Matteo Renzi apresenta demissão após derrota no referendo italiano

por Andreia Martins - RTP
O primeiro-ministro assumiu "total responsabilidade" pela derrota Tony Gentile - Reuters

O primeiro-ministro italiano anunciou no domingo que vai apresentar o pedido de demissão ao Presidente, Sergio Mattarella, depois da vitória do não no referendo às reformas constitucionais. A oposição exige a antecipação de eleições.

"A minha experiência como chefe do Governo termina aqui", anunciou na última noite o primeiro-ministro italiano, depois de conhecidas as primeiras projeções, a apontar para a vitória clara do não no referendo sobre as reformas constitucionais propostas pelo Executivo.Cerca de 70 por cento dos eleitores italianos votaram no referendo, uma participação excecionalmente alta em Itália.

Numa declaração em direto a partir do Palácio Chigi, em Roma, Matteo Renzi reconheceu que o não venceu de forma "totalmente clara" e deve agora apresentar alternativas às reformas constitucionais propostas neste referendo.

Matteo Renzi disse assumir "total responsabilidade pela derrota", que segundo as últimas projeções poderá chegar aos 20 por cento de diferença: o campo do não alcançou 59,1 por cento de votos e o sim, defendido pelo primeiro-ministro, conseguiu apenas 40,9 por cento.

Entre outras alterações, Renzi propunha o fim do sistema de "bicameralismo perfeito" no sistema político italiano e a redução do número de Senadores de 315 para 100.

No entanto, o primeiro-ministro italiano fez deste referendo um voto de confiança à própria liderança e prometeu demitir-se caso as suas propostas fossem rejeitadas. Esta noite, pouco depois de conhecidas as primeiras projeções, Matteo Renzi cumpria o que tinha prometido. 

"Queria eliminar as muitas cadeiras do Senado, no entanto a cadeira que salta é a minha", disse o governante.

Os mercados reagiram de imediato às primeiras sondagens, com o euro a cair imediatamente face ao dólar para o valor mais baixo desde março de 2015.
O que se segue?
Em resposta a estes resultados, os partidos da oposição já tinham exigido a demissão imediata do primeiro-ministro italiano, incluindo o Forza Italia de Silvio Berlusconi e a Liga do Norte de Matteo Salvini.

De França, chegou a primeira reação internacional à situação política em Itália. Marine Le Pen já felicitou a Liga do Norte pelo resultado e escreve no Twitter que os italianos "repudiaram a União Europeia e Renzi com este voto".

"Devemos ouvir esta sede de liberdade das nações e de proteção!", acrescentou a líder da Frente Nacional.

 
Quando o pedido de demissão chegar esta segunda-feira ao palácio presidencial, os destinos da política italiana estarão nas mãos de Sergio Mattarella, que deverá optar entre encarregar o Partido Democrático (PD), o partido do chefe de Governo demissionário, de formar um executivo de gestão ou então antecipar as eleições legislativas, previstas para 2018.

O cenário mais provável é o da formação de um novo governo tecnocrático. Carlo Padoan, atual ministro das Finanças, é o favorito para substituir Matteo Renzi num Governo de transição.
Beppe Grillo exige novas eleições
O líder do Movimento Cinco Estrelas (M5S) acaba de exigir a antecipação das eleições "o mais depressa possível", depois de o primeiro-ministro ter anunciado a demissão, na sequência da derrota no referendo.Nas últimas sondagens para eleições legislativas, o Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas surgem empatados nas intenções de voto. Caso chegue ao poder, Beppe Grillo já prometeu referendar a permanência de Itália na Zona Euro.

"Deve votar-se o mais depressa possível. Os partidos farão de tudo para chegar a setembro de 2017 e receber `a pensão de ouro` (parlamentar). Não permitiremos", escreveu Beppe Grillo no seu blogue, num artigo entitulado "Viva!".

A exigência de Grillo foi divulgada logo após Matteo Renzi ter anunciado a demissão e reconhecido a derrota no referendo à reforma constitucional.

Também o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, e o deputado da Forza Italia Renato Brunetta deverão forçar o caminhos de novas eleições. Logo após as primeiras sondagens, tanto Salvini como Brunetta se apressaram a exigir a cabeça de Renzi.

"Se estes dados forem confirmados, será uma grande vitória dos cidadãos e Renzi terá que se demitir para se realizarem de imediato eleições", declarou Salvini, que apoiou o não à reforma constitucional.

"Renzi deve demitir-se", declarou Brunetta, do partido do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

Nas últimas sondagens para eleições legislativas, o Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas surgem empatados nas intenções de voto. Caso chegue ao poder, Beppe Grillo já prometeu referendar a permanência de Itália na Zona Euro.

c/ Lusa
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