Maputo, 02 jul (Lusa) - Mais de cem pessoas marcharam hoje em Maputo contra a perseguição de indivíduos com albinismo em Moçambique, exigindo a responsabilização dos autores deste tipo de crime.
A marcha, convocada pelo Ministério da Saúde em coordenação com associações de portadores de albinismo e de medicina tradicional, iniciou-se cerca das 7:30, quando dezenas de pessoas se reuniram em frente da estátua de Eduardo Mondlane, fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, numa das principais avenidas de Maputo, num protesto replicado em todo o país.
Entoando hinos contra à estigmatização e empunhando cartazes com mensagens de repúdio à violência contra albinos, os manifestantes percorreram perto de dois quilómetros, numa marcha que desaguou na praça da Paz, onde foram proferidas mensagens e apelos para o fim da perseguição a pessoas com albinismo em Moçambique.
"Este é um fenómeno novo no nosso país ", lamentou, durante a sua intervenção, o vice-ministro moçambicano da Saúde, Mouzinho Saíde, apontando a responsabilização criminal e a sensibilização das comunidades como elementos basilares no combate a este tipo de crime.
O obscurantismo e a ignorância são apontados como as principais causas da perseguição a albinos em Moçambique e, em alguns países do continente africano, há pessoas que acreditam que podem enriquecer após passarem por ritos em que são usados órgãos de pessoas com albinismo.
De acordo com Felisbela Gaspar, diretora do Instituto de Medicina Tradicional, o uso de órgãos humanos em ritos não faz parte do currículo desta disciplina em Moçambique.
"São atos importados", referiu a diretora, observando, no entanto, que em Moçambique "pessoas de má-fé começam a usar a capa dos médicos tradicionais para justificar estas atrocidades".
Em 2015, segundo dados apresentados recentemente pela Procuradoria-Geral da República (PGR), 13 pessoas albinas morreram e outras 51 foram atacadas.
A província de Nampula, norte do país, foi a que registou mais casos de ataques a pessoas albinas, 29 vítimas, incluindo mortes, seguida de Zambézia, com sete, e de Cabo Delgado, com cinco.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) de Moçambique defende que o recurso a medidas punitivas contra os ataques a albinos não será suficiente para travar o problema, considerando que é necessária a aplicação de ações preventivas.
As manifestações contra a perseguição de pessoas com albinismo acontecem em todas as províncias do país, juntando estudantes, funcionários do Ministério da Saúde e organizações da sociedade civil.
Um relatório independente publicado em março por Ikponwosa Ero, especialista sobre os direitos das pessoas com albinismo, aponta Moçambique na lista dos sete países com mais crimes registados contra estas pessoas em África e revela a existência de um "mercado lucrativo e macabro" no continente, onde se chegam a pagar dois mil dólares (1,8 mil euros) por um membro ou 75 mil dólares (67 mil euros) pelo "conjunto completo".