A aposta na língua portuguesa em Timor-Leste é "estratégica" e requer um esforço coletivo e uma política "acertada, clara e objetiva" que a consolide como elemento da soberania nacional, disse hoje o reitor da maior universidade timorense.
"A aposta na língua portuguesa é estratégica. Não basta que o português seja determinado como língua oficial na lei. Só a vontade e o esforço coletivos permitirão uma política de língua acertada, clara e objetiva que permita defender e consolidar a soberania do nosso país", disse Francisco Miguel Martins, reitor da Universidade Nacional de Timor Lorosa`e (UNTL).
Intervindo na abertura das primeiras Jornadas Pedagógicas da UNTL, o reitor considerou que os debates que decorrem esta semana representam "um marco na consolidação da UNTL enquanto instituição de ensino superior que aposta na produção e disseminação de conhecimento em língua portuguesa".
"Analisar e debater experiências e saberes sobre o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa em Timor-Leste é um propósito que deve mobilizar o interesse não apenas da nossa comunidade académica, mas também o da comunidade em geral, considerando a pertinência desta temática para a consolidação da nossa identidade nacional e para o nosso próprio desenvolvimento enquanto Estado independente", frisou.
Francisco Martins destacou o que disse ser o "papel fundamental" da língua portuguesa "na construção e posterior sobrevivência da (...) identidade nacional" timorense, tendo sido "língua de resistência" e posteriormente adotada constitucionalmente como língua oficial.
"Continua a ser um dos elementos que nos diferencia dos países da região, que nos torna únicos e nos permite afirmar como tal", disse.
"Mas a língua portuguesa não é uma língua só de passado e presente. É uma língua de futuro, uma língua que nos abre ao mundo", sublinhou, recordando que a língua "não é um instrumento neutro" mas sim "uma construção social à qual se associa uma carga afetiva e cultural".
O reitor explicou que as Jornadas Pedagógicas da UNTL se baseiam num dos pilares definidos pela UNESCO (agência das Nações Unidas para a Educação e Cultura) para a educação para o século XXI - "aprender a fazer" -, permitindo aos alunos desenvolver a sua capacidade de comunicar num "contexto real para o uso da língua portuguesa".
As jornadas, destacou, nascem como um esforço conjunto dos alunos e das professoras portuguesas Clara Amorim e Susana Soares, do Centro de Língua Portuguesa da UNTL, e abrangem um leque amplo de temas de debate.
"Pretendem ser, simultaneamente, um espaço de aprendizagem prática para os alunos ativamente envolvidos na sua realização, assim como de divulgação de trabalhos realizados no âmbito da licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa", sublinhou.
Linguística, literatura, política de língua e as dificuldades do ensino do português em Timor-Leste são alguns dos temas em debate nas Jornadas Pedagógicas, que decorrem na Faculdade de Educação, Artes e Humanidades da UNTL.
Estão ainda previstos debates sobre política de língua ou o papel da mulher timorense na educação.