fazer isso é necessário sentir o pulso e perceber as especificidades da vida política interna dos Estados Unidos", reagiu à Bloomberg. "Não tenho a certeza que isso seja uma preocupação relevante até para os nossos especialistas do Ministério dos Negócios Estrangeiros".
Putin recusou tomar partido publicamente na corrida, apesar de ser acusado de favorecer secretamente Donald Trump, especialmente depois de ter sido elogiado pelo candidato republicano e atacado por Clinton. Tanto democratas como republicanos se têm acusado mutuamente de ligações às empresas estatais e oligarquias russas, incluindo a Vladimir Putin.
O líder russo reagiu com críticas severas a ambas as candidaturas classificando o uso do "trunfo anti-Rússia" como uma jogada de vistas curtas.
"Estão ambos a usar táticas de choque cada um à sua maneira", analisou. "Não me parece que estejam a dar o melhor exemplo". Mas referiu-se aos candidatos como "pessoas muito inteligentes", que "percebem quais os botões que é necessário premir" para conseguir apoio. Os ataques resultantes, afirmou, dazem parte da "cultura política norte-americana", refere a Bloomberg.
O Presidente russo afirma ainda que irá trabalhar com o vencedor da corrida, seja ele qual for, sem mostrar entusiamo por qualquer deles, diz a agência.
Japão, Síria e gás natural
Quanto à disputa de ilhas com o Japão, Putin está confiante que será possível uma solução diplomática que aproxime ambos os países. Mas afirmou que seria pouco provável encontrar esse acordo no encontro com o primeiro ministro japonês Shinzo Abe, à margem do Fórum da Economia de Leste, esta sexa-feira.
O Presidente russo admitiu ainda que pode "estar próximo" um acordo com os Estados Unidos quanto à cooperação na Síria. "Avançamos pouco a pouco na boa direcção e não excluo que possamos chegar a acordo sobre quelaquer coisa em breve e anunciá-lo à comunidade internacional", afirmou Putin.
Sobre a exportação de gás natural, o Presidente afirmou que é possível tembém aumentar o fornecimento de gás natural à União Europeia mas que isso iria depender de decisões da Comissão Europeia.
Vladimir Putin acredita ainda que o projeto de um gasoduto turco, suspenso devido a um esfriamento nas relações entre os dois países durante parte de 2016, será eventualmente implementado. "Pelo menos a primeira parte, relacionada com a expsansão das capacidades de transporte e o aumento do fornecimento aos mercado turcos".
O impacto da queda do preço do petróleo tem sido severo nas economias dos países produtores de petróleo, nomeadamente a russa - cuja economia depende em 40 por cento do crude - e as dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), responsáveis ambos por metade da produção petrolífera mundial.
Putin tem defendido um acordo para congelar a produção mundial, o qual esteve prestes a ser firmado em Doha, em abril, entre os países produtores. O acordo fracassou à ultima hora, quando a Arábia Saudita mudou de ideias e afirmou que este deveria incluir o Irão, contrariando Moscovo, que pretende manter o país isento do congelamento.O Irão saiu em janeiro deste ano do isolamento internacional a que tinha sido sujeito devido ao seu programa nuclear e pretende duplicar a sua produção. Dentro do acordo proposto por Putin, que deverá ser de novo abordado na reunião dos países produtores de petróleo na Argélia em setembro, o Irão seria o único país isento do congelamento produtivo.
"Gostaria muito de esperar que cada participante neste mercado, que esteja interessado em manter os preços globalmente justos e estáveis, tome no final a decisão necessária", afirmou Putin, que admite abordar a questão com o vice-príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, durante o G20.
Mohammed Bin Salman foi quem mudou de ideias em abril mas Putin considera-o um "parceiro confiável, com quem se pode chegar a acordos e ficar certo que estes acordos serão honrados".
A possibilidade de um acordo entre a OPEP e os outros países não membros para congelar a produção fez mesmo os preços do barril subirem 10 por cento em agosto.
O ministro russo da Energia, Alexander Novak, que liderou secretamente as negociações para o acordo em abril, disse esta quinta-feira 1 de setembro que, dada a recente subida do crude o acordo talvez não seja necessário.
"Do ponto de vista do bom senso e da lógica económicos, o mais correto seria estabelecer um compromisso", afirmou no entanto Putin. "Estou confiante que todos percebem isso. Acredito que esta é a decisão certa para a energia mundial".
O caso Bashneft
Sobre a Economia russa , o Presidente russo afirmou ter reservas suficientes para preservar e estabilidade e afastou a necessidade de empréstimos externos.
"Não precisamos disso agora", afirmou. "É simplesmente insensato, dado o custo dos empréstimos". Putin também não pretende alterar o regime de câmbio flutuante aplicado ao rublo desde 2014. Mas o Presidente admite vender este ano a produtora petrolífera estatal Bashneft, para equilibrar as contas públicas.
