Israel instaurou um inquérito interno às circunstâncias que rodeiam as mortes de nove activistas, ocorridas durante um raide de comandos a uma flotilha que rumava a Gaza com ajuda humanitária. O Estado judaico tinha-se anteriormente recusado a aceitar um inquérito das Nações Unidas ao caso, mas concordou agora em incluir dois observadores internacionais no seu inquérito doméstico.
Israel diz que as suas tropas dispararam em legitima defesa, quando foram atacados pelos ocupantes a bordo do navio. Já os activistas alegam que os soldados abriram fogo sem qualquer provocação.
A comissão de inquérito israelita foi aprovada esta segunda-feira pelo governo de Jerusalém. O painel vai ser liderado por um antigo juiz do Supremo Tribunal de 75 anos, Yaakov Tirkel. Segundo a imprensa israelita, este ex-magistrado tem fama de ser um jurista conservador, de espírito independente, que mesmo antes da sua nomeação se pronunciou publicamente contra toda a ideia de sanções.
A comissão será ainda composta pelo professor de lei internacional Shabtai Rosen, de 93 anos e pelo general na reserva Amos Horev de 86 anos.
Os dois observadores internacionais, que não terão direito a voto, serão David Trimble, antigo chefe do partido unionista do Ulster e prémio Nobel da Paz com 66 anos e Ken Watkin de 59 anos, ex-advogado geral do exército canadiano.
Segundo a imprensa israelita, lorde Trimble, um conservador protestante, participou recentemente no lançamento da iniciativa "Amigos de Israel", um grupo de personalidades internacionais que defende o direito de Israel a existir.
Direito internacional O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu explicou que esta "comissão pública independente" se destina a responder a dois imperativos: "Preservar a liberdade de acção dos nossos soldados e provar que as nossas acções foram de carácter defensivo, e por isso justificadas", no plano do direito internacional.
Netanyahu, confirmou também que os membros da comissão não seriam autorizados a interrogar directamente os militares implicados no raide, à excepção do chefe do estado-maior israelita, Gaby Ashkenazi.
Basicamente o trabalho da comissão consistirá em examinar a conformidade do raide israelita e do bloqueio marítimo de Gaza com o direito internacional.
Os trabalhos vão decorrer em paralelo com os de uma outra comissão de inquérito, esta de carácter militar, chefiada pelo general na reserva Giora Eiland e composta por uma "equipa de peritos", todos generais na reserva, que terá até 4 de Julho para apresentar as suas próprias conclusões.
A operação "Brisa Marinha" desencadeou uma profunda crise diplomática entre Israel e a Turquia e provocou a indignação da comunidade internacional.
Um porta-voz do Governo de Washigton já veio declarar que a instauração da comissão de inquérito israelita representa "um importante passo em frente ".
Já a Turquia, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Dvutoglu, manifestou opinião diversa: "Não temos qualquer confiança em que Israel, um país que levou a cabo um ataque como este a um comboio civil, em águas internacionais, vá conduzir uma investigação imparcial", declarou o responsável pela diplomacia turca.