Medidas extraordinárias de segurança na tomada de posse de George W.Bush

por Agência LUSA

A capital americana entra quarta-feira à tarde em verdadeiro estado de sítio para garantir a segurança de dezenas de milhar de pessoas que no dia seguinte assistem à cerimónia e festividades da tomada de posse do Presidente Bush.

Há semanas que destacadas entidades policiais e dos diversos serviços de segurança norte-americanos planeiam a segurança das cerimónias que vão transformar Washington num verdadeiro labirinto:

vedações, enormes obstáculos de cimento, restrições ao tráfego automóvel em mais de 100 quarteirões, postos de controlo para peões e mesmo aparelhos para detectar possíveis ataques com armas químicas biológicas ou radioactivas.

Mais de seis mil agentes da polícia, incluindo atiradores colocados nos telhados de diversos edifícios, foram mobilizados ao mesmo tempo que as autoridades alargavam a zona de exclusão aérea sobre a capital.

No centro da cidade, um edifício governamental foi inteiramente usado nas últimas semanas para planear a segurança e na quinta-feira um centro de coordenação das diversas forças de segurança vai estar a funcionar nos arredores de Washington.

Enquanto isso, as autoridades municipais emitiram um aviso aos trabalhadores e residentes de Washington: "A partir de quarta-feira não se desloquem ao centro da cidade".

As cerimónias de tomada de posse são uma tradição histórica e os festejos prolongam-se pela noite fora com uma dezena de bailes de gala que contarão brevemente com a presença do Presidente.

Os festejos vão custar 40 milhões de dólares (31 milhões de euros), custos que não incluem os gastos com a segurança que, segundo estimativas, deverão rondar os 17 milhões de dólares.

Os custos das festividades vão ser financiados por doadores privados e, de acordo com o comité encarregue de organizar os festejos, esse valor deve ser recolhido até ao próximo fim-de-semana.

No fim da semana passada, o comité já tinha angariado 25,5 milhões de dólares em doações de empresas e indivíduos, que variaram entre os 25.000 e os 250.000 dólares.

Entre as companhias que doaram 250.000 dólares contam-se as petrolíferas Chevron/Texaco e a Exxon/Mobil, a gigante farmacêutica Pfizer, a Ford, a companhia de cinema Time/Warner e as cadeias de hotéis Marriot e Ritz-Carlton.

Os custos e exuberância dos festejos estão, entretanto, a provocar críticas por alguns congressistas e activistas políticos, que Bush nega que sejam excessivos.

O congressista do Partido Democrático Anthony Weiner enviou uma carta a George W. Bush na semana passada sugerindo que os fundos fossem gastos com as tropas no Iraque.

"O precedente histórico sugere que as festividades deveriam ser modestas ou mesmo canceladas em tempo de guerra", escreveu Weiner numa alusão ao facto de o Presidente Woodrow Wilson, em 1917, e Franklin Roosevelt, em 1945, terem cancelado todos os festejos devido à guerra.

Também Shahid Buttar, organizador de manifestações anti-Bush para o dia da tomada de posse, considerou que "gastar 40 milhões de dólares em tempo de guerra é errado".

Buttar criticou ainda os custos de entrada nos bailes de gala, afirmando que reflectem "a política de Bush": "se uma pessoa não tem dinheiro, Bush não tem tempo para a aturar".

As críticas foram pessoalmente rejeitadas pelo Presidente que disse numa entrevista a uma cadeia de televisão ser "importante celebrar a transferência pacífica do poder".

"Podemos estar ao mesmo tempo com as nossas forças no Iraque e com quem sofreu os maremotos se celebrarmos a democracia", disse.

O seu porta-voz Scott McClellan afirmou também que os festejos "são uma grande tradição americana" em que "se celebra não só a liberdade, mas também se presta homenagem aos homens e mulheres em uniforme".

Grupos que estão a organizar manifestações acusam, entretanto, as autoridades de usar as medidas de segurança para impedir o acesso dos manifestantes ao caminho a percorrer pelo Presidente após a tomada de posse.

Carl Messineo, da organização anti-guerra ANSWER, disse que as autoridades tencionam impedir grupos de manifestantes de fazerem uso das bancadas que vão ser levantadas ao longo da Avenida da Pensilvânia, no centro de Washington, dando preferência a convidados do Partido Republicano.

"O que o público vai ver nesse trajecto é o traseiro dos republicanos ricos", ironizou Messineio, acusando o governo de querer "privatizar a Avenida da Pensilvânia".

As entidades oficiais contrapõem que ao longo do caminho há lugares de acesso livre e que nas bancadas há espaço para 10.000 manifestantes. Mas, Messineo insiste que os manifestantes vão ser "encurralados" bem longe da principal zona de passagem presidencial.

Em 2001, quando Bush tomou posse pela primeira vez cerca de 100.000 pessoas manifestaram-se contra o Presidente que tomava posse após as mais controversas eleições de sempre. Este ano, as autoridades afirmam que o número de manifestantes será bastante menor.

A unidade do povo norte-americano será, aliás, um dos aspectos centrais do discurso de George W. Bush, conforme adiantou o próprio.

"Tenho a responsabilidade de tentar unir este país, para conseguir grandes resultados para todos os norte-americanos. Direi isso no meu discurso de tomada de posse", afirmou numa das entrevistas que concedeu às principais cadeias de televisão norte-americanas.

Bush disse ainda que tem "uma agenda ampla em mente" para o seu segundo mandato, reconhecendo: "Devemos continuar a trabalhar e conseguir alguns resultados, antes que as pessoas se sintam decepcionadas".

Neste contexto, manifestou o desejo de que republicanos e democratas possam colaborar no Congresso para levar por diante as suas propostas legislativas.

Embora os pormenores da agenda só devam ser conhecidos dentro de duas semanas, quando pronunciar o discurso sobre o Estado da Nação, George W. Bush avançou que as prioridades reflectirão as suas promessas de campanha, de que se destacaram a reforma da segurança social, do sistema fiscal e da extensão do sistema de saúde a mais cidadãos.

Em matéria de política externa, lembrou sobre o Iraque:

"realizar as eleições é uma vitória para os que, como nós, amam a liberdade".

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