A aliança foi anunciada esta segunda-feira e irá chamar-se Forças Democráticas na Síria. Inclui as YPG, as milícias curdas que têm combatido eficazmente os jihadistas no norte da Síria, e diversos grupos sírios árabes além de cristãos assírios, refere o documento hoje publicado e que atesta a formação da aliança.
O comunicado não refere explicitamente a intervenção aérea russa iniciada há 13 dias em apoio às tropas governamentais do Presidente Bashar al-Assad, as quais, apoiadas no terreno pelo Irão, lançaram entretanto uma campanha contra os rebeldes, em Idlib e em Hama.
São "desenvolvimentos" que "requerem a existência de uma força militar nacional de todos os sírios, unindo curdos, árabes, siríacos e outros grupos", explica o documento curdo.
Os grupos árabes, que operam no terreno sob o nome "Coligação Síria Árabe" e com quem o YPG já se uniu na sua campanha em Raqqa, incluem os Jaysh al-Thuwwar ("Exército dos Rebeldes") e o grupo tribal árabe Jaysh al-Sanadeed.
De acordo com a Agência Reuters, desde o início do ano as milícias das YPG - Unidades de Proteção Popular - entraram profundamente no governorato de Raqqa, dominado desde 2013 pelo Estado Islâmico.
Pararam contudo antes de atacar a capital da província, Raqqa, assumida como quartel-general e capital síria do EI, dizendo que queriam que os rebeldes árabes sírios liderassem o assalto.
Ataque a Raqqa
Deverá ser este o primeiro alvo da aliança militar hoje formada. Fontes norte-americanas confirmaram à Reuters que a Coligação Síria Árabe vai avançar sobre Raqqa, mantendo-se na margem leste do rio Eufrates.
Uma garantia que as forças curdas também irão manter-se nessa zona, pormenor que poderá sossegar a Turquia, preocupada com a influência das YPG na sua própria população curda separatista.
A união na Síria poderá ainda ser garantia aos árabes de que os curdos pretendem mais do que lutar pelo reconhecimento da sua pátria, o Curdistão.
Isso mesmo foi confirmado à Reuters por Nasir Haj Mansour, um responsável do ministério da Defesa da administração curda no território controlado pelo YPG.
"O objetivo prático atual é confrontar o Daesh", referiu Mansour, usando a sigla árabe que designa o grupo Estado Islâmico, "dado que é o primeiro inimigo". Ao telefone com a Reuters, o responsável curdo admitiu contudo que "o objetivo é também estabelecer uma Síria democrática no futuro".
"Dado que estas forças em geral são democratas e seculares que acreditam em grande medida na diversidade, esperamos que recebam o apoio" da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, referiu ainda Mansour.
Apoio americano
A expectativa não é infundada e já começou a realizar-se.
Até agora, as milícias curdas têm sido as mais eficazes aliadas terrestres dos ataques da coligação internacional contra o Estado Islâmico. E os norte-americanos desistiram na semana passada de um programa de treino de combatentes árabes sírios, devido aos custos proibitivos e fraca adesão de candidatos após uma apertada triagem.
Washington mudou de estratégia e apoia agora os grupos árabes no terreno que lhe merecem confiança.
Esta segunda-feira, um grupo tribal rebelde sírio confirmou que os Estados Unidos se preparavam para fornecer armas à aliança curdo-árabe-assíria, para o assalto a Raqqa.
"Reunimos com os americanos e isto foi aprovado e disseram-nos que estas novas armas, incluindo armamento sofisticado, estão já a caminho", disse Abu Muazz, porta-voz da Frente Revolucionária de Raqqa, que inclui diversos grupos da área de Raqqa que combatem o EI e se incluem nas Forças Democráticas Sírias.
Um porta-voz do comando das forças americanas no Médio Oriente (Centcom), confirmou depois o envio do armamento, via para-quedas e "bem conseguido".
A entrega "forneceu munições aos grupos árabes sírios cujos responsáveis foram objeto de verificações apropriadas pelos Estados Unidos", afirmou o coronel Patrick Ryder em comunicado.