A Rosneft, outra gigante petrolífera detida pelo Estado russo, já demonstrou interesse em adquirir a Bashneft. A possibilidade de uma companhia estatal adquirir outra companhia estatal não parece a Putin melhor opção, mas o Presidente sublinhou que a chave da questão é quem traz mais dinheiro ao Orçamento do Estado.
"Rosneft, em termos restritos, não é uma companhia estatal. Não podemos esquecer-nos que é em parte detida pela BP, uma empresa britânica", lembrou.
Pirataria informática e campanha presidencial
As eleições norte-americanas e as acusações de interferência russa no resultado foram outro tema da entrevista à Bloomberg. Putin refutou todas as acusações e mostrou-se mesmo desinteressado na política "doméstica" dos Estados Unidos.
Sobre o ataque informático aos servidores do Partido Democrata norte-americano, Putin garantiu não saber de nada, afirmando que os responsáveis não agiram sob ordens do seu Governo. O que interessa é que a informação tenha sido revelada considerou Putin.
"Importa sequer quem pirateou estes dados?" perguntou. "O importante é que o conteúdo tenha sido tornado público", referiu o Presidente. "Não há necessidade de distrair a atenção do público da essência do problema ao levantar questões menores ligadas à investigação sobre quem o fez", acrescentou.
"Mas quero repetir, não sei nada sobre isso e a Rússia não é responsável a nível estatal", garantiu o Presidente russo.O grupo de ativistas Wikileaks divulgou em julho uma série de e-mails que indiciavam manobras internas no Partido Democrata a favor de Hillary Clinton em relação ao candidato Bernie Sanders. O escândalo levou à demissão da presidente do Partido.
A rede informática da campanha de Clinton e o comité de angariação de donativos do Partido Democrata para a Câmara de Representantes também foram pirateados.
A candidata democrata apontou o dedo à Rússia, que acusa de apoiar o seu rival, Donald Trump. E Barack Obama, o Presidente norte-americano, já prometeu abordar a questão com Putin durante o G20, sem contudo admitir que o incidente possa por em causa as relações entre os dois países.
Esta semana, o FBI afirmou que "leva muito sério" a possibilidade de algum poder externo estar a tentar influenciar a votação nas presidenciais norte-americanas, sem apontar o dedo a nenhum suspeito. Outros ataques ligados aparentemente à mafia russa estão também sob investigação.
Clinton afirmou mesmo que foram os serviços secretos russos os responsáveis pelo ataque informático ao seu partido e alguns responsáveis democratas insinuaram que Moscovo está a tentar influenciar as eleições norte-americanas.
Críticas à campanha americana
Putin desdenhou as alegações. "Para fazer isso é necessário sentir o pulso e perceber as especificidades da vida política interna dos Estados Unidos", reagiu à Bloomberg. "Não tenho a certeza que isso seja uma preocupação relevante até para os nossos especialistas do Ministério dos Negócios Estrangeiros".
Putin recusou tomar partido publicamente na corrida, apesar de ser acusado de favorecer secretamente Donald Trump, especialmente depois de ter sido elogiado pelo candidato republicano e atacado por Clinton. Tanto democratas como republicanos se têm acusado mutuamente de ligações às empresas estatais e oligarquias russas, incluindo a Vladimir Putin.
O líder russo reagiu com críticas severas a ambas as candidaturas classificando o uso do "trunfo anti-Rússia" como uma jogada de vistas curtas.
"Estão ambos a usar táticas de choque cada um à sua maneira", analisou. "Não me parece que estejam a dar o melhor exemplo". Mas referiu-se aos candidatos como "pessoas muito inteligentes", que "percebem quais os botões que é necessário premir" para conseguir apoio. Os ataques resultantes, afirmou, dazem parte da "cultura política norte-americana", refere a Bloomberg.
O Presidente russo afirma ainda que irá trabalhar com o vencedor da corrida, seja ele qual for, sem mostrar entusiamo por qualquer deles, diz a agência.
Japão, Síria e gás natural
Quanto à disputa de ilhas com o Japão, Putin está confiante que será possível uma solução diplomática que aproxime ambos os países. Mas afirmou que seria pouco provável encontrar esse acordo no encontro com o primeiro ministro japonês Shinzo Abe, à margem do Fórum da Economia de Leste, esta sexa-feira.
O Presidente russo admitiu ainda que pode "estar próximo" um acordo com os Estados Unidos quanto à cooperação na Síria. "Avançamos pouco a pouco na boa direcção e não excluo que possamos chegar a acordo sobre quelaquer coisa em breve e anunciá-lo à comunidade internacional", afirmou Putin.
Sobre a exportação de gás natural, o Presidente afirmou que é possível tembém aumentar o fornecimento de gás natural à União Europeia mas que isso iria depender de decisões da Comissão Europeia.
Vladimir Putin acredita ainda que o projeto de um gasoduto turco, suspenso devido a um esfriamento nas relações entre os dois países durante parte de 2016, será eventualmente implementado. "Pelo menos a primeira parte, relacionada com a expsansão das capacidades de transporte e o aumento do fornecimento aos mercado turcos".