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Fotógrafo moçambicano "ensina" refugiados a descobrir Berlim

por Lusa

Os refugiados em Berlim são desafiados a explorar a capital alemã através da fotografia num projeto de formação inovador de um fotógrafo moçambicano radicado na cidade.

"A pessoa que viveu uma realidade feia, tem a capacidade olhar para algo diferente e contar a sua história através disto. E nestas fotos vês essa vivência e esse sentimento", explicou Ismael Miquidade, em entrevista à agência Lusa em Berlim, onde reside.

O fotógrafo moçambicano colabora com a Cruz Vermelha alemã desde agosto de 2015 e, além de prestar serviços como intérprete, mostrou aos alunos do campo de refugiados as funções de uma câmara digital, com enfoque na fotografia documental, de rua e retrato.

"Eles gostaram imenso porque fomos para vários lugares de Berlim e tiveram contato com a cidade. Queria sair do campo [de refugiados], onde as questões são sempre vistos, trabalho e problemas", referiu.

Ismael Miquidade disse que este género de atividade ajuda à inclusão dos refugiados no país, uma vez que acabam por passar a maior parte do tempo no campo de Karlshorst, acrescentando que "a integração não é no campo, tem de ser feita fora".

O afegão Mohammad Reza Amirian, 30 anos, chegou à Alemanha há oito meses e foi um dos participantes no curso de fotografia.

"Eu vi outro mundo por detrás da câmara. É outro mundo, são outras pessoas e podes senti-lo através da fotografia", explicou à agência Lusa em Berlim.

No campo de acolhimento de Karlshorst, que alberga cerca de 1000 requerentes de asilo, Mohammad Reza Amirian partilha um quarto com os pais e a irmã e disse estar feliz por terem conseguido chegar à Alemanha.

"Foram dois meses de viagem, atravessamos o oceano, selva, florestas, tudo. Foi muito difícil para nós. A travessia [da Turquia para a Grécia] é curta mas rezamos o tempo todo para o barco não virar. O barco tinha 8 metros com 40 pessoas a bordo. Vi corpos no mar", relatou.

Em abril, a família Amirian muda-se para um apartamento na capital alemã, onde espera começar uma vida nova.

"Nunca percas a confiança e a esperança. Nós conseguimos. Não é fácil, gastamos muito dinheiro para chegar aqui. Tivemos de pagar 5500 euros por pessoa aos contrabandistas para atravessar da Turquia para a Grécia. Passei por muita coisa. Mas nós conseguimos, estou muito feliz", concluiu.

Os cerca de 20 participantes no curso de fotografia terão a oportunidade de exibir as melhores fotos tiradas durante as aulas, numa exposição nas instalações de um banco em Berlim durante o mês de abril.

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