O secretário-geral designado das Nações Unidas alerta que o problema “está a espalhar-se como um vírus” e aponta o dedo às enormes falhas do sistema internacional de proteção de refugiados. António Guterres diz mesmo que a “agenda da soberania nacional” tem prevalecido sobre “a agenda dos Direitos Humanos”.
Num debate internacional sobre a crise dos refugiados, o Vision Europe Summit, que decorreu esta terça-feira na Gulbenkian, Guterres defendeu que é crucial "restabelecer a integridade do sistema internacional de proteção" de refugiados, incluindo uma gestão de fronteiras "sensível às necessidades das pessoas".
António Guterres estranhou também que se gaste mais dinheiro a combater o tráfico de droga do que o de vidas humanas. A ausência de "mecanismos globais" só tem beneficiado traficantes e criminosos, que são hoje "corporações multinacionais", considera.
Na visão do próximo secretário-geral da ONU, as migrações "são inevitáveis" e, com elas, as sociedades serão inevitavelmente "multiétnicas, multirreligiosas e multiculturais".
A posição dos governos deve, por isso, passar por gerir a “riqueza” da diversidade e firmar um sentimento de pertença, o que implica um "forte investimento", político, económico, social, cultural, de Estados, autarquias, sociedades civis.
O secretário-geral indigitado das Nações Unidas, que ocupou durante dez anos o cargo de alto comissário para os Refugiados, destacou os riscos da mobilidade forçada, o tráfico de pessoas, e em particular o tráfico de menores.
António Guterres alertou ainda para o perigo dos governantes elegeram o populismo em detrimento dos valores e princípios.
Referindo-se aos recentes resultados de eleições e referendos, Guterres reconheceu a "grave deterioração nas opiniões públicas do mundo" sobre as migrações. "Os refugiados transformaram-se numa ameaça", lamentou.
"Se não investirmos na diversidade, seremos surpreendidos por mais dos que certos resultados eleitorais, pois os valores que temos e a segurança global serão postos em causa", alertou o secretário-geral da ONU.
c/ agências