Ordem para trabalhar dois dias por semana na Venezuela

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Marco Bello - Reuters

A medida de emergência foi anunciada pelo Governo venezuelano. Os funcionários públicos passam a trabalhar apenas dois dias na semana para tentar contornar a grave crise energética no país provocada pela seca extrema.

“A partir de amanhã serão decretados como dias não laborais quarta, quinta e sexta-feira para contribuir para a poupança de energia”. O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo Presidente Nicolás Maduro, com uma ressalva para os serviços públicos essenciais.

Trata-se do alargamento de uma medida já aplicada. Os quase três milhões de funcionários públicos venezuelanos já estavam sem trabalhar às sextas-feiras. Os salários continuarão a ser pagos na íntegra.

Esta é uma das medidas de uma já longa lista implementada para fazer face ao que as autoridades chamam “verdadeira emergência ambiental”. O Governo já criou inclusivamente uma comissão presidencial especial para fazer face à crise elétrica.

A oposição critica a medida. Considera que serve de pouco, já que os funcionários públicos irão gastar energia nas suas casas.

O problema? Dois anos de seca extrema, em resultado do fenómeno El Niño, levaram a que baixassem dramaticamente os caudais dos rios de um país que depende em 70 por cento da produção das centrais hidroelétricas. Esta será a mais grave seca no país dos últimos 40 anos. Só esta central fornece energia para dois terços das necessidades da Venezuela.

O principal reservatório de água na Venezuela é El Guri, onde se encontra a principal central hidroelétrica do país. O nível de água está muito perto da área de colapso, revelou o ministro da Energia Elétrica, Luis Motta Domínguez.

As medidas de poupança de energia servem para preservar ao máximo o nível de água nesta bacia.

“O Guri transformou-se virtualmente num deserto. Com todas as medidas, vamos salvá-lo”, garantiu o Presidente. As autoridades dizem que, com as medidas já implementadas, foi possível diminuir a baixa diária do nível de águas no El Guri de 22 para dez centímetros.

Entre as medidas anteriores estão, por exemplo, a diminuição do horário de funcionamento dos centros comerciais ou a mudança de meia hora nos relógios para reduzir o uso de energia ao início da noite. Na semana passada, o Governo anunciou a introdução de cortes de energia de quatro horas por dia que vão vigorar pelo menos 40 dias.

Sinal de "proibido nadar e pescar", numa zona antes submersa do Guri
Sinal de "proibido nadar e pescar" numa zona antes submersa do Guri (Reuters)


Os problemas energéticos juntam-se a um rol de dificuldades na Venezuela: uma brutal recessão, falta de produtos básicos, desde leite a medicamentos, ou aumento de preços.

As autoridades apontam o fenómeno meteorológico El Niño como o responsável pela crise energética. No entanto, os críticos acusam o Governo de investimento inadequado, corrupção, ineficácia e falhanço na diversificação de fontes de energia no país.

Vários países têm sido afetados por El Niño. No entanto, a Venezuela é o país que regista o mais elevado nível de consumo doméstico de energia.

“Pedimos ajuda internacional, apoio técnico e financeiro para reverter a situação”, disse Nicolás Maduro. “Estamos a gerir a situação da melhor maneira que podemos, enquanto esperamos que a chuva regresse”, enfatizou o Presidente.

“Maduro diz que o Governo não vai parar de trabalhar um segundo. Claro, exceto nas quartas, quintas, sextas, sábado e domingo”, satirizou Leonardo Padron, um colunista do jornal pró-oposição El Nacional, em referência à medida agora anunciada de redução da semana de trabalho dos funcionários públicos.

c/ agências
Tópicos
PUB